2.2.05

Deus é tudo o que eu tenho (parte 1)

A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nEle.

Lm. 3. 24

A primeira coisa que se destaca neste pequeno versículo do livro de Lamentações é a expressão “diz a minha alma”. Essa é a expressão da manifestação de todo o ser. É todo o ser do profeta que está falando. A sua inteireza, a sua alma, a sua personalidade está se manifestando nessa frase. Não é apenas o intelecto, ou não são apenas palavras que estão postos nisso, mas é a vida inteira. É toda a realidade que se põe a dizer que a única porção de sua existência é o Senhor. A alma que diz está inteiramente posta naquilo que expressa.

Com isso em mente, podemos lembrar que Jeremias ficou em Jerusalém após a deportação do povo e a destruição da cidade. Apenas uns poucos, os mais pobres, foram deixados pelos exércitos babilônios para tomar conta da terra. A cidade estava destruída. O povo foi levado embora na sua maioria. E o profeta se lamentava. Ninguém tinha mais nada porque tudo está destruído: bens, sonhos, vida. É interessante observar a tradução na linguagem de hoje deste versículo: Deus é tudo o que tenho; por isso, confio nele. Ninguém tem mais nada, por isso faz todo sentido dizer que Deus é tudo que se tem!

Agostinho, no século IV, disse, em suas Confissões: “Tu o incitas para que sinta prazer em louvar-Te; fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti. (...) Mas o que estamos dizendo, meu Deus, vida da minha vida, minha divina delícia? Que consegue dizer alguém quando fala de Ti? Mas ai dos que não querem falar de Ti, pois são mudos que falam. Quem me fará descansar em Ti? Quem fará com que venhas ao meu coração e o inebries ao ponto de eu esquecer os meus males, e me abraçar a Ti, meu único bem?” Agostinho expressa com sua alma algo semelhante ao que diz Jeremias: o seu coração só encontrará descanso em Deus e o Senhor é seu único bem.

Essas almas descobriram que ter Deus como sua porção é tê-lo como único bem, apesar de qualquer coisa, inclusive dos bens materiais. A expressão “a minha porção é o Senhor” representa a fala de alguém que não tem posses, que não tem direito a heranças. Jeremias era um sacerdote. Os sacerdotes não tiveram direito a terras e bens em Israel, quando a Palestina foi dividida entre as doze tribos. Eles viveriam do Templo porque a sua única herança era o Senhor. Os sacerdotes eram pessoas sem bens pessoais. A sua porção era o Senhor. Tudo o que eles teriam seria Deus.

Isso estava mais nítido e patente com a cidade destruída. E conduz à reflexão de que Deus deve ser tudo que tenhamos, independentemente dos bens materiais.

Quando aquele jovem rico procurou Jesus o seu problema foi não conseguir abrir mão dos bens materiais por amor a Jesus. E o Senhor disse, naquele momento, com dureza, que era impossível um rico ser salvo. Mas, o que para os homens era impossível, para Deus era possível, desde que Deus seja, no fundo e na alma, tudo que o rico tenha.

Deus há de ser tudo o que você tenha, mesmo que você tenha posses, ou mesmo que estas faltem. Você não se deixará dominar pelo Deus Mamon.

Nenhum comentário: