26.5.05

Agindo no ordinário

Mas quem sabe? Talvez você tenha sido feita rainha justamente para ajudar numa situação como esta!
Ester 4. 14.

O livro de Ester é o único, em todo texto bíblico, em que não há referências explícitas a Deus, nem mesmo a citação de Seu Nome. Para alguns, isso se constitui em uma dificuldade. Na verdade, podemos tentar descobrir que implicações isso pode trazer para a nossa vida, nossa esperança e nossas expectativas.
Ester, jovem judia criada pelo primo Mordecai, se torna rainha da Pérsia. Cheia de simpatia, encantava todas as pessoas que entravam em relacionamento com ela. Inclusive o Rei Xerxes, que a faz rainha no lugar de Vasti.
Se você olha o livro superficialmente percebe uma série de acasos que vão construindo a história. Por acaso, Vasti recusa o chamado do rei para entrar na sua presença. Por acaso, o rei consulta os juristas que o aconselham, literalmente, a trocar de rainha. Por acaso, o rei manda buscar jovens belas de todo o império a fim de escolher a substituta. Por acaso, os eunucos que escolheram, entre outras, Ester, são envolvidos pela sua simpatia. A jovem, que por acaso era judia, ganha a preferência de todos. Inclusive, do próprio rei. Que a faz rainha.
Também por acaso, o rei indica Hamã, descendente de Agague, para primeiro ministro. Agague, por acaso, foi aquele rei que gerou a rejeição de Saul, séculos antes, a quem Samuel executou porque o rei não o fizera. Por acaso, dentre todos os moradores de Susã, apenas Mordecai, primo da rainha e judeu, não se curva em reverência ao primeiro ministro. Revoltado com a irreverência, Hamã decide comprar o extermínio do povo judeu. Lançando sortes, escolhe que a data do fim dos judeus será o final daquele ano que se inicia.
Muitos acasos conduzem essa história. Obviamente, aqui percebemos a primeira grande lição do livro de Ester. Não existem acasos. Por mais que não pareça, Deus tem o controle da história. Por mais que não apareça o nome dEle nos créditos, por mais que tendamos a atribuir tudo à força do acaso, é o Senhor quem tem a história nas mãos. É Ele quem guia todas as circunstâncias, quem constrói todas as histórias, quem conduz todas as vidas, quem faz todas as coincidências. Ele age no ordinário, realizando o Seu plano.
Ele faz assim com coisas grandes e coisas pequenas. Conduzindo a história de um Reino, conduzindo a nossa vida pessoal. Nas maiores e nas menores coisas. Mesmo quando somos incapazes de percebê-Lo em ação. Mesmo que não vejamos, literalmente, a assinatura dEle na obra. Dia desses, por exemplo, saí de casa para uma reunião em um lugar próximo. Sempre vou a pé para essa reunião semanal. Estava atrasado. Geralmente, tomo um caminho mais curto, mas naquele dia, mesmo atrasado, por acaso, esqueci e fui pelo caminho mais comprido. Por acaso, naquela hora, um primo passou na rua e me levou ao meu compromisso, de carro, bem mais rápido, compensando um pouco do meu atraso. Tudo porque, por acaso, esqueci de tomar o caminho de sempre. Deus guia os acasos nas circunstâncias mais simples do dia a dia. Na vida dos reinos, na nossa vida.
Uma outra coisa que penso a partir da história do livro de Ester é sobre libertação. Sobre a ação poderosa de Deus para libertar Seu povo. Sobre Seus milagres para transformar situações. Quando lemos o livro de Êxodo, vemos a ação extraordinária de Deus para livrar Seu povo. Pragas, morte, mar que se abre, comida sobrenatural, uma coluna de fogo que ilumina as noites, uma nuvem que protege do sol de dia, roupas que não se gastam. Enfim, muita ação poderosa e sobrenatural de Deus. Deus fez coisas inauditas para livrar o Seu povo do Egito.
Quando olhamos para frente, a ação de Deus descrita no Apocalipse aponta para um Deus que é capaz de agir extraordinária e sobrenaturalmente a fim de livrar Seu povo de todo sofrimento. Das ameaças de morte, da dor, da doença, do choro, da angústia. Nosso Deus age assim. Mas também age no ordinário. O livro de Ester conta uma história tremenda de libertação de Deus em favor do Seu povo. Uma libertação sem nenhuma nota de milagre extraordinário. Todas as coisas conduzidas por Deus na história, no ordinário, no comum. Mas todas as coisas conduzidas até uma maravilhosa libertação do povo de Deus. Mesmo que nem o Seu nome seja citado na história.
O nosso Deus opera maravilhas em favor do Seu povo. Mas não podemos esquecer que Ele também age no ordinário. Ele também livra e faz a Sua obra no aparente acaso, no circunstancial, no comum, no dia a dia. Seja maravilhoso, seja ordinário, saibamos que Deus guia a história, constrói as circunstâncias, conduz o Seu plano, realiza a Sua vontade. Mesmo quando não somos capazes de perceber, explicitamente, a presença dEle conduzindo tudo.

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