22.5.05

O amado

Eu amo a Deus, o Senhor...
Salmo 116. 1

Dia desses um amigo comentou comigo que tem aprendido uma coisa de Deus. Ele falou que esteve mal acostumado na sua relação com Deus. Vivenciou muito tempo a experiência de perceber Deus tomando a iniciativa da conversa e da comunhão. Assim, foi ficando acomodado à noção que não necessitava de uma busca de tanta intensidade. Afinal, todos os dias ele estava certo que Deus viria buscá-Lo e lhe dirigiria uma Palavra mais que apropriada. Mas, de repente, ele começou a experimentar um novo momento em que Deus foi lhe parecendo silente. Meu amigo sofreu por sentir falta da comunhão com o Pai, de Sua Palavra doce e fiel, do Seu cuidado constante e absoluto. Só então ele se apercebeu do ensino que o Senhor queria lhe passar: relacionamento, muito mais especialmente o relacionamento com Deus, é uma via de mão dupla. Por isso, a busca da intimidade precisa ser mútua. Desse modo, a mesma sede de comunhão e intimidade que meu amigo experimentava vindo de Deus devia estar no seu próprio coração. O seu coração devia desenvolver a fome e a sede pela presença do Amado. O que Deus estava esperando dEle, nesse novo momento, era que agora a iniciativa pudesse partir daquele ser amante que tanta sede demonstra da intimidade e comunhão com o Senhor.
No início das suas Confissões, Agostinho diz: Tu o incitas [o homem] para que sinta prazer em louvar-Te; fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti. (...) Quem O procura O encontra, e, tendo-O encontrado, O louvará. Que eu Te busque, Senhor, invocando-Te; e que eu Te invoque, crendo em Ti. O Senhor Deus é o Ser mais Amado por nossas almas. Sendo isso verdade, o mais natural é que queiramos e nos importemos profundamente em mergulhar na intimidade e comunhão com Ele. Quando eu amo, o que mais quero é fruir da intimidade e da companhia do Ser Amado. Desesperadamente. Apaixonadamente. Porque nosso coração só encontra quietude e descanso quando se lança nos braços desse amor. Porque, apaixonados, seremos conduzidos a uma busca intensa. Busca sem limites. Busca sem fim. Busca sem nenhuma chance de esgotamento. O nosso desejo será um maior mergulho nos rios do amor do nosso Ser Amado.
Quando penso na paz e alegria que invadem o coração do Adorador, daquele que usufrui com plenitude a comunhão com o Senhor, imagino o prazer e alegria que tem a esposa quando junto ao seu esposo amado. Tudo o que ela fizer manifestará a alegria do seu amor, servirá como testemunho da intensidade de sua paixão. Seus atos traduziram da melhor maneira possível os seus sentimentos e emoções. Suas ações serão fruto e resultado unicamente da comunhão amorosa com seu esposo. Ela não se cansará jamais de tomar a iniciativa de deixar claro que seu amor não é brincadeira. Ela não se cansará de tomar a iniciativa de buscar o seu amado. De declarar-se dele sempre. De declarar seu amor a ele.
Semelhantemente, essa é atitude que Deus, o Nosso Amado, espera de nós, seus amantes. Uma atitude de busca constante de Sua Comunhão amorosa. A iniciativa de buscar a Sua face. De buscar o Seu abraço e Seu carinho. De buscar o aprendizado a partir dEle. Atitude que não se cansará, jamais, de esclarecer, por seus atos e sua vida, que seu amor não é de brincadeira. Que seu culto não é coreografia nem pirotecnia.
Meu amigo está aprendendo que precisa ter sede para tomar a iniciativa de buscar o Senhor, mesmo quando Ele lhe parecer distante. Podemos tomar a iniciativa de buscar Sua Comunhão amorosa porque Seu amor já é nosso para sempre. E esse amor foi provado de uma vez por todas através da vida e morte de Jesus. Aquele que veio mostrar ao mundo o tamanho do amor de Deus que está disponível para ser experimentado a partir da Cruz do Calvário.

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