13.5.05

Ansiedade

Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã...
Mateus 6. 34.

A segunda semana é a pior semana do meu mês. São os dias mais angustiantes da minha vida. É geralmente na segunda semana do mês que recebo o meu pagamento. Mas como ele não tem uma data fixa, dependendo da boa vontade da universidade em repassar a verba da Capes, sofro demais. Minha primeira conta em débito automático vence no dia 12. Nunca estou certo de que terei o dinheiro para cobri-la. Ontem aconteceu isso. Acordei, acessei minha conta e descobri que estava devendo dinheiro ao banco: nenhum centavo da bolsa havia entrado e a minha conta tinha sido debitada.
Os dias 11, 12 e 13 de cada mês são os mais angustiantes na minha vida. São os dias de maior e mais intensa ansiedade. As caspas explodem na minha cabeça, fico irritadiço. Sofro demais e outras pessoas terminam sofrendo por extensão. O ruim é descobrir e perceber que não adianta de nada sofrer assim. O dito popular diz que o que não tem remédio remediado está. Jesus diz que nenhum de nós pode encompridar a sua vida, por mais que se preocupe com isso (Mt. 6. 27).
Pior ainda é perceber com clareza que toda ansiedade não serve para nada, muito menos para resolver qualquer coisa. Por mais que nos preocupemos com alguma coisa, e geralmente as coisas que mais nos pré-ocupam se relacionam a dinheiro, no fim de tudo, todas as coisas acontecerão e não teremos a menor chance de controlar coisa alguma. E percebemos que manter a ansiedade beira à nossa estupidez porque estamos ansiosos por acreditar que temos alguma chance de controlar os eventos de nossa vida, quando, na verdade, não temos, nunca tivemos e nunca teremos o controle da nossa vida totalmente nas mãos. As coisas que nos acontecem não podem ser controladas ou conduzidas por nós mesmos e, quando não percebemos isso, resta-nos a profunda ansiedade de querer ter o leme nas mãos e nunca alcançar a cabina de comando. A vida é, aproximadamente, como ilustra a metáfora de Forrest Gump: aquela pena conduzida pelo vento. Quer nos conformemos ou não, não a controlamos em absoluto.
É sobre isso que fala Jesus. Ele fala, nós pregamos, mas muito poucos de nós realmente ouvimos. Em primeiro lugar, Ele esclarece que a vida é mais que comida, bebida ou roupas. A vida é mais que as coisas que sabemos ser as mais essenciais da vida. E é mais que isso porque o Deus que veste as flores do campo, alimenta os passarinhos, cuida com tanto carinho de Sua Criação é o supridor de todas as nossas necessidades básicas. Ele cuida da Criação e não cuidará de nós? Portanto, não fiquem preocupados, perguntando: “Onde é que vamos arranjar comida?” ou “Onde é que vamos arranjar bebida?” ou “Onde é que vamos arranjar roupas?” (Mt. 6. 31).
Afirmar que nós não temos o controle da nossa vida não significa dizer que ela está fadada a ser sem controle. Afirmar que ela é como aquela pena do filme de Tom Hanks não significa que ela segue de qualquer jeito, como canta Zeca Pagodinho (Deixa a vida me levar, vida leva eu...). O texto nos convida a entregar o controle absoluto de nossa vida nas mãos de Deus. E essa vida rendida a Deus, a vida do Espírito, é a aquela vida levada por um Vento diferente: O vento sopra onde quer, e ouve-se o barulho que ele faz, mas não se sabe de onde ele vem, nem para onde vai. A mesma coisa acontece com todos os que nascem do Espírito (Jo. 3. 8). A vida que entrega o controle, o leme, a direção nas mãos do Pai. Vida na qual rendemos qualquer intenção de ter o controle. Qualquer mesmo. E colocamos como prioridade, não mais a tentativa de dirigi-la por nós mesmos, mas sim as coisas mais importantes do mundo: Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e aquilo que Deus quer, e Ele lhes dará todas essas coisas (Mt. 6. 33).
É isso. A vida do homem é mais que comida, bebida ou roupas. Essas jamais podem ser ou serão as coisas mais importantes da vida. A coisa mais importante da vida é de outro teor. É graça, que é melhor que a vida (Sl. 63. 3). É Reino de Deus, pois o Reino de Deus não é uma questão de comida ou de bebida, mas de viver corretamente, em paz e com a alegria que o Espírito Santo dá (Rm. 14. 17).

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