Agora a casa de vocês ficará completamente abandonada.
Lucas 13. 35
São dias difíceis aqueles em que somos julgados por Deus. Afinal, se somos filhos, vez por outra transparece mais nitidamente o tratamento do Pai ao nos disciplinar. Momentos difíceis que podem ser mais bem compreendidos se vistos à luz das Escrituras.
Jerusalém foi a cidade, desde os dias de Davi, que Deus escolheu como lugar da manifestação de Sua Glória e Majestade. Ali, Ele decidiu permitir que homens limitados Lhe construíssem um Templo onde seria adorado. Naquela cidade, o Seu Nome, que é capaz de salvar o pecador, seria invocado. Dali partiria a mensagem de vida que é trazida à humanidade pelo próprio Deus. Ali brotaria o Rio de Água Viva que manifestaria a Graça e o Poder de Deus em todo lugar do mundo, tornando o Senhor conhecido onde não havia sido ainda. Era ali que seria anunciada a salvação do Senhor até os confins da terra. Por isso, Jerusalém era a menina dos olhos de Deus. Os seus moradores se consideravam, com relativa razão, filhos amados do Deus Altíssimo. Mas esse era um passo para o pecado e o exclusivismo.
Apesar de tudo o que vemos na história de Israel, não foram poucos os profetas que se ergueram para denunciar Jerusalém e ameaçá-la com o castigo de Deus. Algumas vezes, a ameaça deixou de ser hipotética e, por causa da dureza do coração da Filha de Sião e do seu pecado, a cidade foi atacada. O templo do Senhor foi roubado algumas vezes. O auge, antes dos dias de Jesus, havia sido a destruição da cidade sob Nabucodonosor e o exílio na Babilônia.
No entanto, reiteradas vezes o Senhor reafirmava o Seu amor por aquela cidade e pelo povo que ali habitava: Com laços de amor e de carinho, eu os trouxe para perto de mim; eu os segurei nos braços como quem pega uma criança no colo. Eu me inclinei e lhes dei de comer.(...) Israel, como eu poderia abandoná-lo? Como poderia desampará-lo? Será que eu o destruiria, como destruí Admá? Ou faria com você o que fiz com Zeboim? Não! Não posso fazer isso, pois o meu coração está comovido, e tenho muita compaixão de você (Os. 11. 4 e 8). Mesmo quando os julgava e condenava, como no contexto de Oséias, não podia abandoná-los por completo por causa do grande amor que mantinha.
A história de Jerusalém é de constante repetição. Como se realizasse aquela fala do livro de Provérbios: Quem é repreendido muitas vezes e teima em não se corrigir cairá de repente na desgraça e não poderá escapar (Pv. 29. 1). É um povo constantemente rebelde e contradizente, que não se emenda. É a essa cidade que Jesus vai para realizar Seu ministério.
No início do capitulo 13 de Lucas, Jesus conta uma parábola para descrever o estado de Jerusalém: Certo homem tinha uma figueira na sua plantação de uvas. E, quando foi procurar figos, não encontrou nenhum. Aí disse ao homem que tomava conta da plantação: “Olhe! Já faz três anos seguidos que venho buscar figos nesta figueira e não encontro nenhum. Corte esta figueira! Por que deixá-la continuar tirando a força da terra sem produzir nada?” Mas o empregado respondeu: “Patrão, deixe a figueira ficar mais este ano. Eu vou afofar a terra em volta dela e pôr bastante adubo. Se no ano que vem ela der figos, muito bem. Se não der, então mande cortá-la” (Lc. 13. 6 – 9). Jesus estava dizendo que Jerusalém estava deixando passar a sua última chance, concedida pela longanimidade do Pai. É no mesmo texto que Ele anuncia o juízo sobre a cidade: Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os mensageiros que Deus lhe manda! Quantas vezes eu quis abraçar todo o seu povo, assim como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! Agora a casa de vocês ficará completamente abandonada (Lc. 13. 34 – 35).
Mais à frente, diante da cidade, no domingo de ramos, Ele chora! Ah! Jerusalém! Se hoje mesmo você soubesse o que é preciso para conseguir a paz! Mas agora você não pode ver isso. Pois chegarão os dias em que os inimigos vão cercá-la com rampas de ataque, e vão rodeá-la, e apertá-la de todos os lados. Eles destruirão completamente você e todos os seus moradores. Não ficará uma pedra em cima da outra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para salvá-la (Lc. 19. 42 – 44). O tempo estava esgotado. A figueira, finalmente, iria ser cortada e lançada ao fogo. Depois de tantas chances e tanta longanimidade, agora era tarde. Dali a quarenta anos, a cidade seria completamente destruída pelas tropas romanas do General Tito. Era o fim.
O juízo não é sem amor. Não é sem dor no coração de Deus. Por tratar com dureza, Ele não deixa de amar. É impressionante o fato de que Jesus faz essa última profecia sob lágrimas. Ele está chorando a dor de castigar a cidade que tanto ama. Cidade tão especial para os projetos de Deus. Sua menina dos olhos. Toda ação de juízo de Deus é regada pelas lágrimas do Amor Eterno.
Deus tem nos desafiado a corrigirmos as nossas vidas. Temos pecado contra Ele. Temos agido de modo contrário à Sua vontade. Ele tem adiado o juízo, mas não o fará por muito tempo. É hora de eu e você abrirmos os olhos. É hora de abrirmos o nosso coração e mudarmos de vida. Quebrantarmo-nos, arrependidos, diante do Pai Celeste, confessando nossas culpas, transformando nossas atitudes, permitindo que o Espírito santifique o nosso ser. Talvez ainda seja tempo de evitar o fim de tudo. Devemos nos curvar, humildes, pois ainda pode haver esperança (Lm. 3. 29).
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