22.9.05

Uma comida

A minha comida – disse Jesus – é fazer a vontade daquele que me enviou e terminar o trabalho que Ele me deu para fazer.
João 4. 34

Era mais ou menos meio-dia. O sol estava à pino. Podemos imaginar que, naquele calor desértico, após horas de caminhada, Jesus e Seus discípulos estavam muito cansados, com muita sede e fome. Tanto podemos pensar isso, que o texto nos diz que os discípulos foram buscar comida na cidade, enquanto Jesus pede água à mulher samaritana. Era uma situação de fome, sede e cansaço.
E é nesse momento que Jesus aproveita para ensinar acerca de uma fome e sede que são mais importantes, para o futuro humano, de que aquelas causadas pelo calor sol, o cansaço físico e o avançar da hora. Jesus ensina à mulher sobre a sede espiritual que ela carregava dentro si e mostra o melhor caminho de saciá-la: Se você soubesse o que Deus pode dar e quem é que está lhe pedindo água, você pediria, e Ele lhe daria a água da vida (Jo. 4. 10). A sede é oportunidade para o aprendizado sobre a água da vida e a necessidade espiritual do coração humano.
Além de se utilizar da sua própria sede para ensinar acerca das necessidades espirituais daquela mulher, Jesus também aproveita a própria fome e a do Seu grupo de discípulos para falar acerca de uma fome ainda mais intensa e importante: a fome espiritual por se fazer a vontade do Pai. Eu tenho para comer uma comida que vocês não conhecem. (...) A minha comida – disse Jesus – é fazer a vontade daquele que me enviou e terminar o trabalho que Ele me deu para fazer (Jo. 4. 32 e 34).
Como são intensas a fome e a sede provocadas pelo cansaço físico, pelo calor do sol e pelo avançado da hora, ainda são mais intensas e fatais a fome e sede espirituais, causadas pela enorme necessidade que o coração humano tem de Deus, viver com Ele, em Sua companhia e comunhão, em Sua presença santa: Ó Deus, tu és o meu Deus; procuro estar em Tua presença. Todo o meu ser deseja estar contigo; eu tenho sede de Ti como uma terra cansada, seca e sem água (Sl. 63. 1).
Certamente são muito mais intensas a fome e a sede em regiões áridas como a Palestina. Muito mais ainda ao meio-dia de um dia de sol. Experimentei isso nesses dois dias que passei em Mossoró. O calor provoca em nós uma redução de ritmo, por isso, era inevitável dormir após o almoço como forma que o corpo encontra de poupar energia. Além disso, a sede é uma constante inescapável. Imprescindível, por isso, ter feito a prova da seleção do concurso, no domingo, acompanhado por uma garrafa de água.
Essa constatação acerca de como o clima árido é um fator complicador na situação de fome e sede me conduz a refletir acerca do que costumamos chamar de experiência de deserto espiritual. O deserto, lugar quente, seco e sem vida, amplia enormemente a nossa fome e sede. Estar no deserto espiritual, por isso, significa aumentar a nossa fome e sede por mais de Deus. No deserto, não poderemos nos satisfazer como menos que a ação do Senhor em saciar a nossa ânsia e necessidade por mais dEle. No deserto aprendemos com mais clareza que nossa única chance de vida é beber da Água da Vida e comer do Pão do Céu. A pessoa que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Porque a água que eu lhe der se tornará nela uma fonte de água que dará vida eterna. (...) Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o Seu sangue, vocês não terão vida (Jo. 4. 14 e 6. 53).
Somos naturalmente famintos e sedentos por Deus. Temos necessidade, mesmo que não seja consciente, de experimentar uma relação viva e real com o Pai. E essa fome e sede se ampliam em relação proporcional à sequidão e aridez do deserto espiritual que, porventura, experimentemos. Por isso, nessa hora, vá à fonte certa que saciará a sua sede e a sua fome. Esta é uma comida que só Jesus conhece, esta é uma bebida que só Ele pode dar. Tudo começará por dispor o coração em fazer unicamente a vontade de Deus. A minha comida – disse Jesus – é fazer a vontade daquele que me enviou e terminar o trabalho que Ele me deu para fazer.

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