22.11.05

Direito de julgar?

Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como esse cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.
Lucas 18. 11 – 12

Em 2002, participei da Escola Dominical em uma igreja em Fortaleza. Naquela manhã, o professor propôs um exercício bem interessante. No meio da sala ele havia separado algumas cadeiras como sendo reservadas. Na verdade, reservadas para personalidades da nossa sociedade, notoriamente conhecidas como pecadores resolutos: Fernandinho Beira-Mar, ACM, Paulo Maluf, etc. A questão contra a qual fomos postos era qual seria a nossa reação se essas pessoas estivessem lá.
Obvio que as respostas giravam em torno das mais cristãs possíveis. Demonstrar amor por eles. Falar-lhes de Jesus. Tentar convencer-lhes a entregarem suas vidas ao conhecimento do Deus Vivo. Mas, confesso, aquilo me incomodou. É muito fácil para nós falarmos “em tese”. Especialmente se a situação se refere a algo que é, verdadeiramente, impossível de vermos. Aquelas pessoas jamais estariam naquela sala. Por isso, era muito distante de qualquer um, discutir aquele assunto. Ou seja, todos nós poderíamos dar, ali, as respostas mais esperadas, mais conformes o que se pensa que o cristão deva fazer. Isso não significava que seriam respostas verdadeiras. Pelo contrário.
Incomodado, propus aos meus irmãos uma outra questão. Disse que era muito fácil falar de algo tão distante. Mas, e quando o pecado acontece no nosso meio? Como reagimos quando uma liderança importante de nossa igreja peca? Ou um irmão próximo a nós? Lembro de ter usado o exemplo daquele que era o pastor do Brasil até sua queda. Disse que havia lido que os livros dele não eram mais comprados, como se o seu pecado posterior tivesse inutilizado a Palavra de Deus em sua vida anteriormente. Para o meu espanto, aqueles jovens endossaram o coro dos que o rejeitavam. Nunca mais ele seria pastor para aqueles meninos e meninas. Seu ministério estava para sempre acabado. Era o fim. No lugar do Deus perdoador e restaurador, eles diziam que era o fim dele.
Eu os respondi. Na época estava no seminário. Disse que se não acreditasse no poder restaurador de Deus e da Palavra de Deus, eu rasgaria a minha Bíblia e voltaria para Natal. Se eu estava ali, me preparando para o ministério para o qual Deus havia me chamado, era porque acreditava que há restauração plena e total na Palavra de Deus e em Sua presença. E se estava no seminário, era porque sabia que o que havia acontecido com aquele pastor poderia acontecer comigo. Eu não era um super-homem. Não era melhor que ele, nem ele era diferente de mim. Se não cresse em tudo isso, não havia razão para ser pastor e estar no ministério. Se duvidasse dessa verdade na minha vida ou na vida de qualquer um, era melhor tentar outra coisa. Comprovei a veracidade de minha fala em alguns meses. Eu mesmo caí de maneira semelhante à do pastor.
Hoje me lembrei dessa história de novo. Reencontrei uma jovem que foi banida de alguns círculos sociais que freqüento. Por causa de um pecado. Conversei com ela um bom tempo. Não porque fosse melhor que os outros, mas por me entender tão pecador quanto os outros, tive por ela o mesmo carinho e atenção de antes. Talvez um pouco mais ampliado por entender que ela precisa de apoio para se levantar. Sei que, possivelmente, envolvido na mesma circunstância que ela estava, agiria da mesma maneira que ela. E entendi que os que a baniram se entendem melhores que ela, lamentavelmente. Não percebem que, no meio da vida, eu, você, ela e qualquer ser humano, somos uns tão pecadores quanto outros. Somos todos igualmente carentes do mesmo perdão e graça de Deus. Sentimentos orgulhosos não convêm a criminosos.
Perdoar é se saber no mesmo patamar do pecador. É se reconhecer pecador. Quem se recusa a dar perdão e a crer na restauração, na verdade, quer acreditar que é melhor que os outros. Não é tão pecador quanto os outros. É mais santo e mais puro. É capaz de perdoar alguém que tem a atitude, concreta e de coração, do cobrador de impostos da parábola. Apenas os fariseus não perdoam, porque não precisam de perdão: Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como esse cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.

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