Ó Deus, salva-me porque estou na água até o pescoço! Estou atolado num lamaçal muito fundo, não tenho onde apoiar os pés. Entrei em águas profundas, e a correnteza quase me afoga.
Salmo 69. 1 – 2.
Algumas vezes a gente se vê tão cercado pelo mal, seja o mal do nosso pecado, ou o mal do mundo que nos envolve, que nos sentimos sufocar. Estamos tão cercados que nossas forças se esvaem e a nossa vida parece por um fio apenas. Não temos idéia de como poderíamos sobreviver. Aliás, não poderíamos. Com as forças debilitadas, resta-nos tentar recuperar, do fundo do coração, uma saudade profunda de Deus e da Sua comunhão, mesmo quando não conseguimos nem mesmo sentir falta disso.
A idéia do que quero dizer está expressa em uma passagem de O Senhor dos Anéis, já bem próximo ao fim da história. Sam e Frodo estão em Mordor. Frodo está extremamente enfraquecido pelo mal do anel. O mal está roubando suas forças e ele já não pensa sozinho. Ele sente como se o próprio Sauron estivesse dentro de sua cabeça. Sem forças e sem raciocínio claro, Sam tenta animá-lo, falando sobre o condado. Sam está com saudade do condado dos hobbits, mas Frodo lhe diz ser incapaz de lembrar de qualquer coisa. Ele não sabe como é o som das aves, os sabores das comidas e das bebidas, nem as paisagens.
É isso que o poder do mal faz conosco quando nos envolve e nos cerca, debilitando as nossas forças. Imaginando que o condado pudesse ser uma imagem de nossa mais plena comunhão com Deus e da Sua presença, podemos contemplar o cerco do mal destruindo nossa alegria de viver, o nosso prazer de estar na presença de Deus, e nossa capacidade de querer estar ou sentir saudades de estar com Deus. O mal suga as nossas forças para que, de alguma maneira, possamos desistir de Deus e, assim, sucumbir à força de morte.
Ó Deus, salva-me porque estou na água até o pescoço! Estou atolado num lamaçal muito fundo, não tenho onde apoiar os pés. Entrei em águas profundas, e a correnteza quase me afoga. É assim que me sinto hoje. Preciso desesperadamente de socorro do Senhor para escapar desse poço de perdição. Preciso de Sua mão para me tirar e devolver ao meu coração a saudade e o prazer de estar em Sua presença. Preciso de um toque renovador do Deus santo para que as palavras do salmista se tornem novamente a oração da minha alma ansiosa e faminta: Como eu amo o teu Templo, ó Senhor Todo-Poderoso! Como eu gostaria de estar ali! Tenho saudades dos pátios do Templo de Deus, o Senhor (Sl. 84. 1 – 2).
Quero amar o Senhor com tudo o que sou. Quero ter o Seu prazer, o gozo de estar na Sua presença, como o único e necessário prazer de minha vida. Quero ter certeza de que o conhecimento do Senhor, Sua companhia e amizade, são tudo o que preciso ter. Quero viver unicamente para o Senhor. Mas, agora, cercado por lama fétida de todos os lados, abatido pelo poder do mal ao redor de mim e do mal do meu pecado, não consigo saber como são os sabores da mesa do Senhor, não lembro como é bela a Sua presença, nem consigo ouvir o som da Sua voz. Quero ter tudo de volta, por isso quero quebrar o coração e me aproximar dEle. Por que sei que só isso é suficiente; isso basta para que se dissipe o mal que me envolve. Isso é jogar o anel no fogo de Mordor, porque Deus não rejeita um coração humilde e arrependido (Sl. 51. 17).
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