Então, vocês se verão do lado de fora, ao relento, estranhos em relação à graça. Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas passarão na frente de vocês em direção ao Reino de Deus. Vocês verão estrangeiros, vindos de todas as partes do mundo, sentados à mesa do Reino de Deus, enquanto vocês vão estar do lado de fora, espiando pela janela — tentando descobrir o que aconteceu.
Lucas 13. 28-29
O que nos aproxima de Deus?
As respostas humanas são variadas e historicamente diversas, mas resumem-se, em geral, no mesmo sentimento de religiosidade e espiritualidade - dos tempos primitivos até aqui.
No Gênesis, a religião se inicia com Enos: “Foi nessa época que as pessoas começaram a orar e a prestar culto ao Eterno” (Gn.4. 26).
A religião é um movimento humano na tentativa de encontrar relação com a Realidade Última da Existência, o Eterno, a Divindade. Desde que se deparou com o seus limites, o principal deles a morte, o ser humano estabeleceu tentativas de rituais e cerimônias para apaziguar Deus ou para que houvesse com Ele algum tipo de relacionamento.
Com o tempo, os modos religiosos politeístas foram sendo suplantados por formas monoteístas de relacionamento religioso.
Até que surge uma nova modalidade de crença em Deus, talvez inédita. Os hebreus passaram a acreditar que, mais do que um movimento humano na direção do Eterno, a religião era um movimento do Eterno na direção do humano.
Faz tempo que venho observando a aflição do meu povo no Egito. Ouvi o povo clamar por livramento das mãos dos seus senhores e conheço muito bem o sofrimento dos israelitas. Agora desci para ajudá-los, para livrá-los do domínio do Egito, tirá-los daquele país e levá-los para uma terra boa, ampla, cheia de leite e mel, hoje habitada por cananeus, hitititas, amores, ferezeus, heveus e jebuseus (Ex. 3. 7-8)
Como esse povo não iria se achar especial? Como não pensaria que nascer hebreu era suficiente para ter relacionamento íntimo com Deus? Como não estabelecer a regra de que seus rituais e seus cultos eram os únicos possíveis para que o ser humano pudesse conhecer o Eterno?
Tal processo de institucionalização da fé e da religião é uma realidade até os dias atuais - agora, talvez, outras religiões se arvoram também como as únicas possíveis e corretas.
Era assim nos dias de Jesus e a sua parábola denuncia tal questão.
Então, vocês se verão do lado de fora, ao relento, estranhos em relação à graça. Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas passarão na frente de vocês em direção ao Reino de Deus. Vocês verão estrangeiros, vindos de todas as partes do mundo, sentados à mesa do Reino de Deus, enquanto vocês vão estar do lado de fora, espiando pela janela — tentando descobrir o que aconteceu.
Os religiosos de Israel acreditavam que o que lhes garantiria um lugar no Reino de Deus era o pertencimento étnico ao povo judeu e o seguimento de suas regras e condutas religiosas.
Jesus alerta, no entanto, que o acesso ao Reino de Deus é a graça e é de graça - não existe garantia étnica ou religiosa: "vocês se verão do lado de fora, ao relento, estranhos em relação à graça”.
Pelo contrário: até os mais inesperados convidados estarão à mesa do Reino de Deus. Os que se fiam na religião tentarão descobrir o que aconteceu, enquanto aqueles que a religião desprezaria sentarão ao lado de Jesus.
A relação íntima com Deus por meio de Jesus está aberta a quem deseja, para além das circunstâncias e regras religiosas.
Este é o tipo de gente que o Pai está procurando: aquele que é simples e honesto na presença dele, em seu culto. Deus é Espírito, e quem o adora deve fazê-lo de maneira genuína, algo que venha do espírito, do mais íntimo do ser (Jo. 4. 23-24).
Religião alguma supera o coração como instrumento adequado para que estabeleçamos uma relação íntima com o Eterno.
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