8.1.17

Que eu possa dançar

Põe uma música alegre para mim,
conserta meus ossos quebrados, para que eu possa dançar.
Salmo 51. 8



Com razão, boa parte das pessoas imaginam os religiosos, particularmente os cristãos, como pessoas sem graça, com dificuldades para se divertir, alienados da vida e do mundo.

Para muita gente, ser religioso é ser sério e severo, é ter pouco espaço para o sorriso, para o lúdico, para a celebração festiva. É ter a face rígida de Bento XVI e não o sorriso festivo de Francisco.

No mundo protestante isso talvez fique ainda mais evidente. Desde a Reforma, a severidade como característica da religiosidade cristã está em disputa. Parte da Reforma, por exemplo, abdicou da música, qualquer música, nos cultos e na vida.

Os protestantes norte-americanos que evangelizaram o Brasil impuseram às igrejas certas tradições completamente alheias aos nossos trópicos festivos. Até hoje parece muito anacrônico deparar-se com um púlpito repleto de ternos e gravatas, sem cor, sem brilho e sem ludicidade em nossas igrejas.

Parece anacrônica ainda haver gente que encara a festa e a dança como pecados.

O Salmo 51 é um cântico de confissão de pecados e pedido de restauração. A tradição o atribui a Davi, logo depois do adultério com Bate-Seba e o homicídio de Urias.

É no contexto de confissão de pecados que o salmista pede a Deus:

Põe uma música alegre para mim,
conserta meus ossos quebrados, para que eu possa dançar.


Enquanto as igrejas investem na severidade, no terno cinza, no rosto sem sorriso, o salmista pede a Deus que o perdoe (“conserta meus ossos quebrados”), ponha no som uma música alegre para que ele dance. O salmista reconhece em Deus a fonte do lúdico, da festa, da música, da dança, da celebração.

Tive grandes experiências com Deus reconhecendo minha cultura, a música que mexe no meu íntimo, a festa que diz respeito a mim.

Lembro de um divisor de águas em um dos tradicionais forrós que encerravam as reuniões da Fraternidade Teológica Latino-Americana. Ao som de “Espumas ao vento”, dancei com minha amiga Gidália. Deus tocou-me fundo: “esse é você e não fuja disso: você é do Nordeste, é do Forró, é da Festa”. Eu senti como se meu sangue pulsasse ao som da zabumba e do triângulo, uma experiência que mudou a minha vida.

O salmista vem da tristeza do pecado e pede a Deus que toque uma canção para que Ele dance. O perdão enche o coração de alegria, a restauração nos leva à festa, a cura nos faz dançar.

O DJ é o próprio Deus.

Fantástico isso, não?

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