9.3.05

A injustiça da Graça

Dia desses eu conversava com uma jovem senhora. Ele me procurou após uma aula na Igreja para me interrogar a respeito do conceito cristão da Graça. O pastor havia falado há pouco que recebíamos todas as coisas de Deus por meio da Graça. Isso significava que não merecíamos nada que recebemos, mas vivíamos em uma nova dimensão de Graça em Jesus Cristo.

Aquela senhora não conseguia aceitar isso de modo nenhum. Primeiro, ela começava a achar que esse conceito de Graça é injusto, porque permite ao pior criminoso que se depare com ela ser restaurado e regenerado, passando a viver uma nova vida. Mais que isso: permite a esse sujeito ser salvo da morte eterna. Eu confirmei que, em certo sentido, a graça é profundamente injusta, já que preserva a todos nós que somos criminosos diante do Pai.

Nossa conversa foi ficando mais difícil quando eu lhe mostrei que nenhum ser humano é menos indescupável diante de Deus. Nenhum de nós é perfeito e a perfeição é o padrão exigido por Deus. Mostrei o que Tiago fala: Porque quem quebra um só mandamento da lei é culpado de quebrar todos (Ti. 2. 10). Desse modo, dizia eu, do ponto de vista de Deus eu e o pior dos criminosos que ela pudesse imaginar estávamos no mesmo patamar. Ela tentou argumentar, mas eu lhe mostrei ainda que Paulo, um homem reconhecidamente santo, um apóstolo, costumava se classificar como o mais miserável dos homens, o pior dos pecadores.

Essa conversa me fez pensar em algumas coisas. Mas a principal delas é a convicção de que uma verdadeira espiritualidade se admira com a Graça de Deus. Quando conhecemos o Senhor e olhamos para dentro de nós mesmos, é impossível não ficar repleto de admiração com a Graça do Senhor.

A nossa noção de justiça é retributiva. Por isso, quando vemos os nossos erros, muitas vezes, temos no coração a convicção de que a coisa certa que deveria acontecer era sermos punidos em nós mesmos pelas nossas faltas. Olhamos o que fizemos e ainda fazemos, e percebemos que cada falha, cada erro, cada pecado nos torna criminosos diante de Deus. Cada pecado nosso clama por justiça. Clama por punição. É impossível passar, nessas horas, sem se sentir absorto pela Graça. Mesmo que eu mereça a condenação pelos meus pecados, toda a condenação já foi cumprida por Jesus. Desse modo, não há mais condenação possível. Como posso aceitar passivamente isso? Os que não conhecem a Jesus vão, então, pagar penitências ou, se forem espíritas, esperar a purgação dos seus erros em uma outra vida.

Diversas vezes, em diversos momentos, cresce em meio peito um sentimento indignado de injustiça. Como Deus pode ser tão amoroso comigo? Como Ele pode me amar, apesar de quem eu sou? Como Ele pode me perdoar, a mim, tão pecador? Mas é assim. E eu não posso fazer nada, graças a Deus. Deus me ama de tal maneira que foi capaz de entregar Seu Único Filho, Jesus, para que morresse a minha morte a fim de que eu tivesse vida. Essa é a Graça Imensurável do Senhor.

A verdadeira espiritualidade se admira com a (injusta) Graça de Deus. Se deparar com o Senhor e experimentar a sua Graça, o seu Amor gratuito, o perdão imerecido, o seu toque de vida, leva-nos a uma vida de real espiritualidade. Um viva comunhão com o Senhor de toda terra. Firmada na Graça.

Nenhum comentário: