8.3.05

Somente da Cruz

Mas eu me orgulharei somente da Cruz do nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, por meio da Cruz, o mundo está morto para mim, e eu estou morto para o mundo.

Gálatas 6. 14.

Quando Paulo lhes escreve, os gálatas estão enfrentando um problema bem específico. Os judaizantes, vindos de Jerusalém, estavam querendo pôr sobre os gálatas a necessidade de circuncidarem-se e seguirem a Lei apenas para propagandearem o seu próprio sucesso e a vanglória pessoal. Pregavam uma mensagem de sucesso e vitória, onde cristão não precisaria passar por lutas e por perseguições: era só se adequar um pouco ao padrão de vida aceito pelo mundo. Qual o problema de se fazer judeu, se isso vai evitar que soframos perseguição? Eram bem recebidos porque incitavam uma vida de tranqüilidade: Eles fazem isso somente para não serem perseguidos por causa da Cruz de Cristo (Gl. 6. 12). Desfeito o escândalo da Cruz, nem os judeus nem os gentios teriam motivos para perseguirem a Igreja.

Mas Paulo tem uma resposta incisiva e inquietante para essa pregação: Mas eu me orgulharei somente da Cruz do nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, por meio da Cruz, o mundo está morto para mim, e eu estou morto para o mundo.

A primeira coisa que Paulo diz é que tem alguma coisa por que se orgulhar. Mas é algo muito diferente do orgulho e da vanglória manifestos pelos pregadores judaizantes. Se há alguma coisa pela qual Paulo pode sentir orgulho é pela Cruz. Para entender a profunda implicação disso, precisamos pensar no que significava morte de Cruz.

A crucificação era a forma mais cruel e torturante de execução promovida pelo Império Romano. Ao ponto de que cidadãos romanos, por pior que fossem seus crimes, não poderiam ser condenados à morte de Cruz. A Cruz era o tipo de morte daquelas pessoas que não eram consideradas gente por Roma. Era a morte de gente desqualificada. Após dias de agonia, a pessoa terminava morrendo sufocado pelo próprio peso que o impedia de respirar. Era uma forma humilhante de morte. Também do ponto de vista religioso, já que as Escrituras diziam que era maldito o que ficava pendurado no madeiro.

Há algum sucesso humano na Cruz? Há alguma glória e orgulho? De jeito nenhum. Na Cruz só se vê a derrota humana. Do ponto de vista do homem, nada podia ser mais humilhante e desqualificante do que a crucificação. Na Cruz há derrota do homem e há o pecado do homem. Para Paulo, a Cruz representa a morte de qualquer anseio por sucesso ou reconhecimento mundano.

A degradante e humilhante Cruz não é lugar para vanglória, mas nela se revela o nosso pecado e o quanto não somos merecedores de qualquer coisa que venha de Deus. A glória da Cruz de Cristo está na vitória de Cristo. Jesus venceu na humilhação e no abandono da Cruz. Diante da Cruz do Senhor, o homem é humilhado e Jesus é exaltado. Não há espaço para vanglória.

Paulo vai mais fundo ainda. Muito mais do que se orgulhar da Cruz de Cristo, ele se identifica com essa Cruz. Aquela não é apenas a Cruz do Senhor, mas é agora também a Cruz de Paulo, por meio da qual o mundo está morto para mim, e eu estou morto para o mundo.

Os judaizantes pregavam o sucesso mudano, como muitos pregadores eletrônicos de nossos dias. Paulo nega isso a tal ponto que se põe crucificado com Cristo, morto com Ele. Paulo se identifica com a humilhação de Cristo para poder participar da Sua vitória: Tudo o que eu quero é conhecer a Cristo e sentir em mim o poder da sua ressurreição. Quero também tomar parte nos seus sofrimentos e me tornar como ele na sua morte, com a esperança de que eu mesmo seja ressuscitado da morte para a vida (Fp. 3. 10 – 11). O caminho da glória e da vitória de Deus passa pela Cruz.

A mensagem da Cruz tem perdido adeptos em nossos dias. Ninguém quer saber mais de desafios e compromissos da comunidade do Crucificado. Vitória e sucesso são as únicas coisas que muitos de nós buscamos. Vitória e sucesso do ponto de vista mundano, traduzido em bênção, bens e boa vida.

Na perspectiva de Deus, vitória é, antes de tudo, realização através da comunhão com Deus. É realização antes de tudo, não bênçãos. É comunhão com o Senhor, não galardões. É o Reino de Deus, que é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm. 14. 17).

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