Senhor, eu não tenho ninguém para me pôr no tanque quando a água se mexe. Cada vez que eu tento entrar, outro doente entra antes de mim.
João 5. 7
Temos a tendência de complicar as coisas para nós. Achamos que quanto mais espetacular – e difícil – melhor. Às vezes as soluções dos problemas, as respostas às questões são muito simples, mas tão simples que, como pensamos que questões difíceis merecem respostas complicadas, somos tendentes a não acreditar nelas. Abrimos mão das coisas mais simples e fáceis porque nos encantamos com o complicado e difícil.
Quando penso nisso é quase inevitável lembrar da história do general Naamã. Esse comandante do exército sírio, leproso, procura a ajuda de Deus em Israel. Ela vem por meio do profeta Eliseu. Mas o general esperava algum espetáculo grandioso para lhe garantir a cura. Ela, no entanto, é ministrada através de um processo simples. O profeta lhe diz que basta ao comandante que se banhe sete vezes no rio Jordão. Eliseu manda dizer por um recado, nem sequer vai falar pessoalmente com Naamã. Naamã fica decepcionado: Eu pensava que pelo menos o profeta ia sair e falar comigo e que oraria ao Senhor, seu Deus, e passaria a mão sobre o lugar doente e me curaria! Além disso, por acaso, os rios Abana e Farpar, em Damasco, não são melhores do que qualquer rio da terra de Israel? Será que eu não poderia me lavar neles e ficar curado? (2 Rs. 5. 11 – 12) Naamã queria um show da fé, um espetáculo religioso para ser curado. O que o profeta manda que faça é muito simples para ser eficaz na cabeça daquele homem. A sua cura só se dá, então, porque seus homens foram sábios no que lhe disseram: Se o profeta mandasse o senhor fazer alguma coisa difícil, por acaso, o senhor não faria? Por que é que o senhor não pode ir se lavar, como ele disse,e ficar curado? (2 Rs. 5. 13). Por fim, Naamã foi curado da lepra, não num grande espetáculo pirotécnico, mas na simplicidade de sete banhos no rio Jordão.
Isso nos traz de volta para o tanque de Betezata, ou Betesda. Havia um ritual conhecido de cura naquele lugar. Era um show verdadeiramente. De tempos em tempos, a água era misteriosamente movida, de modo que todos entendiam ser por ação de anjos. Naquele momento, quem primeiro entrasse nela seria curado de suas enfermidades. O processo era complicado, envolvia seres desconhecidos e uma espécie de poder mágico. E toda a forma de cura e de vida que aqueles em volta do tanque conheciam era esse complexo show de fé.
Era assim que funcionava na cabeça daquele mendigo, paralítico havia trinta e oito anos. Há trinta e oito anos a única forma de cura e vida que aquele homem conhecia era o tanque de Betezata. Há trinta e oito anos, dia após dia, ele queria tomar parte no espetáculo. Era tudo o que ele sabia, era tudo o que ele via. Era a única possibilidade e esperança que ele tinha. Mas fazia trinta e oito anos que ele perdia aquela corrida pela vida, dia após dia. Aquilo já tinha virado uma rotina, já fazia parte dos esquemas mentais de vida daquele homem.
Imagino que o fato de ele não conseguir entrar a tempo na água, quando era movida, tão ritual em sua vida há trinta e oito anos, já devia fazer parte de sua carreira como pedinte. Provavelmente, era esse o apelo que ele fazia: Ajudem o aleijado que não consegue entrar no tanque faz trinta e oito anos.
A única forma de cura e vida que ele conhecia era aquela. Ela o cegava. Ele só podia conhecer a cura pelo espetáculo, pelo show, por soluções mágicas, como um anjo que move a água de um poço. Por isso, ele não entende aquele Homem que se dirige a ele de maneira tão especial: Você quer ficar curado? (Jo. 5. 6). Que tipo de pergunta é esse? É claro que ele queria, mas lhe era impossível porque não conseguiria jamais entrar no poço.
O paralítico estava cego com sua obsessão pela cura espetacular e mágica. Ele não conseguia imaginar que a Cura estava falando com ele naquele momento. A vida e a cura não seria alcançada pela água de Betezata, mas sim pela Água da Vida. A Cura estava diante dos seus olhos, mas ele não parecia capaz de ver.
Não preciso dizer que isso se repete conosco dia a dia. Queremos ver e viver coisas espetaculares e mágicas quando, muitas vezes, o mover de Deus é simples como mergulhar no Jordão. Às vezes, será uma só palavra: Levante-se, pegue sua cama e ande! (Jo. 5. 8). Corremos o risco de ficarmos tão obcecados com o espetacular a ponto de perder a ação simples e eficaz de Deus em nosso favor. A Cura e a Vida podem estar diante de nossos olhos e nós podemos estar cegos. Porque não queremos a simples cura e vida, mas o espetáculo e o show da fé.
Abramos os olhos para não perdermos o que de simples e profundo Jesus quer fazer conosco. Aquele homem tinha a Cura diante de si, mas só pensava no espetáculo mágico de anjos e águas movidas de Betezata. Pode ser que Jesus esteja diante de nós e estejamos perdendo tempo em busca de mágicas, shows e espetaculares lances de poder. Tudo o que precisamos é uma Palavra: Levante-se, pegue sua cama e ande!
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