11.9.05

Exposto

Naquele dia, quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a mulher ouviram a voz do Senhor Deus, que estava passando pelo jardim. Então se esconderam dele, no meio das árvores.
Gênesis 3. 8

Lembro de uma experiência que fizemos na faculdade, na aula de fotojornalismo. Apesar da modernização da era digital, ainda estudávamos os princípios mais artesanais da fotografia. Passávamos boa parte das aulas na sala escura do laboratório de fotografia da universidade, aprendendo truques sobre como revelar filmes, copiar e reproduzir fotos. Brincar com a luz. E lembro que me chamou a atenção uma coisa que o professor fez e que, na época, não imaginava o resultado que teria, por mais que me pareça óbvio hoje. Um dia, ele apagou as luzes do laboratório, inclusive aquela luz vermelha que nos permite trabalhar, e bateu uma foto de umas meninas no escuro total. Como não havia nenhuma fresta de luz no ambiente, imaginei que a foto seria um estrago total. Ilusão. O registro ficou quase perfeito porque a pouca luz do flash era suficiente para impressionar o filme. O pouco de luz que surgiu no ambiente, naqueles poucos instantes, foram suficientes para registrar a foto.
Quando a luz, por menos que seja sua quantidade, penetra a escuridão, traz uma revelação total do ambiente. Nunca esqueçamos disso. E, quando qualquer coisa é trazida para a luz, então a sua verdadeira natureza é revelada (Ef. 5. 13). É assim que vejo a relação entre nós, Deus e o nosso pecado. Muitas vezes, os nossos pecados são tão interiores que temos a impressão de sermos capazes de os ocultarmos até de nós mesmos. Porém, em todos os momentos em que nos vemos diante do Senhor, na presença dEle, é como se o flash daquela máquina iluminasse a sala escura do nosso coração. E os pecados mais escondidos são trazidos à tona. As culpas mais ocultas são reveladas, como aquela foto que meu professor tirou no escuro.
Vejo isso em mim, mas vejo isso ainda no primeiro casal. Desobedecendo a Deus, perceberam a grande besteira que fizeram, tiveram consciência imediata de seu pecado e culpa. Nesse momento os olhos dos dois se abriram, e eles perceberam que estavam nus. Então costuraram umas folhas de figueira para usar como tangas (Gn. 3. 7). O sentimento de vergonha surge da consciência do pecado e da desobediência. É preciso se esconder dos olhos do Deus que tudo vê. Nossa atitude, quando na presença do Senhor, é semelhante à do primeiro casal: quando pecamos, a consciência de nossa culpa e vergonha nos empurra à tentativa de nos escondermos. Queremos ocultar, se possível de nós mesmos, a nossa falta.
Naquele dia, quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a mulher ouviram a voz do Senhor Deus, que estava passando pelo jardim. Então se esconderam dele, no meio das árvores. A primeira atitude que tomamos, coração consciente do pecado, é tentarmos nos esconder do Senhor. Sabemos que o Deus a quem servimos é santo e sabemos que aborrece o pecado. Constrangidos e envergonhados por nosso pecado, como o primeiro casal, buscamos refúgio e esconderijo contra os olhos perscrutadores do Deus vivo. Temos a ilusão de que, pecadores, o melhor a fazer é correr para longe do Senhor. Temos medo que Ele nos consuma. Por isso, é tão comum que um pecado que cometamos seja o suficiente para nos tirar por completa da presença de Deus: achamos que Deus não pode mais nos restaurar, que vai nos fulminar e, por isso, decidimos fugir dEle. Mas a nossa ilusão é tão imensa que Ele vem atrás de nós, nos procurando. Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: - Onde é que você está? (Gn. 3. 9). Ao mesmo tempo, continuamos com a vergonha e a culpa pelo pecado: não adianta nada fugir. O caminho é ir na direção de Deus, por mais que doa a culpa, porque só Ele, em Sua graça, pode providenciar a restauração: Mas, onde abundou o pecado, a graça de Deus aumentou muito mais ainda (Rm. 5. 20). Ele tem graça para nos perdoar, vida a nos dar, mesmo quando não acreditamos mais nisso.
Vocês que me lêem não me conhecem o suficiente e diante de vocês eu não estou exposto. Nem mesmo as pessoas que convivem comigo podem ter noção dos meus pecados, dos segredos do meu coração, das sujeiras que, vez por outra, sou obrigado a limpar do meu interior. Só eu mesmo, e somente quando me exponho diante do Senhor, posso conhecer a sujeira do meu interior, o quão miserável e pecador eu sou, o quanto preciso, todo dia, de mais e mais da graça do Senhor. Posso me esconder de todo mundo, mas não posso me esconder de Deus. E exposto diante de Deus, estou exposto a mim mesmo. Não posso me esconder de mim também. A verdade me expõe e me mostra que eu preciso desesperadamente do meu Salvador. E você também. Não tenha ilusões de santidade e de pureza: se não for o Senhor na sua vida, você está perdido. Como eu, como o primeiro casal, como todos os homens, você precisa da graça de Deus para ser perdoado e limpo de suas culpas: Antigamente, por terem desobedecido a Deus e por terem cometido pecados, vocês estavam espiritualmente mortos. (...) Mas a misericórdia de Deus é muito grande, e o seu amor por nós é tanto que, quando estávamos espiritualmente mortos por causa da nossa desobediência, ele nos trouxe para a vida que temos em união com Cristo. Pela graça de Deus vocês são salvos (Ef. 2. 1 e 4 – 5).

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