O profeta que essa gente prefere é aquele que anda pregando mentiras e falsidades, prometendo vinho e cerveja para todos.
Miquéias 2. 11
Costumo dizer que há uma fórmula garantida para encher uma igreja no domingo à noite. Basta que na manhã a gente chegue ao púlpito prometendo que aquela noite será noite de cura, sinais, maravilhas e milagres: restauração para a vida financeira, cura de doenças incuráveis, bênçãos as mais diversas. Se quisermos uma igreja cheia basta prometermos vinho e cerveja para todos.
Serei um tanto repetitivo. Estamos cansados de ver um tipo de evangelho que, por mais que promova mentiras e falsidades, atrai multidões por se tratar de uma mensagem fácil e agradável. Essa gente prefere isso.
Quantas vezes já ouvimos ou vimos o testemunho de alguém, no rádio ou na tevê, que garante que sua vida era uma tristeza: dívidas, doenças, trabalhos espirituais contra si. Até que um dia uma tal igreja mudou a sua vida. Isso mesmo. Nem se preocupa em atribuir a mudança a Cristo, mas foi a igreja mesmo a responsável pela transformação. Apelo fácil, sem cruz, discipulado, mudança de vida, santidade. Apelo fácil, sem Cristo. Porque é esse o profeta que essa gente prefere é aquele que anda pregando mentiras e falsidades, prometendo vinho e cerveja para todos.
Outro dia estava navegando pela Internet e descobri que a liderança de um grande movimento evangélico do país, o G 12, estava vendendo uma tal de “unção de nobreza”. Isso mesmo: vendendo. Como se fosse um carnê, o líder negociava este título de nobreza em troca de dez mil reais. Aqui a situação ainda é mais grave. Não é um simples apelo que dispensa a Cristo e promete bênçãos e mais bênçãos. Agora não há mais necessidade de apelo ou subterfúgio. Como se fosse Tetzel nos dias de Lutero, vende-se abertamente a bênção e a unção do Senhor. E muitos, como se fossem Simão, o Mago, compram-na, na esperança de terem algo do Deus que não negocia Sua presença. O profeta que essa gente prefere é aquele que anda pregando mentiras e falsidades, prometendo vinho e cerveja para todos.
Muitos nas nossas tevês, falando em nome de Cristo, promovem verdadeiras festas de confissão positiva. A fé se converte em uma simples moeda de câmbio espiritual com o Deus do Céu. Se eu tiver a fé, defendem esses profetas, eu compro com ela o que quiser na presença de Deus. Se as bênçãos não vêm, se eu não sou curado, se não recebo a graça necessária, tudo acontece unicamente porque não usei muito da moeda da fé. Pobre de fé, serei pobre da bênção e presença de Deus. E esse Deus negociante se converte em um escravo do homem que, caso tenha muito tesouro de fé, pode obrigar o próprio Deus a realizar aquilo que ele, homem, deseja. E muitas igrejas estão cheias porque assumem essa pregação, fácil, barata e sem cruz e Cristo. Porque o profeta que essa gente prefere é aquele que anda pregando mentiras e falsidades, prometendo vinho e cerveja para todos.
Mas ainda muitos de nós amamos estar em reuniões onde se levantam profetas ou profetisas que nos entregam mensagens em nome do Pai. Conheço muitos irmãos que freqüentam essas reuniões apenas para ouvir palavras proféticas. Mas como se frustram quando a palavra enviada por Deus não é exatamente aquela que eles imaginavam ou queriam. Como é perturbador receber uma palavra, não de bênção, mas de repreensão. É muito fácil, nessa hora, não aceitar a palavra como vinda de Deus. Queremos, buscamos, temos sede de profecias, mas esperamos por aquelas que prometam festa, bênção, alegria, realização, vinho e cerveja para todos.
No entanto, não precisam ser palavras proféticas desse gênero revelatório. Pregadores são rejeitados por nós, em nossas igrejas, se o teor de suas mensagens se centram no desafio constante à conversão. Rejeitamos, às vezes com palavras piedosas, como aquelas que dão conta de falta de amor, os pregadores que nos desafiam ao discipulado, à cruz, à mudança, à conversão. Imagino que alguns de nós que rejeitam estas mensagens e pregadores, rejeitariam também a Jesus, pregador constante do desafio e da mudança: Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a si mesmo. Não pode ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhar. (...) Assim nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não deixar tudo o que tem (Lc. 14. 26 – 27 e 33).
Esse texto é um alerta. Existe muita pregação fácil no universo religioso brasileiro. E existem multidões seguindo esses espetáculos religiosos. O nosso desafio é não sermos como o povo que só aceita o profeta que prega festa, bênção, alegria; não sermos um povo que vivencia uma religião barata, de entretenimento, cura, show, mas sem Cristo. Porque a mensagem de Cristo, lembre sempre disso, é desafio, é Cruz, é morte, juízo, vida e ressurreição. Não uma ou outra dessas coisas, mas todas elas. Não pode ser discípulo de Jesus quem omite uma dessas coisas. Palavras fáceis são facilmente seguidas, mas não conduzem à vida. A mensagem que chamamos de evangelho é bem diferente: Porque, quando estive com vocês, resolvi esquecer tudo, a não ser Jesus Cristo e principalmente a Sua morte na cruz (1 Co. 2. 2). Que sejamos um povo que se rende e segue, inteiramente, o Deus da Cruz, e não um povo que quer acreditar em mentiras e falsidades.
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