23.11.05

Se Jesus nascesse hoje

Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores, não os bons.
Marcos 2. 17

Se Jesus nascesse hoje em Natal, minha cidade, tento imaginar com quem e onde Ele andaria. Uma certeza muito clara que tenho tido é que Ele não andaria com muita gente daqueles que hoje enchem nossos templos religiosos e participam de festas e celebrações em Seu nome. Tenho a impressão que Ele não seria alguém muito “igrejeiro”. Estaria lá, para ensinar, mas vejo em Jesus a experiência da vida de fé vivida no meio do povo. E, mais especialmente, vivida no meio do povo que mais precisava se sentir valorizado.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, imagino que vez por outra poderíamos encontrá-lo em igrejas. Em algumas, denunciaria seus pecados de omissão ou de ação contrária à Sua Palavra. Em outras, elogiaria sua capacidade de experimentar uma espiritualidade mais plena. Em umas poucas, manifestaria o entusiasmo de encontrar um povo que segue Seu nome da maneira como Ele sempre desejou. De vez em quando, encontraria crentes de todas as igrejas para lhes encorajar à perseverança, mesmo que sejam desprestigiados em suas comunidades.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, imagino que seria bem mais fácil encontrá-lo ao lado dos povos da rua, dormindo sob as marquises do centro da cidade, pedindo nos ônibus com as crianças de fala decorada. Acho que uma hora dessas Ele poderia ser encontrado tomando um cafezinho em uma das muitas desprivilegiadas casas do Paço da Pátria, conversando animadamente com uma senhora, de rosto sofrido, com pouco mais de cinqüenta anos que pesam como se fossem oitenta. Após o café, certamente Jesus iria até a boca de fumo mais próxima – Jesus no meio de uma venda de drogas – conversar com aqueles jovens que nunca tiveram ninguém que os valorizassem, a não ser drogas e traficantes. Em todos esses lugares e momentos, Jesus manifestaria o amor que valoriza as pessoas como elas jamais se sentiram valorizados.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, passaria despercebido pela maior parte dos religiosos cristãos de nossos templos e igrejas. Preocupados com normas, ritos e autoridades, não perceberiam que Jesus estava onde sempre andou enquanto esteve nas ruas da Palestina. Jesus não veio para dizer aos que sentiam valorizados que eles tinham valor e faziam tudo certo. Confrontou os fariseus, chamando-os de cegos, possivelmente porque foram incapazes de ver que o Messias veio para os que estão presos, para os que estão famintos, para os que não têm valor. Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores, não os bons. Jesus não andaria com os crentes de nossas igrejas. Pelo contrário, nós O encontraríamos lado a lado, em papos animados, com os piores pecadores que podemos imaginar.
Quem me dera ser achado entre aqueles que andariam lado a lado com Jesus. Arrependido, transformado, renovado. Capaz de ouvir Sua santa voz, Seu ensino. Experimentando, em profundidade, o Seu amor renovador, restaurador, amor que nos faz ter novo valor. O Messias esperado não correspondeu às expectativas humanas. Surpreendeu, também ao escolher as coisas que não são do mundo para envergonhar tudo o que tem valor. Quem dera você fosse achado entre aqueles que andariam lado a lado com Jesus nas ruas de Natal. Entre aqueles que reconheceriam a Sua presença entre nós.
O problema é esse. Não reconhecemos a Sua presença entre nós. Não precisamos esperar que Jesus nascesse de novo, em Natal, para estarmos certos de que Ele anda, realmente, nas ruas do Paço da Pátria ou dorme nas marquises do centro da cidade com os moradores de ruas. Se somos incapazes de perceber isso e de viver isso; se nossa vida cristã se resume a uma religiosidade formal e domingueira; se não percebemos que viver Cristo é ir e fazer-se instrumento de Sua paz; se tudo isso, estamos andando longe dEle. Ele anda entre nós. Seu amor está entre nós. Ele fez uma opção pelos pecadores. E deixou uma tarefa para que eu e você a cumpramos. Estar no centro da vontade de Deus não é uma experiência mística qualquer, mas é se colocar como instrumento do Reino de Deus onde o Reino de Deus precisa ser vivido. É levar o valor que Deus dá à humanidade pecadora onde essa mensagem precisa ser ouvida. A começar de nossos corações.

Um comentário:

Anônimo disse...

olá Dandan... acho que nunca comentei no teu blog!!! Adorei esse texto!!! fala exatamente o que eu quero que o Povo consiga compreender que não é necessari salgar o salgado e muito menos iluminar o que já esta iluminado...
beijus.:***