Está chegando a hora da Babilônia; os seus dias já estão contados.
Isaías 13. 22.
Fico imaginando como deve ser terrível ouvir de alguém que os nossos dias estão contados, que nos encontramos na iminência do fim das coisas. Não penso apenas – mas também – naquelas pessoas que, de alguma maneira, são sentenciados à morte, seja por doença ou outra coisa qualquer. Porque acredito que o mais duro e inimaginável é ouvir que uma civilização e uma cultura estão com os dias contados.
Não sei se consigo contemplar o impacto que isso causaria na minha vida, mas imagino que meu coração se esfarelaria, em temor e tremor profundos. É terrível imaginar que toda a sociedade e cultura que conheço têm os dias contados para o seu fim.
Essa é mensagem de Isaías para a Babilônia: os seus dias já estão contados. Imagino o desespero que deve tomar a alma de alguém que ouve uma palavra como essa e a toma a sério. Desespero de saber que não haverá possibilidade de fuga, que o mundo em que se encontra se acabará por inteiro, nada será depois como se conhecia até ali. Suspeito que seja sensação assemelhada aquela que têm os passageiros de um avião em queda: o desespero é saber que o fim é certo e não se pode fazer nada contra isso, nem se pode fugir para lado algum.
Jeremias falou algo semelhante contra Jerusalém e tantas vezes que o povo, incomodado pelo desespero de saber que o fim da cidade e do templo estavam próximos, o ameaça de morte e depois o lança no fundo de um poço para que se cale e morra de fome (Jr. 38). A cidade e o templo tinham os dias contados mas o povo preferiu não tomar a sério as palavras do profeta para não ter de encarar a realidade. Preferiu tentar silenciá-lo das mais diversas formas.
Nos dias de Jesus, a partir do ministério de João Batista, a mensagem era essa, dita tanto pelo profeta quanto por Jesus: Arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do Céu está perto! (Mt. 3. 2 e 4. 17). Uma das dimensões que estava clara na mente de todos da proximidade do Reino era o juízo de Deus contra o povo. Naqueles dias, as pessoas começavam a tomar consciência que a cultura judaica, tal como era conhecida estabelecida na Palestina, estava com os dias contados. Isso está nitidamente na mente de João quando ele prega: Ninhada de cobras venenosas! Quem disse que vocês escaparão do terrível castigo que Deus vai mandar? (Mt. 3. 7). E está também na mente e no cerne de todo o ministério de Jesus. Nos Seus últimos dias, Jesus anuncia isso com clareza aos discípulos: Jerusalém será tomada, o templo será destruído e aquela civilização vai encerrar seus dias (Mt. 24, Mc. 13, Lc. 21).
Essas são palavras terríveis. Quando penso que meu mundo pode estar a ponto de se acabar temo e tremo profundamente. Às vezes tenho medo de que seja isso que se esteja desenhando contra a civilização cristã de nossos dias, ou mesmo o mundo de nossas igrejas. Porque essas palavras, as de Jeremias, as de Jesus e as de João foram dirigidas contra ninguém menos que o povo escolhido de Deus. Ser povo de Deus, portanto, não nos poupa de juízo.
Por outro lado, Isaías fala contra a Babilônia. É certo que o juízo de Deus começa em Sua casa, em nós, mas para remover de nós todo resquício e embaixada de Babilônia. É por isso que podemos ter esperança. Deus não lança palavras de juízo sem providenciar escape de misericórdia ao mesmo tempo. E a misericórdia do Senhor, nesses casos, se manifesta na possibilidade que temos de nos lançar ao cuidado amoroso do Pai que será capaz de cuidar de todos nós nas situações de pior desajuste possível. Por isso, Jesus nos clama: Arrependam-se dos seus pecados e creiam no evangelho (Mc. 1. 15).
O nosso mundo pode estar condenado. Pode estar se acabando. Podemos temer. Podemos tremer. Podemos nos angustiar. Mas para nós ainda haverá saída. Uma única. Lançar-se aos cuidados do Deus amoroso que se revela no evangelho, convertendo-se e crendo nele. Deus permite que nosso mundo se acabe, vez por outra, ou mesmo o faz acabar pelo Seu juízo, para que aprendamos a depender única e exclusivamente dEle.
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