E proclamavam uns aos outros:
“Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos de Anjos.
Sua glória deslumbrante enche toda a terra”.
Isaías 6. 3
O ser humano finito que se depara com a Santidade de Deus, a Realidade Última da Existência, a Sua ação poderosa e amorosa, sofre um impacto imensurável.
Foi assim, por exemplo, no episódio da pesca maravilhosa conforme contada por Lucas. Após testemunhar o milagre, Pedro ficou atônito (Lc. 5. 8):
Assim que presenciou aquilo, Simão Pedro ajoelhou-se diante de Jesus e pediu: “Senhor, afaste-se de mim. Sou um pecador e o senhor é santo demais para mim. Deixe-me sozinho”.
Deparar-se com Deus sempre representou um pavor de morte: como pode viver um pecador diante do Deus vivo e santo?
No relato de Juízes sobre Gideão (6), o mesmo sentimento de pavor se faz sentir quando o futuro juiz de Israel compreende que está diante do Senhor (Jz 6. 21-23):
O anjo do Eterno estendeu a ponta do cajado que carregava e tocou a carne e o pão. Na mesma hora, saíram chamas da pedra, e elas queimaram a carne e o pão, enquanto o anjo do Eterno sumia de vista. Gideão finalmente entendeu que aquele era o anjo do Eterno!
Gideão disse: “Ah! Senhor, Eterno! Eu vi teu anjo face a face!”.
Mas o Eterno o tranquilizou: “Não se preocupe. Não se apavore. Você não morrerá”.
Estar diante do Santo é perceber-se pecador. A luz que brilha na santidade, revela os recônditos da alma, faz parecer que os nossos piores e mais sujos segredos estão revelados, expostos em braça pública. A sensação é de que morreremos diante do Santo.
No livro de Êxodo (33), Moisés pede a Deus para ver a sua face, mas não era possível que isso se desse (Ex 33. 18-20):
Moisés, então, disse: “Por favor, permita que eu veja a tua glória”.
O Eterno respondeu: “Farei passar minha bondade diante de você. Pronunciarei o nome, o Eterno, bem na sua frente. Tratarei bem os que eu quiser tratar bem e serei bom com quem eu quiser ser bom”.
O Eterno continuou: “Mas você não poderá ver meu rosto. Ninguém pode me ver e continuar vivo”.
Estar na presença de Deus foi, para esses homens, temível. Prostraram-se aterrorizados. Isaías ainda afirma (Is. 6. 5):
Eu disse:
“Juízo! É o dia do juízo!
Estou perdido!
Cada palavra que falei na vida era podridão,
soou como blasfêmia!
E o povo com que vivo fala da mesma maneira,
são palavras que corrompem e profanam.
E agora olhei diretamente para Deus!
O Rei! O Senhor dos Exércitos de Anjos!”
A maravilha desse Deus cuja glória resplandece em toda a terra, que revela à sua luz os nossos piores segredos, que nos mostra diante dEle a nossa limitação e fragilidade, é que Ele estende a mão, perdoando (Is. 6. 6):
Então, um dos serafins voou até mim. Ele segurava na mão uma brasa que havia tirado do altar com uma tenaz. Tocou minha boca com ela e disse:
“Esta brasa tocou seus lábios.
Sua culpa se foi,
seus pecados foram apagados”.
O toque do perdão é o mesmo toque que nos impulsiona ao serviço - “Eu irei. Envia-me!” (Is. 6. 8).
Esse é o pano de fundo ideal para entendermos a riqueza da glória de Deus que se manifesta inteira e unicamente em Jesus Cristo. Nele reconhecemos a sua glória. Ele expõe os nossos segredos sujos - aos seus olhos, tudo está revelado. Ele é a face de Deus que podemos olhar sem temer a morte porque assumiu a nossa humanidade para que isso se tornasse possível.
A face visível de Deus é amor, perdão, restauração. É o toque nos lábios que apaga a culpa, faz esquecer o pecado, santifica a vida, enche o coração e, na dimensão do toque amoroso, nos leva ao serviço em amor.
Em Jesus, o temor e o pavor de morte que impactam os mortais pecadores em sua relação com Deus não têm mais sentido. Em Jesus, o que tem sentido é encontrar um Deus que ama, perdoa e acolhe, mesmo o pior dentre todos nós.
Mas Cristo nos uniu por meio de sua morte na cruz. A cruz nos leva a abraçar uns aos outros, e faz cessar a hostilidade. Cristo veio e pregou a paz a estrangeiros como vocês, que não são judeus, e também aos judeus, que já conheciam Deus. Ele nos tratou como iguais e nos fez iguais. Por meio dele, compartilhamos do mesmo Espírito e temos igual acesso ao Pai.
Efésios 2. 16-18
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