1.2.17

Ídolos

Ele derreteu todo aquele ouro e modelou, com uma ferramenta de escultor, a forma de um bezerro.
A reação do povo foi de entusiasmo: “São esses os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!”.
Êxodo 32. 4


O capítulo 32 do livro de Êxodo tem uma mensagem muito clara para mim: mesmo diante da mais poderosa manifestação de Deus podemos construir uma religião, com nossas próprias mãos, que, mesmo se referindo a Ele, se afasta dEle. Uma religião que chama pelo nome de Deus um ídolo feito por mãos humanas.
O episódio me diz que não adianta estar diante de Deus: vamos sempre querer construir nosso próprio caminho religioso. A religião é, normalmente, um mecanismo humano que tenta ligar homens com homens para se aproximarem do Eterno, da Realidade Última da Existência.
Como em Babel (Gn. 11), construímos um edifício, uma torre, com tijolos que nós mesmos queimamos. Queremos chegar no céu, queremos alcançar Deus, queremos tornar nossos nomes conhecidos.
Mais que isso.
Se eu não sei o que aconteceu a Moisés, a tantos dias oculto na montanha enquanto conversa com Deus, se eu me sinto perdido, eu quero uma religião na qual eu controle as regras, os ritos, os processos e, se possível, o próprio Deus.
O bezerro é feito pelas ofertas dadas pelo povo. Feito pelo sacerdote. Nomeado pelo sacerdote:

“São esses os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!”

É o sacerdote que anuncia que no dia seguinte haverá uma festa em honra ao Deus que os tirou do Egito - Yahweh. O sacerdote nomeia o Deus que ele mesmo fabricou: não é qualquer Deus, qualquer bezerro, mas é Yahweh, o Deus que os tirou do Egito.
Sinto que muito de nossa vida religiosa segue assim: mesmo diante do Deus vivo, somos incapazes de vê-lo e, assim, construímos ídolos que chamamos pelo nome desse Deus, mesmo que tenha pouco a ver com Ele.
Muito da nossa espiritualidade depende de uma imagem acerca de Deus que muitas vezes não corresponde àquela revelada nas Escrituras e em Jesus.
Muito da nossa espiritualidade depende de uma religiosidade que construímos com nossas próprias mãos, a partir daquilo que oferece o povo que crê, manipulado no fogo pelos sacerdotes.
Muito da nossa espiritualidade, diante do Deus vivo, caminha a passos largos para longe dEle.
Jesus tratou disso em outra região montanhosa, no meio do território dos samaritanos, ao lidar com um povo que, ele mesmo, se organizou em torno de uma proposta religiosa derivada do culto a Deus na forma de um bezerro (1 Rs 12. 29):

Mulher, acredite, está chegando a hora em que vocês, samaritanos, irão adorar o Pai, mas não neste monte nem em Jerusalém. Vocês adoram como que tateando no escuro. Nós, judeus, adoramos na clara luz do dia. O caminho de Deus para a salvação veio por meio dos judeus. Mas chegará o momento — na verdade, já chegou — em que não importará como vocês são chamados ou onde irão adorar.
O que conta para Deus é quem você é e como vive. Seu culto deve envolver o seu espírito na busca da verdade. Este é o tipo de gente que o Pai está procurando: aquele que é simples e honesto na presença dele, em seu culto. Deus é Espírito, e quem o adora deve fazê-lo de maneira genuína, algo que venha do espírito, do mais íntimo do ser”.
João 4. 21-24


Que nossa adoração prescinda de qualquer ídolo ou imagem de Deus que construamos por nossa própria força. Que nossa adoração venha do espírito, do mais íntimo de nosso ser, sempre.

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