Atitude do coração
Habacuque 2. 20
É comum que ouçamos instruções para igrejas se porem de pé para a leitura da Palavra de Deus em sinal de reverência. Ou a obsessão pelo silêncio absoluto em nossos cultos como manifestação de reverência ao Senhor. Em outras palavras, nossa tendência tem sido a de normatizar a reverência, forçando-a a partir de regras de posturas e de comportamentos, que atendem, na verdade, muito mais a nossa necessidade de ordem na vida do que significam sermos reverentes de verdade. A reverência é uma atitude de coração. Por isso, tenho percebido que mesmo as pessoas mais preocupadas com a ordem em nossos cultos são das mais irreverentes, porque não se depararam, conscientemente, com o coração santo do Senhor. Ao menos, não se apercebem disso. Seus corações não se calam diante do Senhor.
Reverência é uma atitude de coração. Não é normatizável, não pode ser exigida. Apenas pode ser vivida. Apenas pode ser experienciada. Reverência é a única atitude possível para aquele que se vê diante do Deus Vivo. Não é pensada, é apenas reativa. Ela simplesmente acontece como resultado de nossa comunhão com o Deus Santo. A presença de Deus nos paralisa. Porque, como eu já disse, Ele é Santo e eu sou pecador.
O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra (Hc. 2. 20). O verdadeiro adorador, o sedento que busca dia e noite pela face de Deus, que O adora em espírito e em verdade, que vive a Sua intimidade, não tem outra escolha. Deparar-se com o Deus vivo é calar a mente e o coração. É quedar-se paralisado e silenciado diante do êxtase da Presença, da Glória e do Abalo. Não é uma atitude escolhida, mas é o resultado de se estar diante de Deus. Entrar na presença de Deus forçosamente tem como resultado, diante da consciência do abismo e da distância entre o nosso ser e o Ser Criador, o silêncio e a reverência.
Deus está aqui. Eu sinto o impacto de Sua Glória me envolvendo. O povo parou diante do Sinai. A nuvem da Glória do Senhor desceu sobre o monte. O som como de trombetas, vindo do céu, era ensurdecedor. Moisés subiu para se encontrar com Deus. O povo tremeu. O monte tremia e fumegava com a presença do Senhor. Os corações tremiam e temiam. Tudo era aterrador. Diante de Deus tão Santo e Poderoso, todo coração se cala, todo joelho se dobra, todo ser se curva, toda mente adora. É inevitável. É inevitável perceber a grandeza e o poder de Deus e silenciar por inteiro.
Por isso, a irreverência que podemos perceber em nossa volta é um entristecedor sintoma de um problema mais sério. Nossas vidas espirituais têm sérios problemas. Não temos ido ao Senhor. Ele não nos tem impactado. Logo, nossos corações não podem se quedar silenciados, tementes e reverentes ao Deus Santo. Porque não temos ido a Ele. A irreverência não é o principal de nossos problemas, mas apenas indica o maior de todos: a intimidade do Senhor é uma coisa da qual passamos distantes, a qual desconhecemos. Não a queremos, não a buscamos. Não a julgamos importante. Aumentamos nossa falsidade, superficialidade e mentira. Nossa irreverência. Cantamos com toda empolgação que Deus é tudo o que temos, mas fugimos de um real e transformador encontro diário com Ele.
Reverência não é algo que as normas da igreja podem impor ao coração. Reverência é algo que nasce do contato íntimo e pessoal entre o cristão e o seu Deus, que é Santo. O monte tremia, o fogo ardia, o povo ouvia a voz do Senhor como trovões. Atemorizado. Reverente. A terra inteira se calava diante do Deus vivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário