Transparência
1 João 1. 5 – 7.
Quando pecava, Davi assumia seu pecado publicamente, diante de todos. Quando errava, encarava a si mesmo e a Deus com honestidade. Mesmo em seu pior momento, sua transparência, por fim, se ressaltou. O pecado de Davi na história com Bate-Seba é relatado em 2 Sm. 11. Ele adulterou, mentiu e assassinou Urias, o marido traído. E fingiu um tempo. Mas aí Deus enviou Natã para repreender o rei. Ele assumiu e confessou seu pecado: Eu pequei contra Deus, o Senhor (2 Sm. 12. 13). Uma série de salmos de arrependimento são atribuídos ao rei e às suas vivências nesse período. Mesmo sendo rei, liderança do Povo de Deus, ele não tinha medo de mostrar sua fragilidade e de parecer fraco. Ele era igual ao povo: nem mais, nem menos santo.
Enquanto não confessei o meu pecado, eu me cansava, chorando o dia inteiro. (...) Então eu te confessei o meu pecado e não escondi a minha maldade. Resolvi confessar tudo a ti, e tu perdoaste todos os meus pecados (Sl. 32. 3 e 5).
Estou me afogando nos meus pecados; eles são uma carga pesada demais para mim (Sl. 38. 4).
E o principal destes salmos: Pois eu conheço bem os meus erros, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti eu pequei – somente contra ti – e fiz o que detestas. Tu tens razão quando me julgas e estás certo quando me condenas (Sl. 51. 3 – 4).
É curioso pensar que, mesmo que esses salmos atribuídos a Davi não tenham sido escritos por ele, a visão que o povo tinha de seu principal rei era a esse ponto fantástica. A tradição e a história de Israel não se importavam de que seu rei parecesse fraco, assumindo publicamente seus erros. Ele podia se mostrar fraco, pecador, frágil, e, ainda assim, era a referência espiritual de toda uma nação. Aliás, era um homem segundo o coração de Deus. Porque era um homem transparente. Não se escondia, não fingia ser o que não era, não temia se mostrar frágil, se mostrar infantil em sua celebração a Deus. Não se conformava às imposições que a sociedade poderia lhe exigir devido ao seu papel de rei. Provavelmente foi isso que ganhou a confiança, o amor e admiração de Israel. E foi aí que ele se tornou homem segundo o coração de Deus.
Vivemos uma época, parece, que ser transparente e demonstrar a nossa fraqueza e fragilidade são encarados como pecados e defeitos mortais. Líderes evangélicos são vistos por aí, dedo em riste, gritando a sua fortaleza, o valor da sua fé. Ninguém se quebranta. Ninguém se revela. Ninguém é honesto e transparente. Parece não haver, entre eles, qualquer pecado. Ninguém é pecador. São como aqueles fariseus dos tempos de Jesus que atavam pesadas cargas sobre os convertidos, mas não lhes ajudavam nem com um dedinho a carregá-las. Pecado mortal parece ser assumir a própria fraqueza e fragilidade. Ser transparente. Mas, se dizemos que não temos pecados, estamos nos enganando, e não há verdade em nós (...). Se dizemos que não temos cometido pecados, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua mensagem não está em nós (1 Jo. 1. 8 e 10).
João escreve que Deus é luz. Quer dizer, todas as coisas são transparentes diante dEle. Nada pode se esconder. Ninguém pode. Não há como preservar pontos escuros em nossa vida ou personalidade. Todas as coisas se revelam ante o Senhor. Se tentamos esconder algo em nossas vidas, se tentamos fazê-las não transparentes, então estamos mentindo com palavras e ações.
Por outro lado, se assumimos vidas transparentes diante de Deus e de nossos irmãos, vivemos na luz, como Deus está na luz. Estamos unidos uns com os outros, unidos com o Pai, e o sangue de Jesus, o seu Filho, nos limpa de todo pecado.
Paulo não se preocupava em esconder suas fraquezas das igrejas. Por várias vezes ele se assume como o maior dos pecadores, o principal deles. O cume dessa caminhada acontece quando o apóstolo escreve aos Coríntios, dizendo que pedira ao Senhor que lhe removesse um espinho na carne enviado por Satanás, ao quê Jesus negou três vezes: A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco (...) Eu me alegro também com as fraquezas, os insultos, os sofrimentos, as perseguições e as dificuldades pelos quais passo por causa de Cristo. Porque, quando perco toda a minha força, então tenho a força de Cristo em mim (2 Coríntios 12. 9 e 10).
O caminho para sermos cristãos segundo o coração de Deus é buscarmos uma vida de transparência e honestidade. Não escondendo coisa alguma nem de nós nem dos outros. Porque Deus é luz e diante dele todas as coisas são translúcidas. Nossa fraqueza, nossa fragilidade, nossa vida. Ser cristão é ser transparente, deixando que a luz de Deus brilhe através de nós e em nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário