3.3.05

No pó e na cinza

Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.

Jó 42. 5 – 6.

Ao se deparar finalmente com o Deus vivo, Jó reconhece que não é nada, não passa de pó e cinza. Diante da glória do Deus de todo universo, a sensação de nulidade pessoal é tremenda. Outros homens passaram por experiências semelhantes, como Daniel, Ezequiel, Isaías, João. Tudo isso acontece porque a visão do Deus de toda glória deixa uma marcante impressão do Espírito na alma. Essa impressão nos conduz ao reconhecimento de que não somos nada sem a graça de Deus.

Nada podemos e nada somos sem a graça de Deus. A velha música já dizia que Senhor eu não sou nada diante do Teu poder... Paulo era tão consciente disso que se expressa de maneira bela: Mas, pela graça de Deus, sou o que sou (1 Coríntios 15. 10). E a essa atitude do coração do apóstolo Jesus responde em outro ponto, dizendo que a Sua graça lhe bastava (2 Coríntios 12. 9).

Jó obteve a resposta ao seu clamor. O próprio Deus veio até ele no meio de um redemoinho e expôs a Sua causa. Esse encontro transformador na vida de Jó o levou a reconhecer plenamente que não era nada e não podia nada diante de Deus. Tinha falado um monte de bobagem porque só conhecia Deus de ouvir. Agora sim, tinha um conhecimento concreto do Senhor. Agora O via. Agora estava diante de Sua glória. Agora percebia a sua própria nulidade.

A questão volta a ser a intimidade. Deus tinha um projeto amoroso na vida de Jó em tudo o que acontecera. Jó era, certamente, um servo fiel e íntegro. Ninguém poderia questionar isso, nem mesmo o próprio diabo. Ele permaneceu fiel em todo o tempo, apesar de suas ações terem demonstrado que ele chegou perto de se perder no desespero. Mas o plano de Deus nisso tudo era maior.

Deus chamava Jó para uma vida de maior e mais plena comunhão e intimidade com Ele. Não adiantava conhecê-Lo de ouvir, mas Deus queria fazer de Jó um servo que ouvia a Sua voz, que via a Sua face, que O conhecia na intimidade.

Talvez Jó estivesse satisfeito com uma vida religiosa bastante superficial, marcada pelos ritos e sacrifícios. Mas Deus o amava ao ponto de querer transformar sua vida e sua relação de maneira profunda e fundamental. Fundamentalmente Deus estava chamando Jó para se lançar, sem medo, em uma vida de maior profundidade e intimidade com Ele. Para isso, Jó precisava aprender quem era e quem era o Senhor. Precisava aprender que nada era. E precisava aprender a depender em tudo da graça e do poder de Deus. Precisava, enfim, conhecer a Deus em um grau que jamais poderia imaginar ser possível.

Esse processo custa muito, como a própria história de Jó demonstra. É um processo doloroso, de sofrimento e solidão, mas um processo cujo fim é de alegria inenarrável. A alegria de finalmente conhecer a Deus na profundidade, na intimidade e na dimensão do amor que Ele é. Ele nos conduzirá nesse processo. Os nossos olhos podem ser confundidos pelas nossas lágrimas, que certamente verteremos na caminhada. A gente pode não ser capaz de contemplar muita coisa além de nossos narizes. Pode ser que tenhamos nenhuma capacidade de visão além do alcance. Mas Deus vai estar conosco nos conduzindo ao futuro e à esperança que Ele tem para nós: uma vida de alcance sobrenatural, na comunhão e na intimidade do Senhor.

No fim de tudo, podemos ser capazes de reconhecer que Deus vê nossos problemas de uma maneira muito especial, participa deles e faz com que redundem, ao fim e ao cabo, em glória a Ele e em bênção inimaginável para nós mesmos.

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