6.8.05

O sustento

Não acabará a farinha da sua tigela, nem faltará azeite no seu jarro até o dia em que eu, o Senhor, fizer cair chuva.
1 Reis 17. 14

Sempre admirei o profeta Elias. A sua história traz uma série de detalhes que só servem para nos mostrar a grandeza de Deus ao mesmo tempo em que destaca a profunda humanidade de Elias. Este profeta é um sujeito capaz de, momentos depois de realizar uma grande obra para o Senhor, como o fez no monte Carmelo (1 Rs. 18), fugir em depressão para o meio do nada, tendo que ser resgatado por Deus em pessoa (1 Rs. 19). Instabilidade e humanidade maior seria impossível.
Elias aparece do nada no texto bíblico. Nem genealogia lhe é atribuída. Esse homem de Deus é simplesmente o tesbita, da região de Gileade (1 Rs. 17. 1). E aparece, com autoridade do Espírito, anunciando ao perverso rei Acabe que Deus estava trazendo, sobre Israel, uma seca de alguns anos, seca que durará até que eu diga para cair orvalho e chuva de novo (1 Rs. 17. 1).
Os dias de Elias são dias difíceis. Os fiéis podem ser contados nos dedos. O povo se desviou para seguir os cultos da fertilidade, com direito a orgias de todos os graus, em honra a Baal. No meio dessa profunda crise, Deus decide usar um homem desconhecido e, provavelmente, desacreditado. Sem família, sem genealogia, sem terras, sem bens, Elias, de um ponto de vista humano, não seria considerado muita coisa no contexto judeu. Mas é esse homem que o Senhor decide usar.
Mas aquilo que Deus quer aprontar para o Seu povo é de uma dureza tal que mesmo um fiel como Elias termina por ser vítima e alvo do mesmo castigo que é dirigido àquele povo de duro coração. Deus traz um período de seca e fome em Israel. E esse castigo deve ter despertado no coração do profeta a ansiedade ao pensar como será que ele mesmo conseguirá sobreviver sem água ou alimento.
É nessa hora que Deus ensina a Elias, e nos ensina por tabela, que é profundamente capaz de sustentar os fiéis nas mais inóspitas e complicadas circunstâncias. Deus mostra o Seu cuidado com o profeta providenciando um sustento sobrenatural em dois momentos nos anos de seca. Em primeiro lugar, o sustento maravilhoso da parte do Senhor se manifesta junto ao riacho de Querite. Ali Elias pode beber daquela água enquanto a seca não lhe esgota. E, mais maravilhoso, passa a ser alimentado sobrenaturalmente por corvos que lhe trazem carne e pão a cada manhã.
Depois que a estiagem seca o rio, Deus envia o profeta até a região de Sarepta onde ordenara que uma viúva, mãe de um filho único, lhe sustentasse enquanto durasse a seca. O grande problema é que aquela mulher não tinha muita coisa a oferecer. Aliás, desesperada da vida, ela diz ao profeta que vai comer o pouco que lhe resta com seu filho e esperar a morte. É nesse instante que Deus manifesta, mais uma vez, o Seu cuidado sobrenatural com o profeta. Não acabará a farinha da sua tigela, nem faltará azeite no seu jarro até o dia em que eu, o Senhor, fizer cair chuva.
Quantas vezes, olhando ao nosso redor, a única que conseguimos constatar é estiagem. E estiagem é sempre acompanhada de desolação e morte. Já temos falado disso em outros momentos. Olhamos para os lados e não conseguimos mais ver a Água da Vida gerando vida e frutos nas pessoas à nossa volta. Tudo seco, tudo morto, podemos nos desesperar porque nos sabemos fiéis, mas não conseguimos encontrar nenhum outro fiel com vida. A falta d´água ao nosso redor gera um ambiente e atmosfera de morte e dor.
A seca à nossa volta pode nos desesperar porque podemos acreditar que ela nos alcançará e matará. Não vemos possibilidade de sobrevivência em terreno tão inóspito. Como saciaremos a nossa sede nesse lugar? Como mataremos a nossa fome? Como poderemos sobreviver a tão terrível situação?
Tem dias em que me sinto assim. Como se o mundo à minha volta estivesse se acabando. Como se todo o sustento possível estivesse se esvaindo, sem que houvesse nada que eu fosse capaz de fazer para impedir. Aliás, parece que Deus mesmo gerou essa situação de morte à nossa volta. E me questiono como poderia sobreviver nesse ambiente? Se não consigo ver a ação do Espírito Santo, da Água da Vida, como posso matar minha sede espiritual? Se não consigo constatar a presença do Pão da Vida, como posso saciar minha fome de Deus?
É nessas horas que temos de lembrar que Deus sustenta os Seus fiéis. E de maneira sobrenatural. Em nenhum instante, nos três anos e meio de seca, Elias passou necessidade. Foi sustentado diretamente pelas mãos de Deus, através de corvos e através da viúva. Podemos crer que, mesmo que estejamos no ambiente espiritualmente mais inóspito, Deus é capaz de nos sustentar diretamente e de maneira sobrenatural. Não nos deixará perecer, mesmo que pareça não haver mais chances de sobrevivência.
Além disso, se dependermos dessa forma do sustento de Deus nas horas mais difíceis, é provável que estendamos a Sua bênção até que alcance outras pessoas à nossa volta. No meio da seca, sendo sustentados diretamente pela mão de Deus, podemos alimentar e saciar a sede de outros a nossa volta. O sustento de Elias em Sarepta também foi o sustento da viúva e de seu filho. A bênção de cuidado, de proteção e de vida que Deus derramou sobre o profeta, se estendeu também àquela mulher e seu filho. De igual modo, quando recebemos a vida do Senhor no meio do ambiente de morte em que muitas vezes estamos, é provável que outros possam ser abençoados conosco recebendo vida e sendo mantidos vivos pelo cuidado de Deus.
Os dias de Elias eram dias que pareciam dias de morte, dias de fim de história. Mas esse homem sem história entrou na história de Israel para fazer diferença. E começou por fazer diferença em uma pequena e sofrida família de Sarepta. Começou desafiando o poder inescrupuloso do rei Acabe. Começou sendo mantido e sustentado pelo próprio Deus. Não acabará a farinha da sua tigela, nem faltará azeite no seu jarro até o dia em que eu, o Senhor, fizer cair chuva.

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