Por que estou tão triste? Por que estou tão aflito? Eu porei minha esperança em Deus e ainda O louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu Deus.
Salmo 42. 5 e 11
O autor do Salmo 42 é um homem profundamente atribulado. Sua situação específica, o exílio e a impossibilidade de cultuar a Deus em Sião, pode ser transposta por nós de diferentes maneiras. A angústia do salmista é sentir-se isolado de Deus, ausente de Sua presença, impedido de cultuá-lo com liberdade. É um profundamente angustiado.
Mas ele tem uma esperança que não se firma nas circunstâncias aparentes. Não consigo perceber no texto um coração repleto de ânimo para continuar. Não consigo ver esperança aparente. Ele ora para que a esperança e o ânimo retornem, mas eles não estão lá. Na verdade, no momento em que o salmista declara pôr sua esperança em Deus é como se fosse uma atitude de luta para não desistir. Ele, na verdade, está esperando contra a sua própria esperança. É um homem sem ânimo, sem forças para continuar, mas que se recusa a desistir.
Intelectualmente, Ele sabe do que Deus é capaz de fazer e da vida que Ele pode ainda gerar nessas circunstâncias complicadas em que se encontra. Mas, emocional e espiritualmente, ele está vencido. Não consegue contemplar Deus presente ao seu lado, não consegue alimentar a alma nem prestar um culto a Deus que lhe impacte e vivifique. Por isso, ele diz: Eu tenho sede de Ti, o Deus Vivo! Quando poderei ir adorar na Tua presença? (Sl. 42. 2) Ele tem saudades de Deus, sente falta de poder estar, com liberdade, na presença do Senhor. Por que esqueceste de mim? (Sl. 42. 9).
É um homem profundamente entristecido por causa disso. O meu coração está profundamente abatido e por isso eu penso em Deus. Assim como o mar agitado ruge, e assim como as águas das cachoeiras descem dos montes Hermon e Mizar e correm com violência até o rio Jordão, assim são as ondas de tristeza que o Senhor Deus mandou sobre mim (Sl. 42. 6 – 7).
Alma abatida, coração entristecido e esperança vencida. Quem não se sente assim vez por outra? Você nem sabe mais se vale a pena recorrer a Deus. Você nem sabe mais se Ele “está aí’ para você. Você nem sabe se não é perder de tempo tudo isso. As águas da tristeza afogam seu coração de maneira terrível. Sua esperança se foi e... como recuperá-la?
O salmista transforma seus sentimentos em oração. Uma oração que enfrenta, inclusive, suas próprias resistências pessoais, sua própria falta de fé, sua tristeza e desânimo. Mas Ele ora, esperando contra a esperança, suplicando a Deus que venha até ele e o socorra. Porque o salmista sente falta de Deus, tem sede do Senhor, quer se afogar, não nas águas da tristeza, mas na profunda alegria do coração do Pai. Assim como o corço deseja as águas do ribeirão assim também eu quero estar na Tua presença, ó Deus! (...) Eu porei a minha esperança em Deus e ainda O louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu Deus (Sl. 42. 1, 5 e 11).
Eu sei que nos sentimos assim. Desanimados, entristecidos, como se estivéssemos já vencidos. E sei que não há nada que possa ser dito nessa hora. É como se até as nossas mais íntimas esperanças já tivessem se esgotado. Essa é a hora em que só nos resta pedir ao Pai. Confessar a ele a nossa sede, fome e dependência dEle. Suplicar que, nos vencendo, ajude-nos a esperar contra a esperança. E, principalmente, clamar a Ele que nos dê a fé suficiente para nos livrar do mar de tristeza e nos conduzir a abundância de alegria de Sua presença. E assim, podermos caminhar, com forças renovadas, esperando a restauração de todas as coisas por parte do Senhor. E assim, podermos afirmar, em fé, que ainda O louvaremos com intensidade por todo o livramento que experimentaremos da parte dEle: Eu porei a minha esperança em Deus e ainda O louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu Deus.
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