27.10.05

Desordem e caos

Naquele dia, haverá uma fonte jorrando água, e ali os descendentes de Davi e os outros moradores de Jerusalém poderão se lavar de todos os pecados e de todas as impurezas. (...) Eu os purificarei como se purifica a prata e os refinarei como se refina o ouro.
Zacarias 13. 1 e 9

Dias atrás assisti a um documentário do Discovery Channel em que se falava acerca do planeta Júpiter. Eu não sabia que o maior planeta do sistema solar não tem superfície sólida: Júpiter é uma boa gigantesca de gás. E eu também não sabia que aquela mancha vermelha que muitos de nós já vimos um pouco abaixo do seu Equador é uma enorme tempestade que começou cerca de trezentos anos atrás e não acabou até agora.
Os gases que compõem Júpiter estão em intensa atividade e exercem incalculável pressão. Qualquer corpo sólido que, porventura, penetre na sua atmosfera se desmaterializa, por força da pressão, ainda nas primeiras camadas de gás que atravessa. Os gases que formam o gigantesco planeta têm atividade incalculável. Fiquei imaginando que, por baixo das aparências, Júpiter deve ser a melhor tradução de caos e desordem.
Hoje, enquanto orava, comecei a pensar no que alguém veria se pudesse olhar dentro de mim, por baixo das aparências. Lembrei-me do planeta gigante. Ao olhar para dentro de mim mesmo, vejo refletido ali a mesma desordem e o mesmo caos que se escondem debaixo da beleza de Júpiter.
Dentro mim sopram ventos de velocidades incalculáveis. Dentro de mim há pressões capazes de destruir quaisquer elementos que consigam penetrar o meu mais denso interior. Dentro de mim não parece existir qualquer coisa de sólido. E há uma grande tempestade, constante já há tempos, que se assemelha a uma grande mancha vermelha: o pecado.
Mas parece que no mais absoluto interior do meu coração, por baixo das nuvens densas de nuvens, por trás das piores tempestades de vento, eu vejo uma figura cada vez mais enorme à medida em que se aumentam as manchas e ventos. Fortalecido com a pressão interna, o meu ego cresce e se constitui em uma enorme estatua a quem procuro adorar e que me afasta ainda mais do centro da vontade de Deus. A egolatria, manifestação religiosa do meu egoísmo que tributa louvor àquela minha estatua erigida no meu peito, é caminho de morte. Ela se alimenta do meu caos e ela alimenta a minha desordem.
Em cena famosa de O advogado do diabo, o demônio vivido por Al Pacino diz ser a vaidade – um outro apelido da egolatria – seu pecado favorito. É o pecado de onde tendem a brotar todos os outros e é o pecado que nos conduz, faceiros, no caminho de morte, traçado pelo nosso inimigo. É a vaidade que faz de nosso interior caos e desordem assemelhados àqueles manifestos nos céus de Júpiter.
Naquele dia, haverá uma fonte jorrando água, e ali os descendentes de Davi e os outros moradores de Jerusalém poderão se lavar de todos os pecados e de todas as impurezas. Quando olho dentro de mim e só contemplo caos e desordem – caminho de morte –, tento me lembrar de que ainda não sofri uma sentença final. Posso, ainda, me voltar para o Deus do céu, que é cheio de graça e misericórdia, e ser restaurado do meu tumulto interior por Sua ação direta. Ação que começa com o perdão. Deus dispõe uma fonte – o próprio Jesus – de onde brota água límpida que nos lavará de toda iniqüidade e pecado, que nos restaurará de toda impureza. Para experimentarmos isso, basta nos voltarmos, prostrados, para diante do Deus vivo que nos chama.
Somos chamados a irmos quebrantados para diante do Pai. É preciso que quebremos, com nossas mãos, a estátua que adoramos em nosso coração. É preciso nos humilharmos. Caso optemos por não fazê-lo, Ele virá nos humilhar: Eu os purificarei como se purifica a prata e os refinarei como se refina o ouro. Se preciso for, Ele nos fará passar no fogo para nos limpar. Precisamos entender que Deus fará o que for necessário para que se cumpra em nós o que é Sua vontade. Cabe a nós, no entanto, escolher se vamos optar pelo caminho mais fácil.
Há um tumulto dentro de mim. Gases quentes, caos e desordem. Para dissipar essas grandes tempestades, só me resta vir, quebrantado e humilhado, buscar a fonte de vida que está em Jesus. Somente em comunhão com Ele, poderei beber da água purificadora. Somente andando com Jesus, serei lavado na fonte do Senhor. Somente Jesus pode repreender o caos e a desordem do meu peito.

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