25.10.05

Será que somos povo?

Ninguém vai precisar ensinar o seu patrício nem o seu parente, dizendo: “Procure conhecer o Senhor”. Porque todos me conhecerão, tanto as pessoas mais humildes como as mais importantes.
Hebreus 8. 11

O autor de Hebreus entende uma coisa muito claramente a respeito do povo que vive a dimensão da Nova Aliança firmada em Jesus: o povo da Nova Aliança conhece o Senhor e não precisa ser desafiado a conhecê-Lo no seu dia a dia. Conhecer ao Senhor será uma coisa natural para o povo de Deus. Mais que isso: o povo de Deus deve ser reconhecido como composto pelas pessoas que conhecem ao Senhor a ponto de poder torná-lo plenamente conhecido.
Obviamente, nos colocamos em uma situação difícil. Porque não é raro você se deparar com um monte de gente em nossas igrejas que, por mais cargos que ocupe ou por mais tempo que conviva nas comunidades religiosas, tem nitidamente estampado em seus rostos o profundo desconhecimento do Deus de Israel. Quantos de nós estamos nas igrejas sem conhecer, verdadeiramente, o Deus que se revela em Jesus Cristo? O fato de que Deus convoca tantas e tantas vezes o Seu povo para conhecê-Lo melhor testemunha de que são poucos os que realmente O conhecem entre os que levam o Seu nome.
As causas desse desconhecimento e desconexão entre nós e o nosso Pai – a nossa falta de relacionamento íntimo e profundo com Ele – não são difíceis de constatar. Quantos de nós reservamos a oração e a comunhão com Ele por meio da Palavra – formas praticamente únicas de nos aproximarmos e conhecermos o Pai – a um plano eminentemente secundário em nossas vidas? Quantos de nós não fazemos parte do grupo que não conhece a Deus verdadeiramente – sendo incapaz de ouvir a Sua voz e orientação – e nem se esforçam, pouco que seja, para conhecê-lo? Será que vivendo assim somos, realmente, povo de Deus?
Ninguém vai precisar ensinar o seu patrício nem o seu parente, dizendo: “Procure conhecer o Senhor”. Porque todos me conhecerão, tanto as pessoas mais humildes como as mais importantes. O texto me diz que o povo da Nova Aliança em Jesus não precisa ser lembrado ou ensinado sobre conhecer a Deus porque todos O conhecem. Mas sabemos que isso não traduz a mais profunda realidade de nossas comunidades. E, provavelmente, esse será um fator para a pouca efetividade que temos, como cristãos, no enfrentamento dos problemas do mundo e na proclamação da transformação pela pregação do Reino. Não temo afirmar que influenciamos pouco nas questões decisivas de implementação da vontade de Deus no mundo porque somos muitos crentes, mas poucos dispostos a conhecer a Deus e fazer parte do povo da Nova Aliança em nossas igrejas. Conhecemos pouco ao Deus que dizemos seguir e manifestamos menos ainda a Sua graça e presença ao mundo.
É um quadro preocupante quando olhamos para nossas vidas e nosso coração e constatamos que lugar o desejo de comunhão e vida íntima com Senhor ocupa. É muito difícil imaginarmo-nos conhecendo alguém com quem não convivemos. Mas é essa a opção que temos escolhido. A oração tem sido deixada de lado, como se fosse privilégio de uns poucos chamados à vida de intercessão. A leitura e meditação na Palavra, que caracteriza o homem feliz do Salmo 1, é tão negligenciada por nós que muitos têm chamado a atual geração de cristãos de analfabetos bíblicos. Como alguém poderá se sentir um feliz, segundo os termos do Salmo 1, se não é alguém que se dedica à constante leitura e meditação da Lei?
Essa é uma acusação primeiramente contra mim mesmo. Como posso querer ser conhecido como povo da Nova Aliança se, tantas vezes, sinto o Senhor Jesus um profundo desconhecido a mim? Mas sei que tomar parte dessa aliança de vida implica em conhecê-Lo em profundidade. Por isso o meu desejo máximo na vida tem sido esse. Acima de tudo, quero conhecer ao Senhor. Acima de tudo, quero ser reconhecido como alguém que O conhece e dedica a sua vida a conhecê-Lo mais. Sei que é uma geração assim que Deus quer ver brotar no meio do Seu povo. Ninguém vai precisar ensinar o seu patrício nem o seu parente, dizendo: “Procure conhecer o Senhor”. Porque todos me conhecerão, tanto as pessoas mais humildes como as mais importantes.

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