1.11.05

Sobre fazer diferença

Quando morreu, ninguém sentiu falta dele
2 Crônicas 21. 20

Semana passada assisti, de novo, um filme da minha infância, As sete caras do Dr. Lao. Para quem não conhece ou não se lembra, o filme é ambientado em uma cidade do oeste americano, em algum ponto do século XIX. Nessa cidade chega o circo mágico do chinês Dr. Lao [fala-se Ló]. O espetáculo, que dura duas noites e muda a vida das pessoas na cidade de Abilone, tem sete personagens mágicos que a gente termina descobrindo se tratarem de uma só e a mesma pessoa: são as sete caras do Dr. Lao – Merlin, Pan, o Abominável Homem das Neves, a Medusa, a Serpente Gigante e Apollonius de Tyana, além do próprio Lao.
Apollonius de Tyana é um sábio, cego, que pode ver o futuro das pessoas. Atendendo uma cliente no espetáculo, mulher que é um dos personagens mais irritantes do filme – apaixonada pelo vilão da estória, termina manifestando uma sinceridade cruel: anuncia à pobre mulher que ela vai viver o resto de sua vida sozinha e morrer solitária. E ao morrer, não deixará nenhuma obra ou lembrança para a posteridade. Ninguém se lembrará dela, sua existência não terá feito diferença. Se ela jamais tivesse nascido, nada seria diferente no mundo. Palavras duras.
Essa estória me fez pensar. Deus não nos chamou para vivermos uma vida irrelevante. Ele não nos fez Seus servos, não nos tornou Seu povo, para que nossa passagem pelo planeta fosse indiferente. Ele nos trouxe ao Seu conhecimento para que a Sua presença em nossas vidas, diferentes por causa disso, viesse a fazer diferença nos ambientes em que vivemos, onde andamos, por onde passamos. Ele nos chamou para fazermos diferença na vida das pessoas que nos cercam. Ele nos vocacionou a viver na dimensão do Seu Espírito, na perspectiva da eternidade, tomados por Sua presença e poder. Ele nos chamou para sermos extraordinários.
É isso me encanta em textos como o Salmo 84, que não me canso de repetir e meditar: Quando eles passam pelo Vale das Lágrimas, ele fica cheio de fontes de água, e as primeiras chuvas o cobrem de bênçãos (Sl. 84. 6). Deus nos chamou para uma vida de relacionamento com Ele. Vida que faz a diferença onde estivermos: cheios de Sua presença, mesmo sem precisar abrir a boca, transformamos os vales secos e de morte em fontes de vida. É essa vida que desejo viver.
Quando morreu, ninguém sentiu falta dele. Esse é um dos textos mais tristes da Bíblia. É o outro lado da moeda. Deus nos chamou para viver vidas que fazem a diferença, mas muitos vivemos de tal maneira que ninguém sentiria a nossa falta se sumíssemos. Porém, há algo que pode ser ainda pior e é o que acontece com o rei Jeorão. Ele não é alguém cuja vida não fez diferença. No entanto, fez diferença para pior e os seus súditos comemoraram a sua morte. Ele ter partido foi um alívio! Esse é o tipo de marca que nenhum de nós deseja deixar.
Sempre fico pensando nas marcas que as pessoas têm deixado em minha vida, nas marcas que as pessoas têm deixado na sociedade e na história humana. Geralmente, aqueles que mais fazem questão de “aparecer” terminam sendo renegados ou esquecidos. Suas existências, por mais que tentem, não fazem diferença. Outros tanto lutam por reconhecimento que terminam como Jeorão, deixando péssimas marcas na vida das pessoas, que não vêem a hora de se livrar deles. Somente uns poucos, coração quebrantado, espírito humilhado diante do Pai, cientes de que dependem em tudo absolutamente do Senhor – e, por isso, famintos e sedentos por Ele – fizeram e fazem a diferença no mundo. Suas marcas são eternas porque foram feitas pelo próprio Deus. Esse grupo tem poucos nomes na história, dos quais podemos destacar gente como Francisco de Assis, talvez Lutero ou Martin Luther King, Jr.. Alguém mais?
Eu e você estamos nessa. Diante de nós a escolha por qual tipo de marca queremos deixar. De início, precisamos entender onde estamos neste momento, respondendo o que aconteceria se desaparecêssemos do mundo agora. Depois, teremos a opção da escolha. Eu pretendo escolher o caminho da cruz. E você?

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