12.12.16

Escolhendo o Inefável


Abençoados são vocês, que se dão ao Eterno, 
que viram as costas para as “coisas certas” do mundo 
e ignoram o que o mundo adora!
O mundo é um enorme armazém 
das maravilhas do Eterno e dos pensamentos de Deus.
Nada e ninguém
se compara a Ti!
Comecei a falar de ti, relatando o que sei, 
e logo me fugiram as palavras.
Nem números nem palavras
conseguem te explicar.

Salmo 40. 4-5

Alguém me contou que nas vésperas de morrer, o ateu Norberto Bobbio escreveu em seu diário que estava pronto ir se encontrar com o Mistério.

Outro dia, estava em um pequeno grupo quando uma amiga fez uma pergunta sobre ancestralidade. “Se recuarmos em nossos ancestrais, dos pais, avós, onde vamos parar?”, perguntou. Uma pessoa respondeu: “No Infinito”. “Isso: alguns chamam de Infinito, Criação, Universo, Deus”, complementou.

Paul Tillich falava na Realidade Última da Existência.

Bonhoeffer dizia, com Paulo, que vivíamos nEle e perante Ele, ainda que devêssemos viver como se Ele não existisse.

Cada ser humano uma ou outra é confrontado com o Mistério, o Infinito, a Realidade Última da Existência, Deus.

Após falar de seu livramento e da nova canção que estava cantando, de sua arte e poesia em louvor do Eterno que o socorreu, o salmista pensa nesse Eterno que o ajudou.

Ele é o Inefável, o Inominável, o Incompreensível, Aquele que não podemos reduzir a nada conhecido. Ele é a Riqueza da Existência, o que dá um novo sentido e um novo significado à vida porque, Ele mesmo, tem um sentido e um significado inigualável.

Por isso mesmo, a primeira coisa de que fala o salmista é que é feliz aquele que se entrega ao Eterno, que deixa sua vida fluir no ritmo e na direção que somente Deus pode conduzir - aquele que faz uma opção por mergulhar no rio de Deus, a melhor escolha dentre todas escolhas.

Essa não deve ser uma escolha limitadora ou castradora. Ao contrário, essa escolha é uma escolha de liberdade. Se assim não for, se o efeito que produzir não for esse, esteja certo de que há algo de errado em sua opção.

Se entregar ao Mistério sem reservas, ao Amor Todo-Poderoso, é uma escolha pela maravilha - afinal, o "mundo é um enorme armazém das maravilhas do Eterno e dos pensamentos de Deus”. Escolher o Infinito é perceber, a cada amanhecer, a cada instante, a cada dia, que a beleza e a riqueza do mundo revelam a Deus. Ver a natureza, sua majestade e complexidade é o mesmo que ver o Criador de tão bela obra.

A essa altura, eu mesmo já sinto a dificuldade expressa pelo salmista - não é possível usar as palavras para falar de Deus.

Ele é muito maior que qualquer ideia que possamos ter a seu respeito. Não há palavras que sejam suficientes para falar dele - aliás, se o nomeamos, encaixotamos, reduzimos, limitamos. Deus é maior que qualquer nome que lhe dermos, palavra que usarmos, valor que atribuirmos.

Deus é maior e ninguém pode explicar.

Por isso mesmo, mergulhar nele, entregar-se a Ele, derramar a vida em seu serviço, diante dEle é uma escolha inigualável para o salmista.

O Eterno que o livrou do fundo lamacento do poço, cuja Criação é seu armazém de maravilhas e pensamentos, o Eterno que é único e incomparável, merece todo compromisso, toda entrega, toda dedicação.

Quando nos deparamos com a Realidade Última da Existência, com o Mistério, com o Infinito, com o Eterno, não temos como fugir de uma decisão.

Que possamos ter sempre uma decisão de liberdade: mergulhar no Inefável.

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