13.12.16

Festa

Fazer algo para ti, levar algo para ti:
não é isso que procurar.
Ser religioso, agir com devoção: 
não é o que estás pedindo.
Então, abriste meus ouvidos
para que eu pudesse ouvir.
E logo respondi: “Estou indo.
Eu li na carta o que escreveste sobre mim.
E estou indo para a festa
que estás preparando para mim”.
Quando a Palavra de Deus entrou na minha vida,
ela se tornou parte do meu ser.

Sl 40. 6-8

Quando eu me converti, duas décadas atrás, queimei livros, discos e roupas que, aparentemente, tinham compromisso com as trevas em vez de com Deus.

Nessa leva foram embora obras-primas da música brasileira e da música pop.

Fiz isso porque acreditava que ser cristão era o mesmo que adotar tais práticas que estavam mais ou menos na moda. Afastar-se do mundo era o mesmo que abandonar a vida secular.

Lembro também do dia em que, pela primeira vez, bati palmas para acompanhar uma canção no louvor da igreja: os olhares recriminadores eram penetrantes e havia uma determinação de que não se podia usar as palmas nos cultos.

Naquela época, também, se faziam votos para conquistar as coisas com Deus. Minha tia fez um voto de sete semanas para que eu me convertesse, as pessoas jejuavam para conseguir as coisas com o Senhor, a quantidade de horas em oração determinava o sucesso de uma empreitada, quem não conseguia dizimar era vítima do demônio devorador.

Paulo diria que éramos todos vítimas de fábulas.

O Salmo 40 nos diz, no versículo 6, duas coisas incríveis sobre o Senhor para quem pensa em sua espiritualidade nos termos que referi acima: Deus não quer sacrifícios e ofertas nem espera de nós que sejamos religiosos. Estar com o Senhor é algo muito maior e muito mais sublime que uma espiritualidade religiosa ou uma prática de cultos e sacrifícios diários.

Deus é mais que religião e culto.

Na versão da Mensagem, a proposta é clara: em vez de religião e sacrifício, festa e celebração. Em vez de algo feito por mim mesmo, um momento sem igual preparado pelo próprio Deus.

Estar com o Senhor não é viver uma vida religiosa ou litúrgica. É andar em festa ao lado do próprio Deus, numa festa preparada por ele.

É celebração não sacrifício.

É a festa do pai do filho pródigo, que o vê se aproximando ainda à distância, não dá ouvidos às suas palavras de arrependimento e prepara uma festa para comemorar o seu retornar: “Vamos festejar! Vamos nos divertir!” (Lc. 15. 11-32).

Tal festa é possível para o fiel porque ele foi capaz de compreender o que realmente importa. E o que realmente importa resulta de seu prazer em guardar a lei no coração e conhecer sua vontade, ou, como diz a Mensagem, da percepção de que “quando a Palavra de Deus entrou na minha vida, ela se tornou parte do meu ser.”

A raiz da festa é mergulhar no Inefável e permitir-se ser tomado por sua revelação, sentindo o prazer de estar diante dele em sua vida.

Só assim a espiritualidade poderá ser liberdade, prazer, festa e celebração. Só assim não estaremos presos em uma religiosidade que destrói a beleza da vida.

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