4.8.05

Não correspondido

Vá e ame uma adúltera, uma mulher que tem um amante. Ame-a assim como eu amo o povo de Israel, embora eles adorem outros deuses e lhes ofereçam bolos de passas.
Oséias 3. 1.

Amo alguém que não me ama. Estou falando em romance mesmo. Um dia me percebi apaixonado e essa paixão começou a sufocar meu coração porque eu a sabia não correspondida. E é detestável um amor não correspondido. Como todo amor espera ser amado, você sofre quando não é. Isso já é dor profunda, que só piora quando olhamos de lado e vemos nosso amor sendo o amor de outras pessoas a quem tem amado.
Eu amo alguém que não me ama e tenho clamado ao Senhor que tire de meu peito este sentimento. Ninguém gosta de sofrer. Como a cada dia me convenço da inviabilidade deste romance – ela nunca me amará, mas amará outros –, tudo o que mais desejo é desistir desse amor. Porque conheço a dor lacerante de vê-la ao lado de outro, ou de pretender outro e preterir a mim. Não sou louco de querer sofrer. Quero desistir dela e desse sentimento. E logo, de preferência. Mas ainda a amo e sofro por esse amor não correspondido.
Sentimento semelhante podia ser encontrado em Oséias. Ele é um profeta interessante. O Senhor o chamou a sentir na própria pele a dor causada por um amor não correspondido, o amor do Senhor por Sua amada – o Seu povo. O chamado de Oséias era viver uma vida de metáfora do relacionamento de Deus com o Seu povo, amando uma mulher que não o amava. Do mesmo modo que temos experimentado amar uma mulher que não nos ama – e ama outros –, o Senhor sofre a mesma dor por nós, quando o deixamos de lado. Oséias falava com autoridade porque falava de algo que conhecia de fato: a dor da traição, do amor não correspondido.
A relação da Esposa com o Senhor, nesses dias de Oséias, era de pura formalidade e aparência. Como aqueles casamentos que já acabaram há bastante tempo, mas em que os cônjuges tentam manter uma vida de aparência. No caso de Israel, o povo mantinha seus rituais no templo, mas, ao mesmo tempo, estava traindo sua relação com Deus em cada um dos locais de culto pagão que podia ser encontrado no seu território. Tal coisa fica clara quando Deus fala ao povo o que realmente é necessário no relacionamento entre eles, em vez da formalidade ritualística: Eu quero que vocês me amem e não que me ofereçam sacrifícios; em vez de me trazer ofertas queimadas, eu prefiro que o meu povo me obedeça (Os. 6. 6). Nesse, como em qualquer casamento, tudo o que se quer é ser amado, não viver aparências.
O casamento do profeta era perfeita ilustração. Deus o mandou amar uma prostituta, uma mulher que o traía de noite e de dia. Mas, ainda assim, o profeta a amava: Por muito tempo, você vai esperar por mim. Durante esse tempo não se torne prostituta, nem se entregue a um amante. E eu também esperarei por você (Os. 3. 3).
Mas há uma enorme diferença entre os nossos amores não correspondidos e o amor de Deus por um povo que só lhe vira as costas. Eu quero desistir. Eu quero abandonar tudo. Não vale a pena cultivar um amor que não dará em nada. Mas Deus não faz assim. Ele nunca desiste de Seu povo amado. E o livro de Oséias também conta essa história. Mesmo que, de início, os nomes dos filhos do profeta traduzam o sentimento de Deus com o Seu povo, isso vai mudar. Oséias tem uma filha e é obrigado a chamá-la de Não-Amada, porque não terei mais amor pelo povo de Israel e não o perdoarei (Os. 1. 6). Em seguida lhe nasce um filho: Ponha no menino o nome de Não-Meu-Povo, pois o povo de Israel não é mais o meu povo, e eu não sou mais o Deus deles (Os. 1. 9). Mas isso não é definitivo, porque Deus, ao contrário de mim, não desiste de um amor não correspondido: E eu amarei aquela que se chama Não-Amada; para aquele que se chama Não-Meu-Povo eu direi: “Você é o meu povo”, e ele responderá: “Tu és o meu Deus” (Os. 2. 23).
Estou apaixonado, como Oséias, por uma mulher que se recusa a me dar o seu amor. É triste, doloroso, terrível, porque fomos feitos para amar e sermos amados. Por isso, tudo o que peço a Deus é a remoção deste sentimento da profundeza de meu coração.
Ainda bem que Deus não pensa como eu a respeito do Seu amor, tantas vezes não correspondido, por nós. Seu amor é puramente gratuito, eterno e profundamente apaixonado. Por isso, luta sempre para conquistar o povo a quem ama. Por isso, Ele jamais vai deixar de amar Sua Esposa Amada. Jamais vai parar de lutar por mim e por você, porque é profundamente apaixonado por nós: Quando Israel era criança, eu já o amava e chamei o meu filho, que estava na terra do Egito. Porém, quanto mais eu o chamava, mais ele se afastava de mim. O meu povo ofereceu sacrifícios ao deus Baal e queimou incenso em honra dos ídolos. Mas fui eu que ensinei o meu povo a andar; eu os segurei nos meus braços, porém eles não sabiam que era eu que cuidava deles. Com laços de amor e de carinho, eu os trouxe para perto de mim; eu os segurei nos braços como quem pega uma criança no colo. Eu me inclinei e lhes dei de comer. (...) Israel, como poderia eu abandoná-lo? Como poderia desampará-lo? Será que eu o destruiria, como destruí Admá? Ou faria com você o que fiz com Zeboim? Não! Não posso fazer isso, pois o meu coração está comovido, e tenho muita compaixão de você (Os. 11. 1 – 4 e 8).

Um comentário:

Anônimo disse...

eu até gosto dos seus textos, mas são grandes q é uma beleza!!!uahiushsas