8.9.05

Testemunho

Por isso, profetize para o meu povo de Israel e diga-lhes que eu, o Senhor Deus, abrirei as sepulturas deles, e os tirarei para fora...
Ezequiel 37. 12

Eu nasci em um lar tipicamente envolto nos sincretismo brasileiros. Se, por um lado, a família de meu pai, com quem não tive muito contato até anos recentes, era toda de origem evangélica, por outro, a família de minha mãe, o ambiente em que cresci, era uma mescla de espiritismo kardecista e catolicismo formal.
Logo na minha infância me encantei com a lógica do espiritismo. Passei anos lendo as obras de Allan Kardec todas as noites, antes de dormir. A noção de que o espiritismo não é religião, mas filosofia e ciência arrastava meu pensamento a acreditar em tudo aquilo. Tudo aquilo que podia ser “comprovado” em diversas experiências em meu lar. A mais marcante aconteceu quando eu, em torno dos quatro anos de idade, “vi” meu avô, a quem não conhecia, na porta do meu quarto.
Com sete anos de idade, fui estudar em uma das mais conhecidas escolas católicas de Natal, o Colégio das Neves. Ali, no início da adolescência, me envolvi com o grupo de jovens católicos do colégio. E foi assim até o fim da escola.
Em 1995, minha avó e minha tia tiveram um encontro pessoal com Jesus. E passaram a me evangelizar. Mas, como todo espírita, eu era firme e inabalável. Lembro que um dia me levaram para conversar com o homem que hoje é meu pastor. E ali eu o tentei converter ao espiritismo. Mas Deus já estava atuando em meu coração.
Passei no vestibular e comecei a faculdade. No início do ano de 1996, eu comecei a duvidar da existência de Deus. Por mais que ainda fizesse minhas preces antes de dormir, lesse a Bíblia e os livros de Kardec, eu não tinha mais muita fé em Deus. E se eu morresse e isso significasse o fim de tudo? Comecei a ficar desesperado.
Ao mesmo tempo, em decorrência de estar envolvido com o movimento estudantil das escolas particulares de Natal, entrei para a equipe de Relações Públicas do “Bicho Papão”, bloco de Carnatal levado pelo baiano Ricardo Chaves. O bloco costumava realizar, a cada sexta-feira 13, festa temática em alguma boate de Natal. 13 de setembro de 1996 foi uma sexta-feira. E, para promover essa festa, comecei a andar para cima e para baixo nessa cidade com uma roupa inteiramente preta, com desenhos sinistros em meu peito. Ia aos bares, às escolas, enfim, a todo canto para divulgar a festa. Era o fim de agosto.
Nesse processo, eu fui a um culto de ações de graça pela recuperação de um câncer na próstata de meu tio-avô. Naquela que é hoje a minha igreja. Os jovens da igreja insistiram para que eu fosse a um acampamento que aconteceria no feriado de 7 de setembro. Meu coração estava amolecido. Eu sentia muita vontade de servir a Deus, mas algo me impedia. Terminei comprometendo-me a ir para o retiro. Eu não sabia, mas minha tia havia feito um compromisso de oração por mim, por sete semanas, em um círculo de oração da Assembléia de Deus de meu bairro.
No primeiro fim de semana de setembro aconteceu uma coisa que me perturbou. Um colega dos tempos de escola estava andando de bugre nas dunas de Genipabu e morreu. O carro em que ia capotou e o santo antônio quebrou-lhe o pescoço. Fizemos uma homenagem a ele na escola. E aquilo me abalou. Eu comecei a me perguntar: e se fosse eu? Se tivesse sido comigo? Se eu tivesse morrido? Para onde eu iria?
A esta altura, o espiritismo já estava sem sentido para mim. Por dois motivos: primeiro, porque se dispõe a ter resposta a todas as questões possíveis, mas eu já estava descobrindo que há respostas que não dizem nada em certas situações. Na morte de meu colega, qualquer resposta que o espiritismo quisesse trazer não serviria de nada. Além disso, eu descobri que a lógica fundamental do espiritismo, quando se trata de Jesus, é uma falácia: é verdade que cada um é responsável por seus atos e que eu não posso pagar pelos erros de ninguém, além de mim mesmo – o que é o fundamento da idéia de karma e reencarnação –, mas eu já estava descobrindo que Jesus podia ter feito exatamente isso, pagando pelos meus e seus pecados, porque Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ele é o Cordeiro de Deus, perfeito, que tira o pecado do mundo. Eu não podia fazer isso, mas Jesus fez. Isso já estava aparecendo com clareza em minha mente e coração.
Fui para o acampamento. No segundo dia, o sábado 7, fui dormir com uma sensação estranha: era como se houvesse uma enorme nuvem de alegria ao meu redor, mas que não conseguia entrar em meu coração. Na manhã seguinte, a Palavra pregada falou profundamente ao meu coração. O pregador começou a fazer um apelo e dizia, entre outras coisas, que havia um jovem que se converteria naquele dia, mas que existia um demônio que estava segurando suas mãos. Quando me toquei, eu estava com os braços cruzados, mãos sob as axilas, e não me movia. Por dentro, eu incendiava. Suava, nervoso. A única coisa que consegui fazer foi relaxar os braços, mas tinha certeza de que era de mim que o pregador falava. Acabou o culto, minha tia foi falar com o pastor. Tudo o que eu esperava era que ele me perguntasse se eu queria aceitar Jesus naquela hora... mas ele me jogou um balde de água fria, me perguntando sobre o que me impedia de me decidir por Jesus.
Sai daquele conversa frustrado. Imediatamente, pensei em voltar atrás em todas as decisões que havia tomado, entre elas, sair do “Bicho Papão” e esquecer a festa da próxima sexta. No entanto, eu repreendi esses pensamentos.
À noite, dia 8 de setembro de 1996, eu fui à igreja, morrendo de sono. Cansado, eu ainda hoje não sei porque eu resolvi ir àquele culto. Quero dizer, não sei o que estava na minha mente quando fiz aquilo. Após o culto, minha tia correu até a porta para falar com o pastor e não sei o que ela lhe disse, mas sei que ele veio a mim e me perguntou se eu queria aceitar Jesus. E eu disse sim. E fui inundado pela alegria mais doce que já senti até hoje na vida. Estava leve quando voltei para casa. Feliz demais. Naquela noite, eu mal dormi. Estava em festa por minha libertação.
Mas as coisas não pararam aí. Na sexta-feira haveria aquela festa temática e eu tinha uma idéia de que o diabo ia tentar algo contra a minha vida até aquele dia. Na madrugada da quinta para a sexta, eu tinha estado louvando a Deus com um caderno de cânticos de minha tia e fui dormir após todos em casa. E, ao ir apagar a luz do banheiro, vi uma horrenda figura de um demônio sob o chuveiro. Logicamente, me assustei, mas pensei: Isso deve ser uma alucinação, coisa da minha cabeça. Imediatamente, ao pensar isso, ouvi o som de batidas. Corri para o quarto da minha tia assustado. Ela orou por mim, repreendeu aquele demônio que, discerni no momento, era o mesmo que eu tinha visto aos quatro anos, na forma de meu avô, e que havia se responsabilizado por me manter no espiritismo todos aqueles anos. Agora, eu sabia, era um inimigo derrotado.
Por isso, profetize para o meu povo de Israel e diga-lhes que eu, o Senhor Deus, abrirei as sepulturas deles, e os tirarei para fora... Hoje faz nove anos que tomei a decisão de seguir a Jesus. Nove anos que fui liberto pelo Senhor. Que Ele me tirou com Suas mãos poderosas do império das trevas e tem me conduzido cada vez mais ao Seu Reino de Amor. Faz nove anos que Ele abriu me sepultura e me tirou para fora. Por isso, eu quis partilhar um pouco dessa história neste dia.

Um comentário:

Vilma disse...

Obrigada pelo seu testemunho! Deu-me força para colocar o meu também...