Mateus 28. 6
Quando Paulo, no relato do livro de Atos, chega à Atenas, se impressiona com a intensa religiosidade da cidade, repleta de altares para deuses diversos, inclusive um deus desconhecido, do qual o apóstolo se aproveita para anunciar Jesus.
De modo semelhante, quando chegamos a uma cidade como Salvador e suas centenas de igrejas históricas ficamos impressionados e sensibilizados. Em Salvador, a forte presença visual das religiões de matriz africana também deixam sua marca indelével em nossas almas.
O ser humano é religioso. Ele sente a necessidade de transcender a si e aos seus próprios limites.
Diante do limite extremo que é a morte, o ser humano precisa encontrar uma resposta que lhe possibilite seguir vivendo.
Diante de limites proporcionados pelo sofrimento, buscamos sentido e significado.
Quando sentimos as maiores dores, queremos saídas.
As saídas buscadas e encontradas podem não ser religiosas e, assim mesmo, darem conta das nossas necessidades. Ainda que sejam saídas espirituais - no sentido de transcender os limites, não na crença em Deus ou deuses -, podem ser saídas que abdiquem do metafísico, do que vai além do histórico e material.
As saídas, em geral, no entanto, são religiosas.
Lembro do dia que conheci um senhor que enfrenta um violento câncer e, no meio da dor, tem buscado seu alívio em um centro espírita, ao mesmo tempo que ouve a pregação de um padre no rádio e visita uma missa de cura em uma igreja de Natal. Ao falar sobre minha igreja, interessou-se em conhecer um de nossos cultos.
O fenômeno religioso é ancestral. Ele começou em tempos pré-históricos e foi adquirindo características e tecnologias cada vez mais complexas ao longo dos milênios. Para termos a religião como a temos no século XXI muita coisa evoluiu por toda a parte.
No entanto, nem toda religião responde às questões mais fundamentais da vida humana. Aliás, nem toda religião responde com vida às nossas demandas e, penso, essa é uma questão muito mais pessoal do que ligada a qualquer sistema de fé em que tenhamos nos enredado. É uma escolha nossa optar pela vida ou pela morte até em termos de fé.
Muitos religiosos fazem opção pela morte, mesmo entre os cristãos. Ou, antes, principalmente entre os cristãos. Só encontram um Jesus morto na cruz ou vão atrás de seu corpo no sepulcro. Só pensam naquilo que acham que lhes acontecerá depois de sua morte. Alienam-se da vida em busca de um Deus que não vive ou não tem o que lhes dizer acerca da vida. Gastam seu tempo pensando em tudo, menos vivendo. Vivem além da vida.
As mulheres foram no domingo de Páscoa ao sepulcro em busca de um Jesus morto, em uma fé morta, um Deus que não estava mais na vida.
O anjo lhes diz: “Ele não está mais aqui”. Ele não está morto.
Não encontramos Jesus em uma religião que diga muito sobre a morte. Não o encontramos em um sepulcro. Não vivenciamos uma fé viva na perspectiva de um Deus morto, de um Jesus enterrado.
“Ele não está mais aqui”.
A fé deve nos convidar à vida, nos conduzir a ela, nos fazer experimentar e mergulhar cada vez mais na vida. Jesus não está no sepulcro. Ele está vivo.
A nossa opção de fé pode ser pela vida. Pode ser para vivermos. Pode ser para que nossa intensidade se derrame em mais e mais vida e compromisso com o viver.
Porque, diante do sepulcro e da morte, podemos dizer de Jesus: “Ele não está mais aqui”.
Que Ele esteja em nossas vidas.
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