Pois já nasceu uma criança, Deus nos mandou um menino.
Isaías 9. 6
Essa é uma noite importante. E por causa dela, eu estou escrevendo a vocês para transmitir meus votos de um Feliz Natal. Natal é isso: é a festa de celebração de um aniversariante que tem sido deslocado do Seu lugar desde que a Coca-Cola pôs uma roupa vermelha em São Nicolau e transformou o evento festivo em desculpa comercial.
Mas o comércio tem razão de ser nesta noite. Afinal, se fundamenta no fato de que os magos foram à Palestina prestar suas homenagens e dar os seus presentes ao rei dos judeus. No entanto, ao contrário do que faz crer a imagem tradicional do presépio, aqueles magos – que não sei se eram reis nem se eram três – devem ter chegado a Belém quando Jesus já tinha uns dois anos. E O encontraram, obviamente, não mais na manjedoura, mas em casa (Mt. 2. 11). Mas mesmo aí o grande homenageado é o Dono da Festa: Jesus. Que cada vez menos lugar encontra nos dezembros de todo o mundo.
Natal é festa de família. Afinal, naquela noite só havia a pequena família nuclear de José. Nascia o primeiro filho do casal – se bem que José sabia muito bem que não era o pai daquela criança. Porém o Pai Celeste não iria deixar Seu Filho amado, Redentor do mundo, isolado naquela noite. Haveria celebração. E os anjos apareceram. E os pastores foram ver a pequena família. E o estábulo ficou cheio de fé e de alegria – em comunhão familiar: Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem Ele quer bem! (Lc. 2. 14).
O sol da justiça veio ao mundo (Ml. 4. 2). No entanto, como diz uma amiga minha no seu apelido do Messenger, só comemoramos o Natal porque houve a Páscoa. Ao contrário do que somos empurrados a pensar, não é o Natal a principal festa cristã. A nossa maior celebração, a maior festa, a maior comemoração, a maior causa de louvor e glória, é a Páscoa, não o Natal. O Natal não significaria nada para nós se Jesus não tivesse morrido e ressuscitado. A mensagem que muda o mundo é a mensagem da Páscoa de Jesus. É a Páscoa de Jesus que nos faz nascer de novo.
Jesus viveu, porém, uma vida só. Ele nasceu. E é isso que celebramos hoje. Em família – porque mesmo que estejamos sós, se Jesus estiver celebrando conosco, os anjos vêm para a nossa festa familiar –; com presentes; com fé e alegria. Com vida. E vida plena. Os meus votos a todos e todas é que o Sol da Justiça, o Deus de Amor – Jesus – resplandeça no coração de todos esta noite, apontando a Páscoa e a vida eterna para aqueles que crêem em Seu nome.
24.12.05
20.12.05
A espera do socorro
Se você ficar calada numa situação como esta, do Céu virão socorro e ajuda para os judeus e eles serão salvos...
Ester 4. 14.
No meio do ano de 2001, de férias em Natal, vi uma apresentação do grupo de dança de minha igreja que marcou profundamente. Ainda hoje me emociono ao ouvir a canção que dançaram naquela noite – “Elevo meus olhos”, na voz de Ana Paula Valadão e Paul Wilbur. A música tocou pelo ritmo e melodia, mas principalmente pelo impacto que aquela letra – bíblica – provocou naquele momento específico de minha vida. O texto do salmo era tudo o que eu precisava ouvir. Geralmente é assim mesmo: quando a gente menos espera, Deus traz a nós uma palavra apropriada que volta a nos dar a força e a esperança. Naquela noite, a conjunção de letra, melodia, ritmo e dança marcou a minha vida. Renovou a esperança de sair de uma situação intimamente difícil. E havia razão para isso: do Céu me viria o socorro!
É assim que muitas vezes as circunstâncias da vida nos deixam: a espera do socorro. Por isso, tantas vezes nos identificamos com personagens como Daniel e seus amigos. Jogados às feras para sermos devorados ou lançados em uma fornalha ardente, esperamos o milagre em nosso socorro. Aguardamos ansiosamente a intervenção do Céu para nos livrar. Sofremos, ansiamos, esperamos com fé. E sabemos que do Céu nos virá o socorro.
Às vezes, no entanto, nos vemos na situação de Mordecai. E essa é uma situação difícil porque nos fere. Estamos ameaçados. Porém, somos cientes que existem pessoas em posição de nos ajudar, de nos socorrer, de transformar as coisas. No entanto, tais pessoas escolhem não se envolver – por medo ou opção – deixam-nos sós com nossos problemas. E eu sei o quão duro é levar esse peso – o da dificuldade – somado à indiferença de quem pode nos ajudar.
Se você ficar calada numa situação como esta, do Céu virão socorro e ajuda para os judeus e eles serão salvos... Mordecai demonstrou uma fé que acho difícil de encontrar em mim mesmo, mas que é a mensagem de Deus para mim e para você. Se aquela pessoa que está em posição de socorrer – como a rainha Ester – não quiser se envolver, Deus proverá uma outra saída, um outro caminho, um socorro vindo de outra parte. Mas é preciso ter fé e esperar: ainda que quem possa nos ajudar não queira, Deus no Céu ouve o nosso clamor e desce para nos livrar.
Isso, para mim, é esperar contra a esperança. Quando não mais parece haver ajuda ou saída, ainda podemos esperar a ajuda do céu. Ainda que venha no último instante. Ainda que surja como um anjo andando conosco no meio da fornalha. Ainda que seja um anjo que fecha a boca do leão faminto diante de nós. Deus não nos desamparará, mesmo que o homem desampare. Do céu virá o socorro.
Ester 4. 14.
No meio do ano de 2001, de férias em Natal, vi uma apresentação do grupo de dança de minha igreja que marcou profundamente. Ainda hoje me emociono ao ouvir a canção que dançaram naquela noite – “Elevo meus olhos”, na voz de Ana Paula Valadão e Paul Wilbur. A música tocou pelo ritmo e melodia, mas principalmente pelo impacto que aquela letra – bíblica – provocou naquele momento específico de minha vida. O texto do salmo era tudo o que eu precisava ouvir. Geralmente é assim mesmo: quando a gente menos espera, Deus traz a nós uma palavra apropriada que volta a nos dar a força e a esperança. Naquela noite, a conjunção de letra, melodia, ritmo e dança marcou a minha vida. Renovou a esperança de sair de uma situação intimamente difícil. E havia razão para isso: do Céu me viria o socorro!
É assim que muitas vezes as circunstâncias da vida nos deixam: a espera do socorro. Por isso, tantas vezes nos identificamos com personagens como Daniel e seus amigos. Jogados às feras para sermos devorados ou lançados em uma fornalha ardente, esperamos o milagre em nosso socorro. Aguardamos ansiosamente a intervenção do Céu para nos livrar. Sofremos, ansiamos, esperamos com fé. E sabemos que do Céu nos virá o socorro.
Às vezes, no entanto, nos vemos na situação de Mordecai. E essa é uma situação difícil porque nos fere. Estamos ameaçados. Porém, somos cientes que existem pessoas em posição de nos ajudar, de nos socorrer, de transformar as coisas. No entanto, tais pessoas escolhem não se envolver – por medo ou opção – deixam-nos sós com nossos problemas. E eu sei o quão duro é levar esse peso – o da dificuldade – somado à indiferença de quem pode nos ajudar.
Se você ficar calada numa situação como esta, do Céu virão socorro e ajuda para os judeus e eles serão salvos... Mordecai demonstrou uma fé que acho difícil de encontrar em mim mesmo, mas que é a mensagem de Deus para mim e para você. Se aquela pessoa que está em posição de socorrer – como a rainha Ester – não quiser se envolver, Deus proverá uma outra saída, um outro caminho, um socorro vindo de outra parte. Mas é preciso ter fé e esperar: ainda que quem possa nos ajudar não queira, Deus no Céu ouve o nosso clamor e desce para nos livrar.
Isso, para mim, é esperar contra a esperança. Quando não mais parece haver ajuda ou saída, ainda podemos esperar a ajuda do céu. Ainda que venha no último instante. Ainda que surja como um anjo andando conosco no meio da fornalha. Ainda que seja um anjo que fecha a boca do leão faminto diante de nós. Deus não nos desamparará, mesmo que o homem desampare. Do céu virá o socorro.
14.12.05
Anti-Cristo
Ele salvou os outros, mas não pode salvar a si mesmo! Ele é o Rei de Israel, não é? Se descer agora mesmo da cruz, nós creremos nele!
Mateus 27. 42
Domingo não consegui ir para a igreja pela manhã forçado por uma noite insone. Talvez por motivo das mudanças em minha casa, dormindo numa rede em muito tempo, não consegui adormecer antes das quatro horas da manhã. Zapping pela televisão e nada que me desse sono. Até que encontrei no SBT um filme que peguei apenas o seu fim. Nem o nome eu sei. Mas sei que contava uma história bíblica: o fim dos tempos e a chegada do Anti-Cristo.
Independente do que seja meu entendimento acerca de assunto tão controverso, algumas coisas me fizeram pensar naquele filme. O Anti-Cristo, auto-intitulado O Messias, desenvolveu um programa de realidade virtual chamado o Dia do Milagre. Os incautos que acessavam o programa, com suas luvas e óculos digitais, tinham um encontro com o Maligno. Se eram doentes, ou deficientes, o milagre acontecia. Peguei o filme exatamente no momento em que uma cega voltava a enxergar graças ao Dia do Milagre. Agora vejo a verdade, disse ela. E o Maligno dizia que o milagre seria permanente apenas se ela renegasse o Cordeiro. O que ela faz.
Não vou entrar em detalhes sobre o filme, mas ele me fez pensar em milagres. Lembro de um homem de Deus que certa vez esteve pregando em nossa igreja e disse uma coisa que jamais esqueci: o diabo é capaz de imitar tudo o que Deus faz, desde os milagres até os dons. Ele só não pode imitar a santidade. O diabo é capaz de realizar curas e de fazer milagres. Nos meus anos de espiritismo, experimentei em meu corpo algumas curas. Poderia relatar, também, alguns milagres. Como saber, então, o que provém de Deus ou não?
Essa questão me inquieta bastante. Já ouvi histórias fantásticas de ações milagrosas feitas em nome de Deus que, pelos contextos, ponho em dúvida a presença de Deus nessas ações. Não deveria ser preciso lembrar o que Jesus já nos alertou: Quando aquele dia chegar, muitas pessoas vão me dizer: “Senhor, Senhor, pelo poder do Seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo Seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres!” Então eu direi claramente a essas pessoas: “Eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal!” (Mt. 7. 22 – 23). Dizendo com clareza: a presença de milagres, prodígios e sinais – dons maravilhosos – nenhuma dessas coisas é garantia da presença de Deus. A Sua glória – a glorificação do Seu nome – é a única coisa que pode nos dar certeza de Sua presença.
Milagres, do ponto de vista da Bíblia, são sinais. Com este, deu Jesus princípio a Seus sinais em Cana da Galiléia; manifestou a Sua glória e os Seus discípulos creram nele (Jo. 2. 11). Isso, para mim, tem uma implicação clara. Sinais servem apenas para apontar. Sinalizar. Se Deus realiza milagres, o faz para que esses milagres apontem para a Sua presença, manifestem a Sua glória, exaltem o Seu nome. Deus não divide a Sua glória com quem quer que seja. Por isso, eu duvido de milagres que sirvam para promoção de pessoas ou instituições – ainda que sejam igrejas. Qualquer coisa que tenta se pôr no lugar de receber a glória que só a Deus é devida tem em si o espírito do Anti-Cristo. E esse espírito está no mundo para, se possível, enganar os eleitos. E tenho visto enganar, como se milagres só acontecessem sob o poder de Deus.
Tenho muita dificuldade em aceitar como cristocêntrico um ministério que termina promovendo apenas o próprio ministro. Os milagres e sinais findam por apontar apenas o homem. Que se torna objeto de admiração de multidões – ou, em termos mais bíblicos, se torna um ídolo. Multidões que enchem espaços para vê-lo realizar milagres. Milagres e sinais que acontecem segundo o arbítrio do homem, com hora marcada e tudo. Em shows promovidos por igrejas, mas preocupadas em se promover do que em promover o Senhor da Cruz.
Aí você pode me dizer que esses ministros são homens de oração – oram doze horas por dia! Como você sabe disso? Isso não é auto-promoção? E você não começar a achar que esses homens são os super-santos e, dali a um pequeno passo, você passa a idolatrá-lo? Você pode me dizer também que esses homens fazem questão de enfatizar que o milagre é feito por Jesus e que eles são tão humanos quanto eu e você – coisa que eu duvido que entre na cabeça da multidão. Aí eu me lembro de um outro filme. Na parte final de O advogado do diabo, há um diálogo entre o diabo e o personagem de Keanu Reaves, em que o jovem cobra ao Maligno o que aconteceu com sua mulher, que morreu. A resposta do diabo se assemelha ao que têm dito os milagreiros. O diabo lembra ao jovem advogado que lhe disse tempos atrás que ele fosse cuidar da esposa, que precisava dele. A escolha por essa estrada havia sido do homem, mas o diabo indicara a direção. Parece que a mesma coisa se repete no que estamos refletindo. Mesmo que os homens vão lá à frente e lembrem a todos que o milagre é ação de Jesus e eles não passam de pecadores como nós, o contexto não deixará dúvidas sobre a idolatria latente em todo o cenário. São milhares de pessoas em busca de homens que podem fazer surgir 38 mil reais em uma conta bancária – que curam cânceres, que matam e fazem viver.
Fico imaginando que o espírito do Anti-Cristo gosta da espetacularização. Sempre foi assim. É só pensar no que muitos pediam que Jesus fizesse enquanto estava sendo julgado e crucificado. Ele salvou os outros, mas não pode salvar a si mesmo! Ele é o Rei de Israel, não é? Se descer agora mesmo da cruz, nós creremos nele!
Para os santos da história da igreja que descobriram o valor de andar com Deus, isso significava a tranqüilidade do socorro nas horas de angústia, a certeza da proteção quando o mal avançava, o descanso nos pastos verdejantes da íntima comunhão com o Deus triúno. E se, porventura, milagres acontecem, sem espetáculo, toda a glória seria dada ao Senhor. É hora de redescobrirmos isso.
Mateus 27. 42
Domingo não consegui ir para a igreja pela manhã forçado por uma noite insone. Talvez por motivo das mudanças em minha casa, dormindo numa rede em muito tempo, não consegui adormecer antes das quatro horas da manhã. Zapping pela televisão e nada que me desse sono. Até que encontrei no SBT um filme que peguei apenas o seu fim. Nem o nome eu sei. Mas sei que contava uma história bíblica: o fim dos tempos e a chegada do Anti-Cristo.
Independente do que seja meu entendimento acerca de assunto tão controverso, algumas coisas me fizeram pensar naquele filme. O Anti-Cristo, auto-intitulado O Messias, desenvolveu um programa de realidade virtual chamado o Dia do Milagre. Os incautos que acessavam o programa, com suas luvas e óculos digitais, tinham um encontro com o Maligno. Se eram doentes, ou deficientes, o milagre acontecia. Peguei o filme exatamente no momento em que uma cega voltava a enxergar graças ao Dia do Milagre. Agora vejo a verdade, disse ela. E o Maligno dizia que o milagre seria permanente apenas se ela renegasse o Cordeiro. O que ela faz.
Não vou entrar em detalhes sobre o filme, mas ele me fez pensar em milagres. Lembro de um homem de Deus que certa vez esteve pregando em nossa igreja e disse uma coisa que jamais esqueci: o diabo é capaz de imitar tudo o que Deus faz, desde os milagres até os dons. Ele só não pode imitar a santidade. O diabo é capaz de realizar curas e de fazer milagres. Nos meus anos de espiritismo, experimentei em meu corpo algumas curas. Poderia relatar, também, alguns milagres. Como saber, então, o que provém de Deus ou não?
Essa questão me inquieta bastante. Já ouvi histórias fantásticas de ações milagrosas feitas em nome de Deus que, pelos contextos, ponho em dúvida a presença de Deus nessas ações. Não deveria ser preciso lembrar o que Jesus já nos alertou: Quando aquele dia chegar, muitas pessoas vão me dizer: “Senhor, Senhor, pelo poder do Seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo Seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres!” Então eu direi claramente a essas pessoas: “Eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal!” (Mt. 7. 22 – 23). Dizendo com clareza: a presença de milagres, prodígios e sinais – dons maravilhosos – nenhuma dessas coisas é garantia da presença de Deus. A Sua glória – a glorificação do Seu nome – é a única coisa que pode nos dar certeza de Sua presença.
Milagres, do ponto de vista da Bíblia, são sinais. Com este, deu Jesus princípio a Seus sinais em Cana da Galiléia; manifestou a Sua glória e os Seus discípulos creram nele (Jo. 2. 11). Isso, para mim, tem uma implicação clara. Sinais servem apenas para apontar. Sinalizar. Se Deus realiza milagres, o faz para que esses milagres apontem para a Sua presença, manifestem a Sua glória, exaltem o Seu nome. Deus não divide a Sua glória com quem quer que seja. Por isso, eu duvido de milagres que sirvam para promoção de pessoas ou instituições – ainda que sejam igrejas. Qualquer coisa que tenta se pôr no lugar de receber a glória que só a Deus é devida tem em si o espírito do Anti-Cristo. E esse espírito está no mundo para, se possível, enganar os eleitos. E tenho visto enganar, como se milagres só acontecessem sob o poder de Deus.
Tenho muita dificuldade em aceitar como cristocêntrico um ministério que termina promovendo apenas o próprio ministro. Os milagres e sinais findam por apontar apenas o homem. Que se torna objeto de admiração de multidões – ou, em termos mais bíblicos, se torna um ídolo. Multidões que enchem espaços para vê-lo realizar milagres. Milagres e sinais que acontecem segundo o arbítrio do homem, com hora marcada e tudo. Em shows promovidos por igrejas, mas preocupadas em se promover do que em promover o Senhor da Cruz.
Aí você pode me dizer que esses ministros são homens de oração – oram doze horas por dia! Como você sabe disso? Isso não é auto-promoção? E você não começar a achar que esses homens são os super-santos e, dali a um pequeno passo, você passa a idolatrá-lo? Você pode me dizer também que esses homens fazem questão de enfatizar que o milagre é feito por Jesus e que eles são tão humanos quanto eu e você – coisa que eu duvido que entre na cabeça da multidão. Aí eu me lembro de um outro filme. Na parte final de O advogado do diabo, há um diálogo entre o diabo e o personagem de Keanu Reaves, em que o jovem cobra ao Maligno o que aconteceu com sua mulher, que morreu. A resposta do diabo se assemelha ao que têm dito os milagreiros. O diabo lembra ao jovem advogado que lhe disse tempos atrás que ele fosse cuidar da esposa, que precisava dele. A escolha por essa estrada havia sido do homem, mas o diabo indicara a direção. Parece que a mesma coisa se repete no que estamos refletindo. Mesmo que os homens vão lá à frente e lembrem a todos que o milagre é ação de Jesus e eles não passam de pecadores como nós, o contexto não deixará dúvidas sobre a idolatria latente em todo o cenário. São milhares de pessoas em busca de homens que podem fazer surgir 38 mil reais em uma conta bancária – que curam cânceres, que matam e fazem viver.
Fico imaginando que o espírito do Anti-Cristo gosta da espetacularização. Sempre foi assim. É só pensar no que muitos pediam que Jesus fizesse enquanto estava sendo julgado e crucificado. Ele salvou os outros, mas não pode salvar a si mesmo! Ele é o Rei de Israel, não é? Se descer agora mesmo da cruz, nós creremos nele!
Para os santos da história da igreja que descobriram o valor de andar com Deus, isso significava a tranqüilidade do socorro nas horas de angústia, a certeza da proteção quando o mal avançava, o descanso nos pastos verdejantes da íntima comunhão com o Deus triúno. E se, porventura, milagres acontecem, sem espetáculo, toda a glória seria dada ao Senhor. É hora de redescobrirmos isso.
13.12.05
Guarda-roupa e leão
Em tempos difíceis, Ele me esconderá no Seu abrigo.
Salmo 27. 5
Anos atrás eu passei por uma experiência que ainda hoje, quando penso nela, falta-me ar e as mãos suam frio. Praticava natação na faculdade como educação física e, uma tarde, não consegui terminar um trecho que me havia sido pedido pelo professor. A piscina da UFRN não dava pé para mim. Cabeça fora d´água, flutuava sem conseguir respirar. Desesperei-me ao perceber que ia me afogar, mesmo estando flutuando e nadando bem. Por mais que tentasse puxar o ar, não conseguia. Estava em uma crise de pânico. Em um último esforço, tentei chamar por socorro e me joguei com o resto de minhas forças na margem. Parte da sensação terrível que senti naquela tarde me aflige enquanto digito essas palavras. Terminei deixando a educação física incompleta, mas consegui aproveitar os créditos complementares através de um acordo com o professor. Não consegui mais entrar naquela piscina depois de quase me afogar.
Estive pensando nessa história porque é exatamente como naquela tarde em me senti que tenho me sentido ultimamente. E esse é um dos motivos pelos quais tenho estado mais ausente nas meditações que, um dia, foram diárias. Nada exatamente físico, mas tenho me sentido extremamente pressionado pela situação emocional, espiritual e familiar em que me encontro. Como se estivesse me afogando de novo, perco as forças. Fisicamente, minha casa está um tumulto. Primeiro, minha tia e minha avó se mudaram e, três semanas depois, estão de volta. Mudanças e móveis já bagunçam o coreto. Se você acrescentar a isso a pintura de um apartamento, o cenário é desolador.
Esse é apenas um dos aspectos que compõem essa nuvem pesada que afoga a minha alma. Tenho me sentido pressionado e sufocado por uma série de coisas que vão desde esse exemplo que dei até coisas como problemas envolvendo o relacionamento com a liderança da minha igreja, passando pelas responsabilidades acadêmicas que tenho hoje no mestrado. Tenho me sentido me afogando como naquela tarde, sob o peso de tanta pressão.
Desse modo, fui assistir ontem, com minha mãe, As crônicas de Nárnia. Confesso que jamais li essa obra de C.S. Lewis, mas quis assistir a versão da Disney para o que escreveu o intelectual cristão. Sem contar meu encanto com a menininha Georgie Henley, que faz Lucy, o filme me fez pensar.
Todos nós, quando no meio de lutas que nos sufocam, queremos fugir para outros lugares. Isso é natural. Ninguém que não seja masoquista vai querer ficar para sofrer, para se afogar. E quando a gente vê em um filme como aquele a existência de um escape, um guarda-roupas que nos leva a um Reino mágico onde somos reis, talvez queiramos ainda mais descobrir uma forma de fugir de nossas lutas e problemas. Quem sabe fugir para Nárnia.
Quando a gente se vê desprotegido e, talvez, sem amigos muito leais, quem sabe que efeito provoca em nossos sonhos a figura imponente do leão Aislam. Doce e forte, delicado e corajoso. Amigo que protege, que entrega a vida – inocente – por um traidor culpado. Alguém que tem a palavra certa para cada ocasião. Alguém que inspira cuidado e amor. Confesso que enquanto via o leão se deslocar na tela e lembrava de meus problemas, desejava eu mesmo acariciar a sua juba e sentir o cuidado de sua proteção. Vendo o filme e pensando nas minhas lutas diárias, desejei demasiadamente que aquilo fosse real e houvesse um guarda-roupa que me transportasse, desde uma vida que me afoga e mata pouco a pouco para um mundo mágico sob a proteção de Aslam, o leão ressuscitado.
Quer saber o que é melhor? Algo que a gente corre o risco de esquecer? Existe o guarda-roupa. Aislam é real. Você pode viver – eu posso viver – sob Seu cuidado e proteção. Podemos sentir o Seu carinho e amor. Sua doçura e fortaleza. Sua vida, Sua morte e Sua ressurreição. Podemos escapar para o Reino de Nárnia para recuperar as forças. A vida mais real é a que corre em Nárnia. A que ocorre do lado de cá do guarda-roupa, na terra da “salavazia”, é reflexo do mundo espiritual.
Nárnia não é metáfora; é a própria verdade bíblica. E me fez recuperar a porta de escape para a sua dimensão que eu havia esquecido. A oração e a comunhão com o Pai são os nossos guarda-roupas que abrem o portal mágico para o contato íntimo com Aislam/Jesus Cristo. Se a vida nos afoga, se nos sufoca – podemos contar com o socorro e o abrigo de Jesus. Durante o filme eu pensei em um momento como seria ótimo ter um leão como Aislam ao nosso lado, para nos proteger. Por um instante esqueci que Ele – Jesus – está de verdade ao nosso lado. De verdade podemos tocar-lhe, ouvir Sua voz carinhosa e sentir Seu amor infinito. Se queremos escapar para o Reino do amor precisamos da força da oração e da comunhão com o Pai e com o Leão. Só assim podemos suportar o peso da vida sem nos afogar.
Salmo 27. 5
Anos atrás eu passei por uma experiência que ainda hoje, quando penso nela, falta-me ar e as mãos suam frio. Praticava natação na faculdade como educação física e, uma tarde, não consegui terminar um trecho que me havia sido pedido pelo professor. A piscina da UFRN não dava pé para mim. Cabeça fora d´água, flutuava sem conseguir respirar. Desesperei-me ao perceber que ia me afogar, mesmo estando flutuando e nadando bem. Por mais que tentasse puxar o ar, não conseguia. Estava em uma crise de pânico. Em um último esforço, tentei chamar por socorro e me joguei com o resto de minhas forças na margem. Parte da sensação terrível que senti naquela tarde me aflige enquanto digito essas palavras. Terminei deixando a educação física incompleta, mas consegui aproveitar os créditos complementares através de um acordo com o professor. Não consegui mais entrar naquela piscina depois de quase me afogar.
Estive pensando nessa história porque é exatamente como naquela tarde em me senti que tenho me sentido ultimamente. E esse é um dos motivos pelos quais tenho estado mais ausente nas meditações que, um dia, foram diárias. Nada exatamente físico, mas tenho me sentido extremamente pressionado pela situação emocional, espiritual e familiar em que me encontro. Como se estivesse me afogando de novo, perco as forças. Fisicamente, minha casa está um tumulto. Primeiro, minha tia e minha avó se mudaram e, três semanas depois, estão de volta. Mudanças e móveis já bagunçam o coreto. Se você acrescentar a isso a pintura de um apartamento, o cenário é desolador.
Esse é apenas um dos aspectos que compõem essa nuvem pesada que afoga a minha alma. Tenho me sentido pressionado e sufocado por uma série de coisas que vão desde esse exemplo que dei até coisas como problemas envolvendo o relacionamento com a liderança da minha igreja, passando pelas responsabilidades acadêmicas que tenho hoje no mestrado. Tenho me sentido me afogando como naquela tarde, sob o peso de tanta pressão.
Desse modo, fui assistir ontem, com minha mãe, As crônicas de Nárnia. Confesso que jamais li essa obra de C.S. Lewis, mas quis assistir a versão da Disney para o que escreveu o intelectual cristão. Sem contar meu encanto com a menininha Georgie Henley, que faz Lucy, o filme me fez pensar.
Todos nós, quando no meio de lutas que nos sufocam, queremos fugir para outros lugares. Isso é natural. Ninguém que não seja masoquista vai querer ficar para sofrer, para se afogar. E quando a gente vê em um filme como aquele a existência de um escape, um guarda-roupas que nos leva a um Reino mágico onde somos reis, talvez queiramos ainda mais descobrir uma forma de fugir de nossas lutas e problemas. Quem sabe fugir para Nárnia.
Quando a gente se vê desprotegido e, talvez, sem amigos muito leais, quem sabe que efeito provoca em nossos sonhos a figura imponente do leão Aislam. Doce e forte, delicado e corajoso. Amigo que protege, que entrega a vida – inocente – por um traidor culpado. Alguém que tem a palavra certa para cada ocasião. Alguém que inspira cuidado e amor. Confesso que enquanto via o leão se deslocar na tela e lembrava de meus problemas, desejava eu mesmo acariciar a sua juba e sentir o cuidado de sua proteção. Vendo o filme e pensando nas minhas lutas diárias, desejei demasiadamente que aquilo fosse real e houvesse um guarda-roupa que me transportasse, desde uma vida que me afoga e mata pouco a pouco para um mundo mágico sob a proteção de Aslam, o leão ressuscitado.
Quer saber o que é melhor? Algo que a gente corre o risco de esquecer? Existe o guarda-roupa. Aislam é real. Você pode viver – eu posso viver – sob Seu cuidado e proteção. Podemos sentir o Seu carinho e amor. Sua doçura e fortaleza. Sua vida, Sua morte e Sua ressurreição. Podemos escapar para o Reino de Nárnia para recuperar as forças. A vida mais real é a que corre em Nárnia. A que ocorre do lado de cá do guarda-roupa, na terra da “salavazia”, é reflexo do mundo espiritual.
Nárnia não é metáfora; é a própria verdade bíblica. E me fez recuperar a porta de escape para a sua dimensão que eu havia esquecido. A oração e a comunhão com o Pai são os nossos guarda-roupas que abrem o portal mágico para o contato íntimo com Aislam/Jesus Cristo. Se a vida nos afoga, se nos sufoca – podemos contar com o socorro e o abrigo de Jesus. Durante o filme eu pensei em um momento como seria ótimo ter um leão como Aislam ao nosso lado, para nos proteger. Por um instante esqueci que Ele – Jesus – está de verdade ao nosso lado. De verdade podemos tocar-lhe, ouvir Sua voz carinhosa e sentir Seu amor infinito. Se queremos escapar para o Reino do amor precisamos da força da oração e da comunhão com o Pai e com o Leão. Só assim podemos suportar o peso da vida sem nos afogar.
8.12.05
Presente e futuro
E ficou olhando firmemente para Hazael durante tanto tempo, que ele ficou sem jeito. De repente, Eliseu começou a chorar.
2 Reis 8. 11
Podemos não perceber, mas existem pontos nodais na história e em nossa vida que se constituem extremamente decisivos no futuro. Coisas cujo alcance somos incapazes de contemplar quando vivemos. Temos um exemplo disso que estou tentando dizer na vida de Abrão de Ur. No meio da história desse homem aparece um Deus, provavelmente desconhecido até ali, que o vocaciona a se tornar um povo. Fico pensando na cena e imaginando que, por mais que cresse e entendesse aquilo que o Senhor lhe dizia, Abrão não poderia ser capaz de imaginar onde aquele momento ia levar a história de sua vida e de seus descendentes: um único homem dando origem a um incontável povo. Povo de onde veio o Salvador da humanidade.
O encontro de Eliseu e Hazael traz questão semelhante à tona. E ficou olhando firmemente para Hazael durante tanto tempo, que ele ficou sem jeito. De repente, Eliseu começou a chorar. Hazael não entende o que está acontecendo com o profeta; não entende porque Eliseu chora. Hazael ouve a revelação de Eliseu – Você vai por fogo nas fortalezas de Israel, vai matar os moços, esmagar as crianças e rasgar a barriga das mulheres grávidas. (...) O Senhor Deus me mostrou que você vai ser o rei da Síria (2 Rs. 8. 12 – 13) –, mas dificilmente seria tão impactado quanto estava Eliseu. O profeta viu o futuro! Aqui há uma diferença com a história de Abraão. Eliseu é um homem que tem os olhos maravilhosamente abertos por Deus para ver o invisível. Ele é dos tipos raros que conseguem compreender a riqueza dos momentos que vive, percebendo seus efeitos e conseqüências no futuro.
No mesmo livro de Reis, Ezequias representa alguém no lado oposto. Tendo estado doente e recebendo a sentença de morte pela boca de Isaías, ora ao Senhor: Ó Senhor Deus, lembra que eu tenho te servido com fidelidade e com todo o coração e sempre fiz o que querias que eu fizesse. E chorou amargamente (2 Rs. 20. 3). Foi curado e vive mais quinze anos. Três anos depois desse acontecimento, nasceu Manasses, que sucede ao pai no trono de Jerusalém. Mas a ira terrível do Senhor havia sido provocada contra Judá por causa das coisas que o rei Manasses havia feito e essa ira ainda não havia passado (2 R. 23. 26). Quando pediu pela sua vida, Ezequias não podia imaginar um desfecho assim: o filho nascido na sua sobrevida – entendem que se Ezequias não tivesse orado, Manasses não teria nascido? – se torna o culpado pela condenação do povo ao exílio.
Vivemos em nossos dias um época em que cada vez menos pessoas têm a perspectiva para entender a relevância dos acontecimentos e de seus próprios atos. Nossos atos têm conseqüências, no tempo e na eternidade. Vivemos tão presos ao imediato que esquecemos que toda e qualquer coisa tem conseqüência. Precisamos ter olhos para ver onde nos levarão as nossas ações e os acontecimentos em que nos envolvemos.
Hoje estava pensando que poucos vivem nessa dimensão. E o mais grave é que essa inconseqüência e falta de percepção se manifesta, provavelmente em sua forma mais terrível, no esquecimento das palavras de Jesus: Fiquem preparados para tudo: estejam com a roupa bem presa com o cinto e conservem as lamparinas acesas. Sejam como os empregados que esperam pelo patrão, que vai voltar da festa de casamento. Logo que ele bate na porta, os empregados vão abrir. Felizes aqueles empregados que o patrão encontra acordados e preparados! Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o próprio patrão se preparará para servi-los, mandará que se sentem à mesa e ele mesmo os servirá. Eles serão felizes se o patrão os encontrar alertas, mesmo que chegue à meia-noite ou até mais tarde. Lembrem disto: se o dono da casa soubesse a que hora o ladrão viria, não o deixaria arrombar a sua casa. Vocês, também, fiquem alertas, porque o Filho do Homem vai chegar quando não estiverem esperando (Lc. 12. 35 – 40). Esquecemos da perspectiva correta para a condução de nossa vida: Cristo vai voltar! Esquecemos de viver tendo viva em nossa mente, diariamente, a certeza de que Cristo vai voltar!
Nosso imediatismo e incapacidade de perceber a gravidade e importância dos pontos nodais que encontramos na vida tem se amplificado pelo esquecimento do fato que deveria ser norteador de nossa caminhada: Cristo vai voltar! Muito poucos de nós têm vivido tendo consciência disso. É hora de resgatarmos essa perspectiva na vida. Ao não entender a repercussão futura de viver hoje tendo como certeza a volta de Jesus deixamos de lado a vida plena que Jesus conquistou para nós. Como disse Sérgio Pimenta:
Acredite ou não
Não é novela nem filme qualquer de ficção,
Nem tem herói pra na hora do aperto dar a solução.
Nenhum espaço pra seguir em outra direção
E os da espera não queiram depois vir com apelação.
Cristo vai voltar, acredite ou não
E vem pra julgar, pra dar uma decisão.
Não é balela, nem papo pra dar mais sensação
E nem é fuga se a vida maluca quer deixar na mão.
Tão certo como as horas que chegam, passarão,
Ele virá como rei separar pra sempre o mau e o bom.
2 Reis 8. 11
Podemos não perceber, mas existem pontos nodais na história e em nossa vida que se constituem extremamente decisivos no futuro. Coisas cujo alcance somos incapazes de contemplar quando vivemos. Temos um exemplo disso que estou tentando dizer na vida de Abrão de Ur. No meio da história desse homem aparece um Deus, provavelmente desconhecido até ali, que o vocaciona a se tornar um povo. Fico pensando na cena e imaginando que, por mais que cresse e entendesse aquilo que o Senhor lhe dizia, Abrão não poderia ser capaz de imaginar onde aquele momento ia levar a história de sua vida e de seus descendentes: um único homem dando origem a um incontável povo. Povo de onde veio o Salvador da humanidade.
O encontro de Eliseu e Hazael traz questão semelhante à tona. E ficou olhando firmemente para Hazael durante tanto tempo, que ele ficou sem jeito. De repente, Eliseu começou a chorar. Hazael não entende o que está acontecendo com o profeta; não entende porque Eliseu chora. Hazael ouve a revelação de Eliseu – Você vai por fogo nas fortalezas de Israel, vai matar os moços, esmagar as crianças e rasgar a barriga das mulheres grávidas. (...) O Senhor Deus me mostrou que você vai ser o rei da Síria (2 Rs. 8. 12 – 13) –, mas dificilmente seria tão impactado quanto estava Eliseu. O profeta viu o futuro! Aqui há uma diferença com a história de Abraão. Eliseu é um homem que tem os olhos maravilhosamente abertos por Deus para ver o invisível. Ele é dos tipos raros que conseguem compreender a riqueza dos momentos que vive, percebendo seus efeitos e conseqüências no futuro.
No mesmo livro de Reis, Ezequias representa alguém no lado oposto. Tendo estado doente e recebendo a sentença de morte pela boca de Isaías, ora ao Senhor: Ó Senhor Deus, lembra que eu tenho te servido com fidelidade e com todo o coração e sempre fiz o que querias que eu fizesse. E chorou amargamente (2 Rs. 20. 3). Foi curado e vive mais quinze anos. Três anos depois desse acontecimento, nasceu Manasses, que sucede ao pai no trono de Jerusalém. Mas a ira terrível do Senhor havia sido provocada contra Judá por causa das coisas que o rei Manasses havia feito e essa ira ainda não havia passado (2 R. 23. 26). Quando pediu pela sua vida, Ezequias não podia imaginar um desfecho assim: o filho nascido na sua sobrevida – entendem que se Ezequias não tivesse orado, Manasses não teria nascido? – se torna o culpado pela condenação do povo ao exílio.
Vivemos em nossos dias um época em que cada vez menos pessoas têm a perspectiva para entender a relevância dos acontecimentos e de seus próprios atos. Nossos atos têm conseqüências, no tempo e na eternidade. Vivemos tão presos ao imediato que esquecemos que toda e qualquer coisa tem conseqüência. Precisamos ter olhos para ver onde nos levarão as nossas ações e os acontecimentos em que nos envolvemos.
Hoje estava pensando que poucos vivem nessa dimensão. E o mais grave é que essa inconseqüência e falta de percepção se manifesta, provavelmente em sua forma mais terrível, no esquecimento das palavras de Jesus: Fiquem preparados para tudo: estejam com a roupa bem presa com o cinto e conservem as lamparinas acesas. Sejam como os empregados que esperam pelo patrão, que vai voltar da festa de casamento. Logo que ele bate na porta, os empregados vão abrir. Felizes aqueles empregados que o patrão encontra acordados e preparados! Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o próprio patrão se preparará para servi-los, mandará que se sentem à mesa e ele mesmo os servirá. Eles serão felizes se o patrão os encontrar alertas, mesmo que chegue à meia-noite ou até mais tarde. Lembrem disto: se o dono da casa soubesse a que hora o ladrão viria, não o deixaria arrombar a sua casa. Vocês, também, fiquem alertas, porque o Filho do Homem vai chegar quando não estiverem esperando (Lc. 12. 35 – 40). Esquecemos da perspectiva correta para a condução de nossa vida: Cristo vai voltar! Esquecemos de viver tendo viva em nossa mente, diariamente, a certeza de que Cristo vai voltar!
Nosso imediatismo e incapacidade de perceber a gravidade e importância dos pontos nodais que encontramos na vida tem se amplificado pelo esquecimento do fato que deveria ser norteador de nossa caminhada: Cristo vai voltar! Muito poucos de nós têm vivido tendo consciência disso. É hora de resgatarmos essa perspectiva na vida. Ao não entender a repercussão futura de viver hoje tendo como certeza a volta de Jesus deixamos de lado a vida plena que Jesus conquistou para nós. Como disse Sérgio Pimenta:
Acredite ou não
Não é novela nem filme qualquer de ficção,
Nem tem herói pra na hora do aperto dar a solução.
Nenhum espaço pra seguir em outra direção
E os da espera não queiram depois vir com apelação.
Cristo vai voltar, acredite ou não
E vem pra julgar, pra dar uma decisão.
Não é balela, nem papo pra dar mais sensação
E nem é fuga se a vida maluca quer deixar na mão.
Tão certo como as horas que chegam, passarão,
Ele virá como rei separar pra sempre o mau e o bom.
2.12.05
Fé e poder
Se eu posso? Tudo é possível para quem tem fé. Então o pai gritou: - Eu tenho fé! Ajude-me a ter mais fé ainda!
Marcos 9. 23 - 24
Esta é uma das frases mais paradoxais que eu encontro na Bíblia. Ela me impressiona todas as vezes que a leio, até porque percebo a luta que os tradutores do texto sagrado enfrentam para trazer a nós a profundidade da fala desse pai desesperado. Ele diz algo próximo disso: Eu creio, eu tenho fé. Mas me ajude porque eu sou incrédulo. Esse pai crê, mas é incrédulo. Nós somos atraídos por ele e o seu mistério porque nos identificamos plenamente no paradoxo, na dúvida, na fraqueza e na necessidade que temos de Jesus.
Todo o texto desenvolve-se em torno das seguintes relações: para se ter poder é preciso ter fé – ou seja, o poder é resultado da fé. Assim, sem fé, não se tem poder. Jesus está descendo o monte da transfiguração acompanhado por seus três discípulos mais íntimos. Ao chegar lá embaixo, toma conhecimento de um caso não tão incomum naqueles dias: Mestre, eu trouxe o meu filho para o senhor, porque ele está dominado por um espírito mau e não pode falar. (...) Já pedi aos discípulos do senhor que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram (Mc. 9. 17 – 18). A primeira coisa que se destaca é que os discípulos não foram capazes – não tiveram poder – para expulsar o demônio. Pela relação que se estabelece no texto, podemos concluir que eles não puderam porque não tiveram fé. Foram incrédulos.
Com base nisso, a gente pode entender que Jesus se dirige aos seus discípulos – e não à multidão de judeus – quando diz: Gente sem fé! Até quando ficarei com vocês? Até quando terei de agüentá-los? Tragam o menino aqui (Mc. 9. 19). É com a incredulidade de seus discípulos que Jesus se indigna. Depois de tanto tempo andando com Ele, depois de testemunharem tantos milagres, depois de verem em ação do enorme poder de Deus, eles ainda não crêem! Eles não podem expulsar o demônio porque são incrédulos. Não teria sentido, no contexto, Jesus exigir fé daqueles que não O seguem. Mas não tem sentido, para Jesus, não encontrar fé naqueles que andam com Ele.
É por isso que é louvável a honestidade com que o pai se manifesta. Ele já entendeu tudo. A fé é fundamental. Mas lhe falta. Não totalmente, porque Ele sabe que Jesus é capaz de ajudá-lo e de curar seu filho. Mas, como sempre acontece conosco, quando ele olha para a sua história e percebe que há tanto tempo o sofrimento é a única coisa que ele conhece, duvida. Teme pelo que será quando tudo mudar. Quando a gente olha para a nossa história e contemplar certas coisas que sempre foram como são, mesmo que saibamos que Jesus pode mudar a história, duvidamos. Mesmo que entendamos a relação entre fé e poder, não cremos. A atitude honesta desse pai é mais eficiente que a reação dos discípulos – aqueles que verdadeiramente deviam crer sem duvidar: Eu tenho fé! Ajude-me a ter mais fé ainda!
Estamos aqui. Diante de nós, há todo o mal a ser enfrentado. Há dores, sofrimentos, tristezas, circunstâncias complicadas. Há uma infinidade de coisas que precisam ser enfrentadas. Olhamos para elas com que olhos? Há uma relação: só teremos poder para enfrentar o mal – o poder que vem de Deus, o poder do Espírito – na medida em que tivermos fé – a consciência de que o Deus de amor é poderoso. Sem fé, não agradaremos a Deus. Sem fé, não poderemos resistir nas lutas contra o mal. Sem fé, não teremos poder para enfrentá-los. Como naqueles dias, Jesus ainda pode se voltar para nós, seus discípulos, com palavras duras: Gente sem fé! Até quando ficarei com vocês? Até quando terei de agüentá-los?, porque não conseguimos enfrentar o mal. É hora de se humilhar e é hora da atitude mais correta: Sim, Senhor, eu tenho fé! Mas me ajude a ter fé!
Marcos 9. 23 - 24
Esta é uma das frases mais paradoxais que eu encontro na Bíblia. Ela me impressiona todas as vezes que a leio, até porque percebo a luta que os tradutores do texto sagrado enfrentam para trazer a nós a profundidade da fala desse pai desesperado. Ele diz algo próximo disso: Eu creio, eu tenho fé. Mas me ajude porque eu sou incrédulo. Esse pai crê, mas é incrédulo. Nós somos atraídos por ele e o seu mistério porque nos identificamos plenamente no paradoxo, na dúvida, na fraqueza e na necessidade que temos de Jesus.
Todo o texto desenvolve-se em torno das seguintes relações: para se ter poder é preciso ter fé – ou seja, o poder é resultado da fé. Assim, sem fé, não se tem poder. Jesus está descendo o monte da transfiguração acompanhado por seus três discípulos mais íntimos. Ao chegar lá embaixo, toma conhecimento de um caso não tão incomum naqueles dias: Mestre, eu trouxe o meu filho para o senhor, porque ele está dominado por um espírito mau e não pode falar. (...) Já pedi aos discípulos do senhor que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram (Mc. 9. 17 – 18). A primeira coisa que se destaca é que os discípulos não foram capazes – não tiveram poder – para expulsar o demônio. Pela relação que se estabelece no texto, podemos concluir que eles não puderam porque não tiveram fé. Foram incrédulos.
Com base nisso, a gente pode entender que Jesus se dirige aos seus discípulos – e não à multidão de judeus – quando diz: Gente sem fé! Até quando ficarei com vocês? Até quando terei de agüentá-los? Tragam o menino aqui (Mc. 9. 19). É com a incredulidade de seus discípulos que Jesus se indigna. Depois de tanto tempo andando com Ele, depois de testemunharem tantos milagres, depois de verem em ação do enorme poder de Deus, eles ainda não crêem! Eles não podem expulsar o demônio porque são incrédulos. Não teria sentido, no contexto, Jesus exigir fé daqueles que não O seguem. Mas não tem sentido, para Jesus, não encontrar fé naqueles que andam com Ele.
É por isso que é louvável a honestidade com que o pai se manifesta. Ele já entendeu tudo. A fé é fundamental. Mas lhe falta. Não totalmente, porque Ele sabe que Jesus é capaz de ajudá-lo e de curar seu filho. Mas, como sempre acontece conosco, quando ele olha para a sua história e percebe que há tanto tempo o sofrimento é a única coisa que ele conhece, duvida. Teme pelo que será quando tudo mudar. Quando a gente olha para a nossa história e contemplar certas coisas que sempre foram como são, mesmo que saibamos que Jesus pode mudar a história, duvidamos. Mesmo que entendamos a relação entre fé e poder, não cremos. A atitude honesta desse pai é mais eficiente que a reação dos discípulos – aqueles que verdadeiramente deviam crer sem duvidar: Eu tenho fé! Ajude-me a ter mais fé ainda!
Estamos aqui. Diante de nós, há todo o mal a ser enfrentado. Há dores, sofrimentos, tristezas, circunstâncias complicadas. Há uma infinidade de coisas que precisam ser enfrentadas. Olhamos para elas com que olhos? Há uma relação: só teremos poder para enfrentar o mal – o poder que vem de Deus, o poder do Espírito – na medida em que tivermos fé – a consciência de que o Deus de amor é poderoso. Sem fé, não agradaremos a Deus. Sem fé, não poderemos resistir nas lutas contra o mal. Sem fé, não teremos poder para enfrentá-los. Como naqueles dias, Jesus ainda pode se voltar para nós, seus discípulos, com palavras duras: Gente sem fé! Até quando ficarei com vocês? Até quando terei de agüentá-los?, porque não conseguimos enfrentar o mal. É hora de se humilhar e é hora da atitude mais correta: Sim, Senhor, eu tenho fé! Mas me ajude a ter fé!
1.12.05
Impressões
Homem de Deus, o que o Senhor tem contra mim? Será que o senhor veio aqui para fazer com que Deus lembrasse dos meus pecados e assim provocar a morte de meu filho?
1 Reis 17. 18
O que as pessoas do mundo pensam acerca da igreja? Como elas vêem os cristãos? Que influência os crentes têm exercido na vida das pessoas? De vez em quando fica claro para mim que a principal impressão que os cristãos têm causado nas pessoas à sua volta é um sentimento que pode se resumir nas palavras da viúva de Sarepta ao profeta Elias: Homem de Deus, o que o Senhor tem contra mim? Será que o senhor veio aqui para fazer com que Deus lembrasse dos meus pecados e assim provocar a morte de meu filho?
Indo direto ao assunto, às vezes o povo de Deus me dá a impressão de que existe no mundo apenas para apontar o pecado dos que não conhece a Jesus. Parece que estamos no mundo no papel de juízes dos pecadores. Nossa presença ao seu lado só serve para amplificar, nas mentes e corações, o sentimento de culpa pelos pecados. Parece que a única palavra que conhecemos e partilhamos é a condenação. Apontamos os dedos contra os que falham – como se fossemos melhores – e os condenamos, sem apelação, ao inferno e condenação.
Muitas vezes percebo que os crentes sentem-se no mundo apenas com o papel de condenar, apontar aos pecadores o destino terrível que está reservado aos que não crêem. Somos arautos da pior das notícias. Somos instrumentos de dor, confusão e morte. Como se as pessoas – feridas, marcadas e doentes – viessem até nós e só pudessem encontrar mais dor. Elas precisam de alívio, mas lhes aumentamos o peso da dor. Eu já fiz e ainda faço isso. Parece que a melhor impressão que podemos causar nas pessoas é aquela que a viúva, em seu desespero, viu em Elias: o profeta estava ali para fazer lembrar o seu pecado e, por isso, matar o filho.
Causamos essa impressão quando, por exemplo, nos deparamos com alguém que se sabe pecador, está ferido pela sua culpa, e vem até nós esperando ouvir uma palavra de perdão. Ele espera o alívio de uma mão amiga, de um ombro companheiro, que pode dividir o impacto do sofrimento que tem no coração. Pecador, ouviu falar de um Jesus que disse: Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso (Mt. 11. 28 – 29). Ouviu falar de um povo que se diz seguidor desse Jesus. Mas, ao se encontrar conosco, descobre que não somos muito diferentes dos fariseus dos dias de Jesus e, em vez de descanso, encontra em nós mais acusação, mais sofrimento.
Estou tentando dizer como vejo a fala da viúva de Sarepta. Entendo que essa é a forma como os crentes são vistos por boa parte da população. Somos entendidos como um grupo de pessoas arrogantes, que nos sentimos os mais “santos” e, por isso, apontamos os pecados, erros e dores dos demais. Em vez de alívio, encontram sofrimento e acusação ao nosso lado. A mesma impressão que teve a viúva quando viu seu filho morrer, enquanto hospedava o homem de Deus: Homem de Deus, o que o Senhor tem contra mim? Será que o senhor veio aqui para fazer com que Deus lembrasse dos meus pecados e assim provocar a morte de meu filho?
Mas é na mesma história que Elias ensina que papel devemos exercer diante do sofrimento humano. Mesmo que aquela mulher estivesse entendendo a presença do homem santo como a causa do sofrimento decorrente da morte do menino, Elias sabe que seu papel é transformar as situações de dor e sofrimento em momentos de paz e benção. Ele está ali para ser instrumento da paz de Deus na realização de milagres que aliviem o sofrimento das pessoas e tragam a esperança de volta. Por isso, ele pega o menino, leva-o ao seu quarto, ora a Deus e vê o milagre da ressurreição acontecer.
Se Deus nos põem presentes diante do sofrimento não é para que alimentemos a impressão que os outros têm de que só existimos para acusar e aumentar a dor. Se estamos no caminho de pessoas carregadas e marcadas por pecado e dor é para que sejamos instrumentos de transformação na vida das pessoas. É para que levemos os seus filhos mortos para os nossos lugares de oração e intercedamos a fim de ver-se realizarem milagres, tão ou mais tremendo que uma ressurreição. Estamos no mundo não para causar a impressão de que só sabemos acusar, mas para sermos instrumentos que tragam a alegria, o alívio, o descanso e a esperança de volta à vida das pessoas. Elias nos ensina isso.
1 Reis 17. 18
O que as pessoas do mundo pensam acerca da igreja? Como elas vêem os cristãos? Que influência os crentes têm exercido na vida das pessoas? De vez em quando fica claro para mim que a principal impressão que os cristãos têm causado nas pessoas à sua volta é um sentimento que pode se resumir nas palavras da viúva de Sarepta ao profeta Elias: Homem de Deus, o que o Senhor tem contra mim? Será que o senhor veio aqui para fazer com que Deus lembrasse dos meus pecados e assim provocar a morte de meu filho?
Indo direto ao assunto, às vezes o povo de Deus me dá a impressão de que existe no mundo apenas para apontar o pecado dos que não conhece a Jesus. Parece que estamos no mundo no papel de juízes dos pecadores. Nossa presença ao seu lado só serve para amplificar, nas mentes e corações, o sentimento de culpa pelos pecados. Parece que a única palavra que conhecemos e partilhamos é a condenação. Apontamos os dedos contra os que falham – como se fossemos melhores – e os condenamos, sem apelação, ao inferno e condenação.
Muitas vezes percebo que os crentes sentem-se no mundo apenas com o papel de condenar, apontar aos pecadores o destino terrível que está reservado aos que não crêem. Somos arautos da pior das notícias. Somos instrumentos de dor, confusão e morte. Como se as pessoas – feridas, marcadas e doentes – viessem até nós e só pudessem encontrar mais dor. Elas precisam de alívio, mas lhes aumentamos o peso da dor. Eu já fiz e ainda faço isso. Parece que a melhor impressão que podemos causar nas pessoas é aquela que a viúva, em seu desespero, viu em Elias: o profeta estava ali para fazer lembrar o seu pecado e, por isso, matar o filho.
Causamos essa impressão quando, por exemplo, nos deparamos com alguém que se sabe pecador, está ferido pela sua culpa, e vem até nós esperando ouvir uma palavra de perdão. Ele espera o alívio de uma mão amiga, de um ombro companheiro, que pode dividir o impacto do sofrimento que tem no coração. Pecador, ouviu falar de um Jesus que disse: Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso (Mt. 11. 28 – 29). Ouviu falar de um povo que se diz seguidor desse Jesus. Mas, ao se encontrar conosco, descobre que não somos muito diferentes dos fariseus dos dias de Jesus e, em vez de descanso, encontra em nós mais acusação, mais sofrimento.
Estou tentando dizer como vejo a fala da viúva de Sarepta. Entendo que essa é a forma como os crentes são vistos por boa parte da população. Somos entendidos como um grupo de pessoas arrogantes, que nos sentimos os mais “santos” e, por isso, apontamos os pecados, erros e dores dos demais. Em vez de alívio, encontram sofrimento e acusação ao nosso lado. A mesma impressão que teve a viúva quando viu seu filho morrer, enquanto hospedava o homem de Deus: Homem de Deus, o que o Senhor tem contra mim? Será que o senhor veio aqui para fazer com que Deus lembrasse dos meus pecados e assim provocar a morte de meu filho?
Mas é na mesma história que Elias ensina que papel devemos exercer diante do sofrimento humano. Mesmo que aquela mulher estivesse entendendo a presença do homem santo como a causa do sofrimento decorrente da morte do menino, Elias sabe que seu papel é transformar as situações de dor e sofrimento em momentos de paz e benção. Ele está ali para ser instrumento da paz de Deus na realização de milagres que aliviem o sofrimento das pessoas e tragam a esperança de volta. Por isso, ele pega o menino, leva-o ao seu quarto, ora a Deus e vê o milagre da ressurreição acontecer.
Se Deus nos põem presentes diante do sofrimento não é para que alimentemos a impressão que os outros têm de que só existimos para acusar e aumentar a dor. Se estamos no caminho de pessoas carregadas e marcadas por pecado e dor é para que sejamos instrumentos de transformação na vida das pessoas. É para que levemos os seus filhos mortos para os nossos lugares de oração e intercedamos a fim de ver-se realizarem milagres, tão ou mais tremendo que uma ressurreição. Estamos no mundo não para causar a impressão de que só sabemos acusar, mas para sermos instrumentos que tragam a alegria, o alívio, o descanso e a esperança de volta à vida das pessoas. Elias nos ensina isso.
30.11.05
Não é filme
E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: “Ame os outros como você ama a você mesmo”.
Mateus 22. 39
Esses últimos dias tenho pensado de novo sobre nossas superficialidades. Especificamente, fui conduzido a refletir sobre a forma superficial como nos relacionamos com as outras pessoas. Nossas relações não são conduzidas pela necessidade de nos conhecermos melhor, mas apenas são encaradas como formas descartáveis de “uso” das pessoas que são interessantes temporariamente aos nossos propósitos; pessoas que ficam sem serventia para nós após usadas. Penso que o pior desse processo é que nos passa de forma inconsciente: não somos capazes de refletir sobre tudo isso, por isso nos parece a única alternativa possível de vida.
Nossa superficialidade, desse modo, nos faz encarar as pessoas à nossa volta como se fossem personagens de filmes interpretados por atores. Apenas nossas vidas são reais de verdade. As pessoas à nossa volta não sentem, não sofrem, não vivem de verdade. Como se fossem esses personagens, podem ter suas vidas destruídas agora porque seus atores voltam em outras estórias, em outros filmes, contando outros finais, mais felizes, alguns anos mais tarde. Parece-me que somos capazes de magoar e machucar severamente quem está do nosso lado porque não conseguimos ver que ali está um ser humano, com uma história pessoal, com uma vida, com sentimentos, sonhos e emoções. Para nós, o nosso próximo não deve ser alguém de verdade. A vida é como um filme, então, cujo diretor sou eu, única pessoa de verdade, em função de quem todos os outros personagens existem. Podemos matar pessoas, em vários sentidos, porque para nós elas não passam de linhas escritas em algum roteiro.
E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: “Ame os outros como você ama a você mesmo”. Dentro desse contexto, essas palavras de Jesus poderiam ser lidas como uma convocação que o Mestre nos faz a que nos lembremos que os outros, à nossa volta, são tão reais, são tão pessoas, quanto nós mesmos. É um desafio a que tiremos os nossos olhos do próprio umbigo. É um desafio a que saiamos de nós mesmos e passemos a nos importar com os que nos cercam. É um desafio a que aprofundemos a nossa vida, aprofundando nossas relações interpessoais em um nível em que nos percebamos, e ao próximo, como pessoas.
Nesse desafio, se implica um aprofundamento real de nossa relação com Deus. Porque só é possível ter uma relação de verdade com o Pai a partir do instante que temos uma relação de verdade com os próximos. Se alguém diz: “Eu amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não amar o seu irmão, a quem vê (1 Jo. 4. 20).
Viver a vida plena de Jesus passa por ter consciência de que as pessoas à nossa volta são reais de verdade. Merecem respeito, merecem amor, merecem consideração. Viver a vida de plena de Jesus passa por aprofundar o relacionamento com o próximo. Conseqüentemente, aprofundar o relacionamento com Cristo. E usufruir toda a riqueza e inesgotável profundidade do amor que Deus manifesta por meio de Cristo.
Mateus 22. 39
Esses últimos dias tenho pensado de novo sobre nossas superficialidades. Especificamente, fui conduzido a refletir sobre a forma superficial como nos relacionamos com as outras pessoas. Nossas relações não são conduzidas pela necessidade de nos conhecermos melhor, mas apenas são encaradas como formas descartáveis de “uso” das pessoas que são interessantes temporariamente aos nossos propósitos; pessoas que ficam sem serventia para nós após usadas. Penso que o pior desse processo é que nos passa de forma inconsciente: não somos capazes de refletir sobre tudo isso, por isso nos parece a única alternativa possível de vida.
Nossa superficialidade, desse modo, nos faz encarar as pessoas à nossa volta como se fossem personagens de filmes interpretados por atores. Apenas nossas vidas são reais de verdade. As pessoas à nossa volta não sentem, não sofrem, não vivem de verdade. Como se fossem esses personagens, podem ter suas vidas destruídas agora porque seus atores voltam em outras estórias, em outros filmes, contando outros finais, mais felizes, alguns anos mais tarde. Parece-me que somos capazes de magoar e machucar severamente quem está do nosso lado porque não conseguimos ver que ali está um ser humano, com uma história pessoal, com uma vida, com sentimentos, sonhos e emoções. Para nós, o nosso próximo não deve ser alguém de verdade. A vida é como um filme, então, cujo diretor sou eu, única pessoa de verdade, em função de quem todos os outros personagens existem. Podemos matar pessoas, em vários sentidos, porque para nós elas não passam de linhas escritas em algum roteiro.
E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: “Ame os outros como você ama a você mesmo”. Dentro desse contexto, essas palavras de Jesus poderiam ser lidas como uma convocação que o Mestre nos faz a que nos lembremos que os outros, à nossa volta, são tão reais, são tão pessoas, quanto nós mesmos. É um desafio a que tiremos os nossos olhos do próprio umbigo. É um desafio a que saiamos de nós mesmos e passemos a nos importar com os que nos cercam. É um desafio a que aprofundemos a nossa vida, aprofundando nossas relações interpessoais em um nível em que nos percebamos, e ao próximo, como pessoas.
Nesse desafio, se implica um aprofundamento real de nossa relação com Deus. Porque só é possível ter uma relação de verdade com o Pai a partir do instante que temos uma relação de verdade com os próximos. Se alguém diz: “Eu amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não amar o seu irmão, a quem vê (1 Jo. 4. 20).
Viver a vida plena de Jesus passa por ter consciência de que as pessoas à nossa volta são reais de verdade. Merecem respeito, merecem amor, merecem consideração. Viver a vida de plena de Jesus passa por aprofundar o relacionamento com o próximo. Conseqüentemente, aprofundar o relacionamento com Cristo. E usufruir toda a riqueza e inesgotável profundidade do amor que Deus manifesta por meio de Cristo.
26.11.05
Integridade
Os homens de Israel e de Judá estão longe, na frente de batalha, e a arca da aliança está com eles. O meu comandante Joabe e seus oficiais estão acampados ao ar livre. Como poderia eu ir para casa, comer e dormir com a minha mulher? Juro por tudo o que é sagrado, que nunca poderia fazer isso!
2 Samuel 11. 11
Se você quer aprender algo sobre integridade, sugiro que observe com atenção o relato de 2 Samuel 11. Ao contrário do que seria de se esperar em uma história do rei Davi, neste caso não poderemos aprender coisa alguma sobre integridade olhando para ele. Pelo contrário, Davi é um grande exemplo de canalhice e pecado no capítulo 11 de Samuel. Impressiona-me o exemplo de homem íntegro e fiel que é Urias. Se você quer aprender a ser íntegro, olhe para Urias e esqueça as posturas de Davi nesta história.
A primeira coisa que se destaca na vida de Urias é o fato de que ele não é judeu. Ele não pertence ao povo de Deus, mas manifesta mais fé, integridade e ética do que o rei dos judeus. Sua fé se traduz em ações práticas que esperaríamos encontrar especialmente no rei escolhido por Deus para o Seu povo. Mas é um estrangeiro, não o rei, que se comporta de maneira santa nesse texto.
A presença de Deus guiando Urias é clara. Quando Davi propõe que o seu soldado vá dormir em casa, o heteu se recusa e dá uma explicação que dimensiona o seu entendimento da própria religiosidade do povo a quem é fiel e em que se converteu membro: Os homens de Israel e de Judá estão longe, na frente de batalha, e a arca da aliança está com eles. O meu comandante Joabe e seus oficiais estão acampados ao ar livre. Como poderia eu ir para casa, comer e dormir com a minha mulher? Juro por tudo o que é sagrado, que nunca poderia fazer isso! A fidelidade de Urias a Deus e ao povo frustra os planos que Davi traçou para disfarçar o seu pecado.
É de surpreender, volto a repetir, que encontramos tal postura ética e santa, não no rei dos judeus, mas em um estrangeiro. A fidelidade a Deus e ao povo que deveríamos esperar no rei é encontrada em um de seus soldados que, por ser estrangeiro, nem deveria ter acesso à vida de fé dos judeus.
No dia seguinte, mesmo bêbado, Urias não se desviou da sua integridade e respeito a Deus e os companheiros que estavam no campo de batalha. Essa atitude provoca a reação mais cruel de Davi. O rei infiel decide matar o estrangeiro fiel. E para isso, se vale da própria integridade do soldado heteu: Na manhã seguinte, Davi escreveu uma carta a Joabe e a mandou por Urias. Davi escreveu o seguinte: “Ponha Urias na linha de frente, onde a luta é mais pesada. Depois se retire e deixe que ele seja morto” (2 Sm. 11. 14 – 15). A crueldade do rei seja ao ápice. Ao mesmo tempo, a manifestação da integridade de Urias. É impressionante imaginar que Urias voltou à batalha, sem saber, carregando a sua própria sentença de morte. E Davi havia compreendido tão bem a honestidade do heteu que podia estar certo de que ele não abriria uma carta destinada ao general Joabe.
Davi, o rei, começou todo esse processo adulterando com a belíssima mulher de Urias. Depois, desenha um plano para ocultar seu pecado, já que Bate-Seba ficou grávida. Diante do insucesso do projeto inicial, a sua crueldade aumenta contra o pobre marido que o tempo todo deixou clara sua fidelidade a Deus, ao povo e ao rei. Urias acaba morto e o rei infiel respira aliviado.
Urias é um exemplo de santidade e integridade a ser seguido. E mostra que nem sempre esse exemplo vem daqueles de quem devemos esperar. Não era para esperar que um estrangeiro viesse a mostrar o que é ser santo e comprometido com o Deus de Israel. Não era para esperar que um simples soldado nos desse essa lição. Esperaríamos essa lição do rei dos judeus, escolhido por Deus e homem segundo o Seu coração. Mas isso mostra que, como no início da história de Davi, Deus nunca olha para a aparência ou atende as expectativas, mas busca corações que O adorem, com integridade, em espírito e em verdade. E transformem suas experiências de fé em práticas de vida santa. Se queremos aprender a sermos santos com algum exemplo, não devemos olhar para o poderoso rei Davi, mas para o humilde soldado estrangeiro Urias.
2 Samuel 11. 11
Se você quer aprender algo sobre integridade, sugiro que observe com atenção o relato de 2 Samuel 11. Ao contrário do que seria de se esperar em uma história do rei Davi, neste caso não poderemos aprender coisa alguma sobre integridade olhando para ele. Pelo contrário, Davi é um grande exemplo de canalhice e pecado no capítulo 11 de Samuel. Impressiona-me o exemplo de homem íntegro e fiel que é Urias. Se você quer aprender a ser íntegro, olhe para Urias e esqueça as posturas de Davi nesta história.
A primeira coisa que se destaca na vida de Urias é o fato de que ele não é judeu. Ele não pertence ao povo de Deus, mas manifesta mais fé, integridade e ética do que o rei dos judeus. Sua fé se traduz em ações práticas que esperaríamos encontrar especialmente no rei escolhido por Deus para o Seu povo. Mas é um estrangeiro, não o rei, que se comporta de maneira santa nesse texto.
A presença de Deus guiando Urias é clara. Quando Davi propõe que o seu soldado vá dormir em casa, o heteu se recusa e dá uma explicação que dimensiona o seu entendimento da própria religiosidade do povo a quem é fiel e em que se converteu membro: Os homens de Israel e de Judá estão longe, na frente de batalha, e a arca da aliança está com eles. O meu comandante Joabe e seus oficiais estão acampados ao ar livre. Como poderia eu ir para casa, comer e dormir com a minha mulher? Juro por tudo o que é sagrado, que nunca poderia fazer isso! A fidelidade de Urias a Deus e ao povo frustra os planos que Davi traçou para disfarçar o seu pecado.
É de surpreender, volto a repetir, que encontramos tal postura ética e santa, não no rei dos judeus, mas em um estrangeiro. A fidelidade a Deus e ao povo que deveríamos esperar no rei é encontrada em um de seus soldados que, por ser estrangeiro, nem deveria ter acesso à vida de fé dos judeus.
No dia seguinte, mesmo bêbado, Urias não se desviou da sua integridade e respeito a Deus e os companheiros que estavam no campo de batalha. Essa atitude provoca a reação mais cruel de Davi. O rei infiel decide matar o estrangeiro fiel. E para isso, se vale da própria integridade do soldado heteu: Na manhã seguinte, Davi escreveu uma carta a Joabe e a mandou por Urias. Davi escreveu o seguinte: “Ponha Urias na linha de frente, onde a luta é mais pesada. Depois se retire e deixe que ele seja morto” (2 Sm. 11. 14 – 15). A crueldade do rei seja ao ápice. Ao mesmo tempo, a manifestação da integridade de Urias. É impressionante imaginar que Urias voltou à batalha, sem saber, carregando a sua própria sentença de morte. E Davi havia compreendido tão bem a honestidade do heteu que podia estar certo de que ele não abriria uma carta destinada ao general Joabe.
Davi, o rei, começou todo esse processo adulterando com a belíssima mulher de Urias. Depois, desenha um plano para ocultar seu pecado, já que Bate-Seba ficou grávida. Diante do insucesso do projeto inicial, a sua crueldade aumenta contra o pobre marido que o tempo todo deixou clara sua fidelidade a Deus, ao povo e ao rei. Urias acaba morto e o rei infiel respira aliviado.
Urias é um exemplo de santidade e integridade a ser seguido. E mostra que nem sempre esse exemplo vem daqueles de quem devemos esperar. Não era para esperar que um estrangeiro viesse a mostrar o que é ser santo e comprometido com o Deus de Israel. Não era para esperar que um simples soldado nos desse essa lição. Esperaríamos essa lição do rei dos judeus, escolhido por Deus e homem segundo o Seu coração. Mas isso mostra que, como no início da história de Davi, Deus nunca olha para a aparência ou atende as expectativas, mas busca corações que O adorem, com integridade, em espírito e em verdade. E transformem suas experiências de fé em práticas de vida santa. Se queremos aprender a sermos santos com algum exemplo, não devemos olhar para o poderoso rei Davi, mas para o humilde soldado estrangeiro Urias.
25.11.05
Feridos
A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldade (...). Ela é má, cheia de veneno mortal, e ninguém pode controlar. (...) Da mesma boca saem palavras tanto de agradecimento como de maldição. Meus irmãos, isso não deve ser assim.
Tiago 3. 6; 8 – 10
Palavras quando acessas, não queimam em vão/ Deixam a ferida posta em seu carvão... Todos nós somos mais ou menos experientes do poder da Palavra. Palavras podem construir e abençoar, mas também conhecemos o poder mortífero e destruidor da palavra. A palavra não voa à toa, mas provoca e estimula reações. A palavra mal-dita penetra fundo na alma, ferindo em profundidade alma e mente. Palavras não queimam em vão, mas queimam fundo.
Todos nós já passamos pela situação de sermos destruídos por dentro pelo poder de palavras mortais. Como se milhares de espadas retalhassem a nossa alma, somos partidos em pedacinhos, somos quebrados em cacos, pelas palavras impensadas de alguém, ou palavras vingativas, ou palavras simplesmente maldosas. Seu caminho, desde que atinge o nosso ouvido, tal qual o míssil teleguiado, ruma direto ao coração, que se estilhaça como se vidro fosse. Alguns disfarçam melhor o efeito dessas palavras mal postas, fingem que não são atingidos e talvez não sejam mesmo pela maior parte das palavras que visam atingi-los. No entanto, vez ou outra, nossa muralha de proteção é vencida e a palavra, às vezes a mais simples, penetra destrutiva em nosso ser. Explode. Desfaz em pedaços a inteireza de nosso ser e caráter. Como o soldado ferido e cansado das batalhas de uma guerra, resta-nos rastejar em busca de abrigo, descanso, alívio e paz. Porque a palavra maldita é destruidora de nossa paz. Ferido por dentro, sangrando em demasia, morremos pouco a pouco em busca de socorro. Resta-nos deitar, e gemer por auxílio e socorro. Só quem já experimentou o poder destruidor da palavra pode compreender o quão destroçados ficamos ante ele.
A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldade (...). Ela é má, cheia de veneno mortal, e ninguém pode controlar. (...) Da mesma boca saem palavras tanto de agradecimento como de maldição. Meus irmãos, isso não deve ser assim. Palavras têm me destroçado por dentro nos últimos meses. Palavras têm me deixado cair ferido nos cantos do campo de batalha. Palavras penetraram fundo e retalharam o coração e a alma. Ferido e agonizante, caímos no meio do caminho.
Agonizantes, esperamos por uma saída. Esperamos por um socorro. O socorro que vem do Senhor. Socorro que é uma palavra. A Palavra do Senhor. Como água limpa para o sedento que caminha no deserto – à beira da morte. Como alimento para o faminto que não come há dias – nos limites de suas forças. Como abrigo para o doente, cansado e sobrecarregado. Como vida que se renova para aquele que se acha mais morto que qualquer coisa. Assim é a Palavra de Deus, alimento da alma. Assim é a voz do Senhor, que traz o Seu amor ao nosso coração e nos faz lembrar que o amor do Pai pelo filho sempre é e sempre foi incondicional. Palavra do Senhor que é capaz de calar as vozes dissonantes que vieram aos nossos ouvidos para nos ferir. Palavra do Senhor que faz novas todas as coisas e traz à existências coisas que não existiam. Palavra que alimenta, acalma, protege, sustenta, alivia e cura a dor de qualquer palavra maldita, dirigida a nos destruir.
Feridos, caídos no meio do caminho, desesperados por mais do Senhor, podemos estar certos que receberemos alimento, resposta, amor e restauração da parte da Palavra do Senhor. Caídos, somos postos nos braços do Senhor. Bebemos a Água da Vida, que nos traz alento e nos faz novos. Palavra de Deus, Jesus, a Fonte de nossa vida, vê o nosso sofrimento, vem em nosso socorro, restaura as nossas forças e cura o nosso interior. Por meio de uma viva Palavra, que penetra mais que qualquer espada de dois gumes. Que é mais poderosa que qualquer maldita palavra. Feridos, somos resgatados pela viva Palavra do Senhor. Somos trazidos de volta à vida. Creia nisso.
Tiago 3. 6; 8 – 10
Palavras quando acessas, não queimam em vão/ Deixam a ferida posta em seu carvão... Todos nós somos mais ou menos experientes do poder da Palavra. Palavras podem construir e abençoar, mas também conhecemos o poder mortífero e destruidor da palavra. A palavra não voa à toa, mas provoca e estimula reações. A palavra mal-dita penetra fundo na alma, ferindo em profundidade alma e mente. Palavras não queimam em vão, mas queimam fundo.
Todos nós já passamos pela situação de sermos destruídos por dentro pelo poder de palavras mortais. Como se milhares de espadas retalhassem a nossa alma, somos partidos em pedacinhos, somos quebrados em cacos, pelas palavras impensadas de alguém, ou palavras vingativas, ou palavras simplesmente maldosas. Seu caminho, desde que atinge o nosso ouvido, tal qual o míssil teleguiado, ruma direto ao coração, que se estilhaça como se vidro fosse. Alguns disfarçam melhor o efeito dessas palavras mal postas, fingem que não são atingidos e talvez não sejam mesmo pela maior parte das palavras que visam atingi-los. No entanto, vez ou outra, nossa muralha de proteção é vencida e a palavra, às vezes a mais simples, penetra destrutiva em nosso ser. Explode. Desfaz em pedaços a inteireza de nosso ser e caráter. Como o soldado ferido e cansado das batalhas de uma guerra, resta-nos rastejar em busca de abrigo, descanso, alívio e paz. Porque a palavra maldita é destruidora de nossa paz. Ferido por dentro, sangrando em demasia, morremos pouco a pouco em busca de socorro. Resta-nos deitar, e gemer por auxílio e socorro. Só quem já experimentou o poder destruidor da palavra pode compreender o quão destroçados ficamos ante ele.
A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldade (...). Ela é má, cheia de veneno mortal, e ninguém pode controlar. (...) Da mesma boca saem palavras tanto de agradecimento como de maldição. Meus irmãos, isso não deve ser assim. Palavras têm me destroçado por dentro nos últimos meses. Palavras têm me deixado cair ferido nos cantos do campo de batalha. Palavras penetraram fundo e retalharam o coração e a alma. Ferido e agonizante, caímos no meio do caminho.
Agonizantes, esperamos por uma saída. Esperamos por um socorro. O socorro que vem do Senhor. Socorro que é uma palavra. A Palavra do Senhor. Como água limpa para o sedento que caminha no deserto – à beira da morte. Como alimento para o faminto que não come há dias – nos limites de suas forças. Como abrigo para o doente, cansado e sobrecarregado. Como vida que se renova para aquele que se acha mais morto que qualquer coisa. Assim é a Palavra de Deus, alimento da alma. Assim é a voz do Senhor, que traz o Seu amor ao nosso coração e nos faz lembrar que o amor do Pai pelo filho sempre é e sempre foi incondicional. Palavra do Senhor que é capaz de calar as vozes dissonantes que vieram aos nossos ouvidos para nos ferir. Palavra do Senhor que faz novas todas as coisas e traz à existências coisas que não existiam. Palavra que alimenta, acalma, protege, sustenta, alivia e cura a dor de qualquer palavra maldita, dirigida a nos destruir.
Feridos, caídos no meio do caminho, desesperados por mais do Senhor, podemos estar certos que receberemos alimento, resposta, amor e restauração da parte da Palavra do Senhor. Caídos, somos postos nos braços do Senhor. Bebemos a Água da Vida, que nos traz alento e nos faz novos. Palavra de Deus, Jesus, a Fonte de nossa vida, vê o nosso sofrimento, vem em nosso socorro, restaura as nossas forças e cura o nosso interior. Por meio de uma viva Palavra, que penetra mais que qualquer espada de dois gumes. Que é mais poderosa que qualquer maldita palavra. Feridos, somos resgatados pela viva Palavra do Senhor. Somos trazidos de volta à vida. Creia nisso.
23.11.05
Se Jesus nascesse hoje
Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores, não os bons.
Marcos 2. 17
Se Jesus nascesse hoje em Natal, minha cidade, tento imaginar com quem e onde Ele andaria. Uma certeza muito clara que tenho tido é que Ele não andaria com muita gente daqueles que hoje enchem nossos templos religiosos e participam de festas e celebrações em Seu nome. Tenho a impressão que Ele não seria alguém muito “igrejeiro”. Estaria lá, para ensinar, mas vejo em Jesus a experiência da vida de fé vivida no meio do povo. E, mais especialmente, vivida no meio do povo que mais precisava se sentir valorizado.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, imagino que vez por outra poderíamos encontrá-lo em igrejas. Em algumas, denunciaria seus pecados de omissão ou de ação contrária à Sua Palavra. Em outras, elogiaria sua capacidade de experimentar uma espiritualidade mais plena. Em umas poucas, manifestaria o entusiasmo de encontrar um povo que segue Seu nome da maneira como Ele sempre desejou. De vez em quando, encontraria crentes de todas as igrejas para lhes encorajar à perseverança, mesmo que sejam desprestigiados em suas comunidades.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, imagino que seria bem mais fácil encontrá-lo ao lado dos povos da rua, dormindo sob as marquises do centro da cidade, pedindo nos ônibus com as crianças de fala decorada. Acho que uma hora dessas Ele poderia ser encontrado tomando um cafezinho em uma das muitas desprivilegiadas casas do Paço da Pátria, conversando animadamente com uma senhora, de rosto sofrido, com pouco mais de cinqüenta anos que pesam como se fossem oitenta. Após o café, certamente Jesus iria até a boca de fumo mais próxima – Jesus no meio de uma venda de drogas – conversar com aqueles jovens que nunca tiveram ninguém que os valorizassem, a não ser drogas e traficantes. Em todos esses lugares e momentos, Jesus manifestaria o amor que valoriza as pessoas como elas jamais se sentiram valorizados.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, passaria despercebido pela maior parte dos religiosos cristãos de nossos templos e igrejas. Preocupados com normas, ritos e autoridades, não perceberiam que Jesus estava onde sempre andou enquanto esteve nas ruas da Palestina. Jesus não veio para dizer aos que sentiam valorizados que eles tinham valor e faziam tudo certo. Confrontou os fariseus, chamando-os de cegos, possivelmente porque foram incapazes de ver que o Messias veio para os que estão presos, para os que estão famintos, para os que não têm valor. Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores, não os bons. Jesus não andaria com os crentes de nossas igrejas. Pelo contrário, nós O encontraríamos lado a lado, em papos animados, com os piores pecadores que podemos imaginar.
Quem me dera ser achado entre aqueles que andariam lado a lado com Jesus. Arrependido, transformado, renovado. Capaz de ouvir Sua santa voz, Seu ensino. Experimentando, em profundidade, o Seu amor renovador, restaurador, amor que nos faz ter novo valor. O Messias esperado não correspondeu às expectativas humanas. Surpreendeu, também ao escolher as coisas que não são do mundo para envergonhar tudo o que tem valor. Quem dera você fosse achado entre aqueles que andariam lado a lado com Jesus nas ruas de Natal. Entre aqueles que reconheceriam a Sua presença entre nós.
O problema é esse. Não reconhecemos a Sua presença entre nós. Não precisamos esperar que Jesus nascesse de novo, em Natal, para estarmos certos de que Ele anda, realmente, nas ruas do Paço da Pátria ou dorme nas marquises do centro da cidade com os moradores de ruas. Se somos incapazes de perceber isso e de viver isso; se nossa vida cristã se resume a uma religiosidade formal e domingueira; se não percebemos que viver Cristo é ir e fazer-se instrumento de Sua paz; se tudo isso, estamos andando longe dEle. Ele anda entre nós. Seu amor está entre nós. Ele fez uma opção pelos pecadores. E deixou uma tarefa para que eu e você a cumpramos. Estar no centro da vontade de Deus não é uma experiência mística qualquer, mas é se colocar como instrumento do Reino de Deus onde o Reino de Deus precisa ser vivido. É levar o valor que Deus dá à humanidade pecadora onde essa mensagem precisa ser ouvida. A começar de nossos corações.
Marcos 2. 17
Se Jesus nascesse hoje em Natal, minha cidade, tento imaginar com quem e onde Ele andaria. Uma certeza muito clara que tenho tido é que Ele não andaria com muita gente daqueles que hoje enchem nossos templos religiosos e participam de festas e celebrações em Seu nome. Tenho a impressão que Ele não seria alguém muito “igrejeiro”. Estaria lá, para ensinar, mas vejo em Jesus a experiência da vida de fé vivida no meio do povo. E, mais especialmente, vivida no meio do povo que mais precisava se sentir valorizado.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, imagino que vez por outra poderíamos encontrá-lo em igrejas. Em algumas, denunciaria seus pecados de omissão ou de ação contrária à Sua Palavra. Em outras, elogiaria sua capacidade de experimentar uma espiritualidade mais plena. Em umas poucas, manifestaria o entusiasmo de encontrar um povo que segue Seu nome da maneira como Ele sempre desejou. De vez em quando, encontraria crentes de todas as igrejas para lhes encorajar à perseverança, mesmo que sejam desprestigiados em suas comunidades.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, imagino que seria bem mais fácil encontrá-lo ao lado dos povos da rua, dormindo sob as marquises do centro da cidade, pedindo nos ônibus com as crianças de fala decorada. Acho que uma hora dessas Ele poderia ser encontrado tomando um cafezinho em uma das muitas desprivilegiadas casas do Paço da Pátria, conversando animadamente com uma senhora, de rosto sofrido, com pouco mais de cinqüenta anos que pesam como se fossem oitenta. Após o café, certamente Jesus iria até a boca de fumo mais próxima – Jesus no meio de uma venda de drogas – conversar com aqueles jovens que nunca tiveram ninguém que os valorizassem, a não ser drogas e traficantes. Em todos esses lugares e momentos, Jesus manifestaria o amor que valoriza as pessoas como elas jamais se sentiram valorizados.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, passaria despercebido pela maior parte dos religiosos cristãos de nossos templos e igrejas. Preocupados com normas, ritos e autoridades, não perceberiam que Jesus estava onde sempre andou enquanto esteve nas ruas da Palestina. Jesus não veio para dizer aos que sentiam valorizados que eles tinham valor e faziam tudo certo. Confrontou os fariseus, chamando-os de cegos, possivelmente porque foram incapazes de ver que o Messias veio para os que estão presos, para os que estão famintos, para os que não têm valor. Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores, não os bons. Jesus não andaria com os crentes de nossas igrejas. Pelo contrário, nós O encontraríamos lado a lado, em papos animados, com os piores pecadores que podemos imaginar.
Quem me dera ser achado entre aqueles que andariam lado a lado com Jesus. Arrependido, transformado, renovado. Capaz de ouvir Sua santa voz, Seu ensino. Experimentando, em profundidade, o Seu amor renovador, restaurador, amor que nos faz ter novo valor. O Messias esperado não correspondeu às expectativas humanas. Surpreendeu, também ao escolher as coisas que não são do mundo para envergonhar tudo o que tem valor. Quem dera você fosse achado entre aqueles que andariam lado a lado com Jesus nas ruas de Natal. Entre aqueles que reconheceriam a Sua presença entre nós.
O problema é esse. Não reconhecemos a Sua presença entre nós. Não precisamos esperar que Jesus nascesse de novo, em Natal, para estarmos certos de que Ele anda, realmente, nas ruas do Paço da Pátria ou dorme nas marquises do centro da cidade com os moradores de ruas. Se somos incapazes de perceber isso e de viver isso; se nossa vida cristã se resume a uma religiosidade formal e domingueira; se não percebemos que viver Cristo é ir e fazer-se instrumento de Sua paz; se tudo isso, estamos andando longe dEle. Ele anda entre nós. Seu amor está entre nós. Ele fez uma opção pelos pecadores. E deixou uma tarefa para que eu e você a cumpramos. Estar no centro da vontade de Deus não é uma experiência mística qualquer, mas é se colocar como instrumento do Reino de Deus onde o Reino de Deus precisa ser vivido. É levar o valor que Deus dá à humanidade pecadora onde essa mensagem precisa ser ouvida. A começar de nossos corações.
22.11.05
Direito de julgar?
Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como esse cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.
Lucas 18. 11 – 12
Em 2002, participei da Escola Dominical em uma igreja em Fortaleza. Naquela manhã, o professor propôs um exercício bem interessante. No meio da sala ele havia separado algumas cadeiras como sendo reservadas. Na verdade, reservadas para personalidades da nossa sociedade, notoriamente conhecidas como pecadores resolutos: Fernandinho Beira-Mar, ACM, Paulo Maluf, etc. A questão contra a qual fomos postos era qual seria a nossa reação se essas pessoas estivessem lá.
Obvio que as respostas giravam em torno das mais cristãs possíveis. Demonstrar amor por eles. Falar-lhes de Jesus. Tentar convencer-lhes a entregarem suas vidas ao conhecimento do Deus Vivo. Mas, confesso, aquilo me incomodou. É muito fácil para nós falarmos “em tese”. Especialmente se a situação se refere a algo que é, verdadeiramente, impossível de vermos. Aquelas pessoas jamais estariam naquela sala. Por isso, era muito distante de qualquer um, discutir aquele assunto. Ou seja, todos nós poderíamos dar, ali, as respostas mais esperadas, mais conformes o que se pensa que o cristão deva fazer. Isso não significava que seriam respostas verdadeiras. Pelo contrário.
Incomodado, propus aos meus irmãos uma outra questão. Disse que era muito fácil falar de algo tão distante. Mas, e quando o pecado acontece no nosso meio? Como reagimos quando uma liderança importante de nossa igreja peca? Ou um irmão próximo a nós? Lembro de ter usado o exemplo daquele que era o pastor do Brasil até sua queda. Disse que havia lido que os livros dele não eram mais comprados, como se o seu pecado posterior tivesse inutilizado a Palavra de Deus em sua vida anteriormente. Para o meu espanto, aqueles jovens endossaram o coro dos que o rejeitavam. Nunca mais ele seria pastor para aqueles meninos e meninas. Seu ministério estava para sempre acabado. Era o fim. No lugar do Deus perdoador e restaurador, eles diziam que era o fim dele.
Eu os respondi. Na época estava no seminário. Disse que se não acreditasse no poder restaurador de Deus e da Palavra de Deus, eu rasgaria a minha Bíblia e voltaria para Natal. Se eu estava ali, me preparando para o ministério para o qual Deus havia me chamado, era porque acreditava que há restauração plena e total na Palavra de Deus e em Sua presença. E se estava no seminário, era porque sabia que o que havia acontecido com aquele pastor poderia acontecer comigo. Eu não era um super-homem. Não era melhor que ele, nem ele era diferente de mim. Se não cresse em tudo isso, não havia razão para ser pastor e estar no ministério. Se duvidasse dessa verdade na minha vida ou na vida de qualquer um, era melhor tentar outra coisa. Comprovei a veracidade de minha fala em alguns meses. Eu mesmo caí de maneira semelhante à do pastor.
Hoje me lembrei dessa história de novo. Reencontrei uma jovem que foi banida de alguns círculos sociais que freqüento. Por causa de um pecado. Conversei com ela um bom tempo. Não porque fosse melhor que os outros, mas por me entender tão pecador quanto os outros, tive por ela o mesmo carinho e atenção de antes. Talvez um pouco mais ampliado por entender que ela precisa de apoio para se levantar. Sei que, possivelmente, envolvido na mesma circunstância que ela estava, agiria da mesma maneira que ela. E entendi que os que a baniram se entendem melhores que ela, lamentavelmente. Não percebem que, no meio da vida, eu, você, ela e qualquer ser humano, somos uns tão pecadores quanto outros. Somos todos igualmente carentes do mesmo perdão e graça de Deus. Sentimentos orgulhosos não convêm a criminosos.
Perdoar é se saber no mesmo patamar do pecador. É se reconhecer pecador. Quem se recusa a dar perdão e a crer na restauração, na verdade, quer acreditar que é melhor que os outros. Não é tão pecador quanto os outros. É mais santo e mais puro. É capaz de perdoar alguém que tem a atitude, concreta e de coração, do cobrador de impostos da parábola. Apenas os fariseus não perdoam, porque não precisam de perdão: Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como esse cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.
Lucas 18. 11 – 12
Em 2002, participei da Escola Dominical em uma igreja em Fortaleza. Naquela manhã, o professor propôs um exercício bem interessante. No meio da sala ele havia separado algumas cadeiras como sendo reservadas. Na verdade, reservadas para personalidades da nossa sociedade, notoriamente conhecidas como pecadores resolutos: Fernandinho Beira-Mar, ACM, Paulo Maluf, etc. A questão contra a qual fomos postos era qual seria a nossa reação se essas pessoas estivessem lá.
Obvio que as respostas giravam em torno das mais cristãs possíveis. Demonstrar amor por eles. Falar-lhes de Jesus. Tentar convencer-lhes a entregarem suas vidas ao conhecimento do Deus Vivo. Mas, confesso, aquilo me incomodou. É muito fácil para nós falarmos “em tese”. Especialmente se a situação se refere a algo que é, verdadeiramente, impossível de vermos. Aquelas pessoas jamais estariam naquela sala. Por isso, era muito distante de qualquer um, discutir aquele assunto. Ou seja, todos nós poderíamos dar, ali, as respostas mais esperadas, mais conformes o que se pensa que o cristão deva fazer. Isso não significava que seriam respostas verdadeiras. Pelo contrário.
Incomodado, propus aos meus irmãos uma outra questão. Disse que era muito fácil falar de algo tão distante. Mas, e quando o pecado acontece no nosso meio? Como reagimos quando uma liderança importante de nossa igreja peca? Ou um irmão próximo a nós? Lembro de ter usado o exemplo daquele que era o pastor do Brasil até sua queda. Disse que havia lido que os livros dele não eram mais comprados, como se o seu pecado posterior tivesse inutilizado a Palavra de Deus em sua vida anteriormente. Para o meu espanto, aqueles jovens endossaram o coro dos que o rejeitavam. Nunca mais ele seria pastor para aqueles meninos e meninas. Seu ministério estava para sempre acabado. Era o fim. No lugar do Deus perdoador e restaurador, eles diziam que era o fim dele.
Eu os respondi. Na época estava no seminário. Disse que se não acreditasse no poder restaurador de Deus e da Palavra de Deus, eu rasgaria a minha Bíblia e voltaria para Natal. Se eu estava ali, me preparando para o ministério para o qual Deus havia me chamado, era porque acreditava que há restauração plena e total na Palavra de Deus e em Sua presença. E se estava no seminário, era porque sabia que o que havia acontecido com aquele pastor poderia acontecer comigo. Eu não era um super-homem. Não era melhor que ele, nem ele era diferente de mim. Se não cresse em tudo isso, não havia razão para ser pastor e estar no ministério. Se duvidasse dessa verdade na minha vida ou na vida de qualquer um, era melhor tentar outra coisa. Comprovei a veracidade de minha fala em alguns meses. Eu mesmo caí de maneira semelhante à do pastor.
Hoje me lembrei dessa história de novo. Reencontrei uma jovem que foi banida de alguns círculos sociais que freqüento. Por causa de um pecado. Conversei com ela um bom tempo. Não porque fosse melhor que os outros, mas por me entender tão pecador quanto os outros, tive por ela o mesmo carinho e atenção de antes. Talvez um pouco mais ampliado por entender que ela precisa de apoio para se levantar. Sei que, possivelmente, envolvido na mesma circunstância que ela estava, agiria da mesma maneira que ela. E entendi que os que a baniram se entendem melhores que ela, lamentavelmente. Não percebem que, no meio da vida, eu, você, ela e qualquer ser humano, somos uns tão pecadores quanto outros. Somos todos igualmente carentes do mesmo perdão e graça de Deus. Sentimentos orgulhosos não convêm a criminosos.
Perdoar é se saber no mesmo patamar do pecador. É se reconhecer pecador. Quem se recusa a dar perdão e a crer na restauração, na verdade, quer acreditar que é melhor que os outros. Não é tão pecador quanto os outros. É mais santo e mais puro. É capaz de perdoar alguém que tem a atitude, concreta e de coração, do cobrador de impostos da parábola. Apenas os fariseus não perdoam, porque não precisam de perdão: Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como esse cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.
20.11.05
Sozinho
Olho para os lados e não vejo ninguém que me ajude. Não há ninguém para me proteger, não há ninguém que cuide de mim.
Salmo 142. 4
Eu devia ter uns cinco anos de idade. Havia uma loja do Pão de Açúcar praticamente na esquina da rua onde morava aqui em Natal. Lembro que tinha um certo receio de ir a esse supermercado porque uma casa vizinha a ele tinha um doberman que de vez em quando era visto andando solto na calçada. Eu morria de medo de cachorros, muito mais de raças como doberman. Fui, certo dia, com minha mãe ao supermercado. Naquele eu estava especialmente teimoso. Desobedeci diversas vezes minha mãe que me pedia que não corresse na loja, não saísse de perto dela. Até que... não a vi mais. Lembro de começar a entrar em desespero. Imagine o que significava para uma criança de cinco anos de idade estar perdida dentro de um supermercado. Olhava para os lados e não via ninguém que me ajudasse. Não havia ninguém para me proteger, não havia ninguém que cuidasse de mim. Após uns poucos instantes de desespero – para mim pareceu uma eternidade – senti a mão de minha mãe segurando firme a minha. E aprendi a lição de nunca mais sair de perto da pessoa que me fazia sentir seguro, que me protegia, cuidava de mim e me ajudava.
Nos últimos dias tenho estado com uma canção no coração – canção que escuto agora enquanto escrevo:
Tenho saudades
Saudades de Ti
Minha vontade é
Voltar atrás, onde cai
E recomeçar tudo de novo
E nunca mais deixar
Meu coração se esfriar
Te quero
Preciso do Teu calor
(Quero me apaixonar, Diante do Trono)
Às vezes sinto como se tivesse largado a mão do Senhor, como fiz no passado com a mão da minha mãe. Como se eu tivesse me afastado daquele que me guarda, me protege, que é a minha segurança. Tenho saudades dele. Tenho saudades de andar agarrado à Sua mão como andava com minha mãe. Sinto-me um pouco como quando tinha cinco anos e me perdi no meio do supermercado. Tenho saudades. Aspiro ser reencontrado pelo Senhor. Ser achado por Ele. Recomeçar tudo de novo e não deixar meu coração se esfriar. Porque quero desesperadamente o Senhor, preciso do Seu calor.
Olho para os lados e não vejo ninguém que me ajude. Não há ninguém para me proteger, não há ninguém que cuide de mim. Muitos de nós temos andado e vivido assim. Coisa que não é, em absoluto, necessária. Deus está próximo e disposto a se deixar ser encontrado. Ele quer nos encontrar e mudar a vida da gente. Basta a atitude correta: Eu clamo a Deus, o Senhor, pedindo socorro [só Ele pode nos socorrer – lembre disso e creia nisso!]; eu suplico que me ajude. Levo a Ele todas as minhas queixas e lhe conto todos os meus problemas. Quando estou desistindo, Ele sabe o que devo fazer. (...) Ó Senhor, eu grito pedindo a Tua ajuda. Ó Deus, tu és o meu protetor, és tudo o que desejo nesta vida (Sl. 142. 1 -3 e 5).
O Senhor está bem aqui ao nosso lado. Ao meu lado e ao seu lado. Ele é a nossa força e segurança. Aquele que pode nos segurar pela mão e nos fazer sentir seguros e firmes, como jamais a minha mãe poderia me fazer sentir. Ele está aí ao seu lado. Volte-se a Ele. Clame a Ele. Fale com Ele. Anseie por Ele. E você será achado – seguro pela mão dele – assim como eu fui por minha mãe aos cinco anos, no meio daquele enorme supermercado.
Salmo 142. 4
Eu devia ter uns cinco anos de idade. Havia uma loja do Pão de Açúcar praticamente na esquina da rua onde morava aqui em Natal. Lembro que tinha um certo receio de ir a esse supermercado porque uma casa vizinha a ele tinha um doberman que de vez em quando era visto andando solto na calçada. Eu morria de medo de cachorros, muito mais de raças como doberman. Fui, certo dia, com minha mãe ao supermercado. Naquele eu estava especialmente teimoso. Desobedeci diversas vezes minha mãe que me pedia que não corresse na loja, não saísse de perto dela. Até que... não a vi mais. Lembro de começar a entrar em desespero. Imagine o que significava para uma criança de cinco anos de idade estar perdida dentro de um supermercado. Olhava para os lados e não via ninguém que me ajudasse. Não havia ninguém para me proteger, não havia ninguém que cuidasse de mim. Após uns poucos instantes de desespero – para mim pareceu uma eternidade – senti a mão de minha mãe segurando firme a minha. E aprendi a lição de nunca mais sair de perto da pessoa que me fazia sentir seguro, que me protegia, cuidava de mim e me ajudava.
Nos últimos dias tenho estado com uma canção no coração – canção que escuto agora enquanto escrevo:
Tenho saudades
Saudades de Ti
Minha vontade é
Voltar atrás, onde cai
E recomeçar tudo de novo
E nunca mais deixar
Meu coração se esfriar
Te quero
Preciso do Teu calor
(Quero me apaixonar, Diante do Trono)
Às vezes sinto como se tivesse largado a mão do Senhor, como fiz no passado com a mão da minha mãe. Como se eu tivesse me afastado daquele que me guarda, me protege, que é a minha segurança. Tenho saudades dele. Tenho saudades de andar agarrado à Sua mão como andava com minha mãe. Sinto-me um pouco como quando tinha cinco anos e me perdi no meio do supermercado. Tenho saudades. Aspiro ser reencontrado pelo Senhor. Ser achado por Ele. Recomeçar tudo de novo e não deixar meu coração se esfriar. Porque quero desesperadamente o Senhor, preciso do Seu calor.
Olho para os lados e não vejo ninguém que me ajude. Não há ninguém para me proteger, não há ninguém que cuide de mim. Muitos de nós temos andado e vivido assim. Coisa que não é, em absoluto, necessária. Deus está próximo e disposto a se deixar ser encontrado. Ele quer nos encontrar e mudar a vida da gente. Basta a atitude correta: Eu clamo a Deus, o Senhor, pedindo socorro [só Ele pode nos socorrer – lembre disso e creia nisso!]; eu suplico que me ajude. Levo a Ele todas as minhas queixas e lhe conto todos os meus problemas. Quando estou desistindo, Ele sabe o que devo fazer. (...) Ó Senhor, eu grito pedindo a Tua ajuda. Ó Deus, tu és o meu protetor, és tudo o que desejo nesta vida (Sl. 142. 1 -3 e 5).
O Senhor está bem aqui ao nosso lado. Ao meu lado e ao seu lado. Ele é a nossa força e segurança. Aquele que pode nos segurar pela mão e nos fazer sentir seguros e firmes, como jamais a minha mãe poderia me fazer sentir. Ele está aí ao seu lado. Volte-se a Ele. Clame a Ele. Fale com Ele. Anseie por Ele. E você será achado – seguro pela mão dele – assim como eu fui por minha mãe aos cinco anos, no meio daquele enorme supermercado.
Sem justificativas
Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!
Lucas 15. 21
Certa manhã acordei assustado com a porta do banheiro de meu apartamento batendo fortemente. Três vezes. Acordei chateado, obviamente. Vocês sabem como é terrível acordar com o som de uma porta batendo. Imagine três vezes. Chateado, sai de meu quarto dizendo a uma das pessoas de casa, ironicamente: Obrigado por me acordar assim. A pessoa respondeu a minha fala justificando que havia esquecido a porta aberta por estar lavando o banheiro. Fiz ver a essa pessoa que não era essa a questão. Não esperava uma explicação. Desejava apenas que me pedissem desculpas. Apenas isso. Não ia ficar chateado pelo resto do dia. Esperava apenas uma fala assim: Desculpa ter feito você acordar dessa forma.
Isso me fez pensar que muitas vezes tudo o que Deus espera de nós é um pedido de perdão, mas tudo o que damos a Ele é uma justificativa. Às vezes, não recebemos o perdão porque, em vez de pedi-lo, preferimos explicar os fatos que nos levaram a pecar – como se Deus precisasse de explicações de nossa parte. O problema é que pedir perdão significa assumir a culpa, o erro – e seria redundante se dissesse o quanto é difícil para o ser humano assumir a culpa. O perdão tem como pré-requisito a culpa assumida e confessada. Mas essa talvez seja a atitude mais difícil de ser tomada pelo homem pecador.
Essa atitude estava presente no Éden. O capítulo 3 conta a história do pecado original, mas também relata o primeiro momento de empurra da humanidade. Ninguém teve condições de assumir a sua própria culpa, sem se justificar. Deus pergunta ao homem: Por acaso você comeu a fruta da árvore que eu o proibi de comer? (Gn. 3. 11). A resposta do homem é evasiva: A mulher que tu me deste para ser a minha companheira me deu a fruta, e eu comi (Gn. 3. 12). O homem se explica, jogando a culpa na mulher. Não assumi sua responsabilidade. A mulher não age de maneira melhor – para ela, a culpa foi da cobra: A cobra me enganou, e eu comi (Gn. 3. 13).
O primeiro passo para a restauração e o perdão da culpa e do pecado é assumi-la. Sem subterfúgios, sem explicações, sem elaborações. É simplesmente assumir-se o pecador que se é. Confessar a Deus a falta. E crer que Ele é fiel e justo para nos perdoar. É simples assim. Sem complicações, sem maiores elocubrações. Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!
Lucas 15. 21
Certa manhã acordei assustado com a porta do banheiro de meu apartamento batendo fortemente. Três vezes. Acordei chateado, obviamente. Vocês sabem como é terrível acordar com o som de uma porta batendo. Imagine três vezes. Chateado, sai de meu quarto dizendo a uma das pessoas de casa, ironicamente: Obrigado por me acordar assim. A pessoa respondeu a minha fala justificando que havia esquecido a porta aberta por estar lavando o banheiro. Fiz ver a essa pessoa que não era essa a questão. Não esperava uma explicação. Desejava apenas que me pedissem desculpas. Apenas isso. Não ia ficar chateado pelo resto do dia. Esperava apenas uma fala assim: Desculpa ter feito você acordar dessa forma.
Isso me fez pensar que muitas vezes tudo o que Deus espera de nós é um pedido de perdão, mas tudo o que damos a Ele é uma justificativa. Às vezes, não recebemos o perdão porque, em vez de pedi-lo, preferimos explicar os fatos que nos levaram a pecar – como se Deus precisasse de explicações de nossa parte. O problema é que pedir perdão significa assumir a culpa, o erro – e seria redundante se dissesse o quanto é difícil para o ser humano assumir a culpa. O perdão tem como pré-requisito a culpa assumida e confessada. Mas essa talvez seja a atitude mais difícil de ser tomada pelo homem pecador.
Essa atitude estava presente no Éden. O capítulo 3 conta a história do pecado original, mas também relata o primeiro momento de empurra da humanidade. Ninguém teve condições de assumir a sua própria culpa, sem se justificar. Deus pergunta ao homem: Por acaso você comeu a fruta da árvore que eu o proibi de comer? (Gn. 3. 11). A resposta do homem é evasiva: A mulher que tu me deste para ser a minha companheira me deu a fruta, e eu comi (Gn. 3. 12). O homem se explica, jogando a culpa na mulher. Não assumi sua responsabilidade. A mulher não age de maneira melhor – para ela, a culpa foi da cobra: A cobra me enganou, e eu comi (Gn. 3. 13).
O primeiro passo para a restauração e o perdão da culpa e do pecado é assumi-la. Sem subterfúgios, sem explicações, sem elaborações. É simplesmente assumir-se o pecador que se é. Confessar a Deus a falta. E crer que Ele é fiel e justo para nos perdoar. É simples assim. Sem complicações, sem maiores elocubrações. Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!
18.11.05
Pessoas e lugares
O Senhor renova as minhas forças e me guia por caminhos certos, como ele mesmo prometeu
Salmo 23. 3
Imagine o lugar mais lindo que você já conheceu. Aquele lugar que você se sente bem, feliz, pleno, apenas de estar ali. Eu já vi lugares lindos – naturais ou construídos pela empresa humana – que me fizeram estar deslumbrado. Lembro de algumas praias, como Morro Branco, no Ceará, o caminho, pela beira-mar, entre Barra de Cunhau e Pipa, e uma praia, cujo nome não lembro, em Pernambuco, onde estive em 2003. Lugares fantásticos, onde lembro de ter ficado extasiado com tanto esplendor de beleza. Sem falar nas belezas de Ponta Negra, do Morro do Careca, de Jenipabu. Um dia, um amigo que nunca tinha visto o mar, ao passar pela estrada de Ponta Negra, de onde podemos ver toda a praia do alto, emocionado, chorou feito uma criança com a beleza daquele lugar.
Há lugares que não são tão belos, mas nos trazem segurança e conforto. Não há melhor coisa para quem está em uma terra que não é a sua do que ser bem recebido por quem o hospeda. Não precisa de extremo conforto, apenas de carinho e cuidado. A gente nunca esquece como é bem cuidado em lugares que nos sentimos inseguros. A insegurança cede lugar a uma doce e confortável segurança. Vivi experiências assim em diferentes lugares desse país. Em Mossoró, em Fortaleza, em Recife, em Campina Grande, em Campinas, em São Paulo. Lugares que ficaram marcados pelo cuidado e carinho. Lugares que marcaram pela segurança.
Sugiro que você imagine lugares belos, extasiantes como os que ficaram assim marcados para mim. Pense, também, naqueles lugares que você se lembra como sendo seguros. Independente da beleza, do conforto ou da segurança do lugar, no entanto, nenhum desses lugares e nenhum dos sentimentos que esses lugares gravaram em nós, se podem comparar com a beleza e a segurança que o colo do Pai do Céu, que o centro de Sua vontade, que os átrios do Seu templo trazem ao coração humano.
Além disso, imagino as pessoas que mais me fizeram sentir amado na vida. Claro que a maior de todas é a minha mãe. Uma mulher que foi muitas vezes capaz de deixar de comer para que eu comesse, foi capaz de se anular para que eu fosse, foi capaz de tremendo sacrifícios para que eu pudesse ser feliz. Uma mulher que costuma dizer que não sabe o que seria de sua vida sem mim – e o que seria a minha sem ela? Dificilmente alguém me faria sentir tão amado como minha mãe.
Mas outras pessoas me fizeram sentir amado. Amigos, amigas, mulheres, namoradas. Meu pastor e sua família já me fizeram sentir amado inúmeras vezes. Outras pessoas de minha igreja. Lembro de uma ocasião em que estava sendo disciplinado pelo conselho de minha igreja. Um presbítero falou um monte de coisas para mim naquela reunião. Eu não concordei – como ainda não concordo – com uma letra do que ele me disse. Mas ele me dizia com tanto amor aquilo que dizia que sua atitude me marcou profundamente. Muito mais do que ele poderia imaginar. Muito mais que suas palavras poderiam ter marcado, se com elas eu concordasse.
Por mais que as pessoas nos façam sentir amado, nada se compara com o amor de Deus por nós. Não existe que nos faça sentir valorizado ou amado mais do que o Deus do céu. Do que Jesus, que foi capaz de dar sua vida para que eu e você vivêssemos. Não existe pessoa no universo que nos ame tanto. Se somos capazes de imaginar lugares belos e seguros, amores grandes e presentes, tudo isso não passa de míseras sombras do que Deus é e pode ainda ser em nossas vidas. Estou com saudades dos Seus pastos verdes, dos Seus rios de água viva. Estou com saudade de me extasiar na beleza de Sua santidade, de me embriagar com o Seu eterno amor. Estou com saudades de estar aqui: O Senhor é meu pastor; nada me faltará. Ele me faz descansar em pastos verdes e me leva a águas tranqüilas. O Senhor renova as minhas forças e me guia por caminhos certos, como ele mesmo prometeu. Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges. Preparas um banquete para mim, onde os meus inimigos me podem ver. Tu me recebes como convidado de honra e enches o meu copo até derramar. Certamente a tua bondade e o teu amor ficarão comigo enquanto eu viver. E na tua casa, ó Senhor, morarei todos os dias da minha vida (Sl. 23).
Salmo 23. 3
Imagine o lugar mais lindo que você já conheceu. Aquele lugar que você se sente bem, feliz, pleno, apenas de estar ali. Eu já vi lugares lindos – naturais ou construídos pela empresa humana – que me fizeram estar deslumbrado. Lembro de algumas praias, como Morro Branco, no Ceará, o caminho, pela beira-mar, entre Barra de Cunhau e Pipa, e uma praia, cujo nome não lembro, em Pernambuco, onde estive em 2003. Lugares fantásticos, onde lembro de ter ficado extasiado com tanto esplendor de beleza. Sem falar nas belezas de Ponta Negra, do Morro do Careca, de Jenipabu. Um dia, um amigo que nunca tinha visto o mar, ao passar pela estrada de Ponta Negra, de onde podemos ver toda a praia do alto, emocionado, chorou feito uma criança com a beleza daquele lugar.
Há lugares que não são tão belos, mas nos trazem segurança e conforto. Não há melhor coisa para quem está em uma terra que não é a sua do que ser bem recebido por quem o hospeda. Não precisa de extremo conforto, apenas de carinho e cuidado. A gente nunca esquece como é bem cuidado em lugares que nos sentimos inseguros. A insegurança cede lugar a uma doce e confortável segurança. Vivi experiências assim em diferentes lugares desse país. Em Mossoró, em Fortaleza, em Recife, em Campina Grande, em Campinas, em São Paulo. Lugares que ficaram marcados pelo cuidado e carinho. Lugares que marcaram pela segurança.
Sugiro que você imagine lugares belos, extasiantes como os que ficaram assim marcados para mim. Pense, também, naqueles lugares que você se lembra como sendo seguros. Independente da beleza, do conforto ou da segurança do lugar, no entanto, nenhum desses lugares e nenhum dos sentimentos que esses lugares gravaram em nós, se podem comparar com a beleza e a segurança que o colo do Pai do Céu, que o centro de Sua vontade, que os átrios do Seu templo trazem ao coração humano.
Além disso, imagino as pessoas que mais me fizeram sentir amado na vida. Claro que a maior de todas é a minha mãe. Uma mulher que foi muitas vezes capaz de deixar de comer para que eu comesse, foi capaz de se anular para que eu fosse, foi capaz de tremendo sacrifícios para que eu pudesse ser feliz. Uma mulher que costuma dizer que não sabe o que seria de sua vida sem mim – e o que seria a minha sem ela? Dificilmente alguém me faria sentir tão amado como minha mãe.
Mas outras pessoas me fizeram sentir amado. Amigos, amigas, mulheres, namoradas. Meu pastor e sua família já me fizeram sentir amado inúmeras vezes. Outras pessoas de minha igreja. Lembro de uma ocasião em que estava sendo disciplinado pelo conselho de minha igreja. Um presbítero falou um monte de coisas para mim naquela reunião. Eu não concordei – como ainda não concordo – com uma letra do que ele me disse. Mas ele me dizia com tanto amor aquilo que dizia que sua atitude me marcou profundamente. Muito mais do que ele poderia imaginar. Muito mais que suas palavras poderiam ter marcado, se com elas eu concordasse.
Por mais que as pessoas nos façam sentir amado, nada se compara com o amor de Deus por nós. Não existe que nos faça sentir valorizado ou amado mais do que o Deus do céu. Do que Jesus, que foi capaz de dar sua vida para que eu e você vivêssemos. Não existe pessoa no universo que nos ame tanto. Se somos capazes de imaginar lugares belos e seguros, amores grandes e presentes, tudo isso não passa de míseras sombras do que Deus é e pode ainda ser em nossas vidas. Estou com saudades dos Seus pastos verdes, dos Seus rios de água viva. Estou com saudade de me extasiar na beleza de Sua santidade, de me embriagar com o Seu eterno amor. Estou com saudades de estar aqui: O Senhor é meu pastor; nada me faltará. Ele me faz descansar em pastos verdes e me leva a águas tranqüilas. O Senhor renova as minhas forças e me guia por caminhos certos, como ele mesmo prometeu. Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges. Preparas um banquete para mim, onde os meus inimigos me podem ver. Tu me recebes como convidado de honra e enches o meu copo até derramar. Certamente a tua bondade e o teu amor ficarão comigo enquanto eu viver. E na tua casa, ó Senhor, morarei todos os dias da minha vida (Sl. 23).
16.11.05
Ganchos e corrente
Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.
João 8. 32
Duas noites atrás tive um sonho inquietante. Vocês já devem ter visto um instrumento de tortura masoquista no qual a “vítima” de pendura através de ganchos presos à pele. Essa imagem é bastante vívida em mim através do filme A cela, com Angelina Jolie. Naquela noite sonhei que estava preso um instrumento assim.
Pendurado há alguns anos, músculos atrofiados, dor imensa em cada ponto de meu corpo que se prendia por aqueles ferros. Em alguns locais, como pelas minhas costas, passavam correntes interligando vários ganchos. Preso ali, no sonho, fazia anos que não conseguia agir de forma alguma. Apenas sofria com aquela dor cruel que lacerava a alma.
Em um determinado momento em meu sonho, alguém vinha me resgatar. Ao que me parece, era minha família. Começaram a me soltar dos ganchos que me prendiam. Quando fui libertar do último ponto de prisão, a corrente que passava por minhas costas, pedi que me dessem o alicate porque tinha medo da dor que viesse a sentir. Eu mesmo cortei a corrente e a puxei do meu corpo. Seguro por meus resgatadores, a última coisa que me lembro é de, musculatura da perna atrofiada pelos anos de prisão, tinha de ser carregado: não tinha forças para andar. Ao acordar desse sonho angustiante, tive rápida percepção de que ele tinha sentido. Mesmo que naquele momento, meio da madrugada, não pudesse entender. Precisava buscar entendê-lo no dia seguinte.
Ontem à noite conversava com uma amiga de Fortaleza pela Internet. Falávamos sobre tantas coisas que nos fazem sentir presos na vida e eu me lembrei do sonho. E comecei a entendê-lo. Sinto-me preso, como muitos outros com quem tenho partilhado nos últimos tempos. Estamos presos por circunstâncias sociais praticamente intransponíveis. Estamos presos por visões parciais de mundo presente em nossos contextos. Estamos presos, imobilizados, pelos formalismos e estreitamentos de nossas comunidades religiosas.
Duas coisas me chamaram mais atenção no meu sonho. Dois recados que pude compreender distintamente. Primeiro: eu estava preso em um instrumento de masoquismo. Isso significa que eu estava preso – inicialmente, pelo menos – por vontade própria. Eu quis subi ali e sofrer ali. Mesmo que viesse a me arrepender quando nada mais pudesse ser feito. A segunda coisa que para mim se destaca é que estava preso há tanto tempo que já não podia andar mais sozinho. Não tinha forças para a vida em liberdade.
Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará. Quando Jesus fala isso aos judeus, estes não conseguem compreender o que o Mestre diz pelo simples fato de que não conseguem se ver como escravos do que quer que seja: Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como é que você diz que ficaremos livres? (Jo. 8. 33). Este é um de nossos grandes problemas. Estamos presos, imobilizados, por uma série de coisas que nos cercam e fazem de nós como que pequenos marionetes de circunstâncias que julgamos maiores que nós. Mas não somos capazes de nos vermos assim. Estamos satisfeitos com tudo, mesmo que doa muito estar preso por ganchos que nos rasgam a pele. E se estamos satisfeitos, se não vemos a prisão em que estamos, como poderemos ser libertos? Como poderemos desejar ser libertos?
Jesus veio ao mundo para nos libertar de todas as nossas prisões. De todos os poços escuros em que fomos enfiados. De todos os lugares difíceis dos quais queremos sair. E daqueles dos quais não queremos sair. Ele veio nos libertar do império das trevas. Ele veio nos transportar para o Seu Reino de Amor Eterno. Pela graça.
Talvez seja preciso que antes Ele nos abra os olhos. Na seqüência do evangelho de João (9), o evangelista narra a cura de um cego de nascença e todas as conseqüentes confusões provocadas por essa cura. No meio da narrativa, Jesus discute com os fariseus: Eu vim a este mundo para julgar as pessoas, a fim de que os cegos vejam e que fiquem cegos os que vêem. Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e perguntaram: - Será que isso quer dizer que nós também somos cegos? – Se vocês fossem cegos, não teriam culpa! – respondeu Jesus. – Mas, como dizem que podem ver, então continuam tendo culpa (Jo. 9. 39 – 41). Jesus, o Libertador, liberta-nos primeiro de nossa cegueira. Cegueira a respeito de nossa própria situação de escravidão. Os fariseus não se viam como escravos de coisa alguma, muito menos do pecado. Jesus lhes abriu os olhos. Agora não tinham mais desculpas. Se querem permanecer na vida que levavam até então e no sofrimento de sua escravidão, a responsabilidade agora era completamente deles. O Libertador está ali, diante deles, para trazer-lhes nova vida. Basta crer.
Do mesmo modo, conosco. Muitas vezes, nos colocamos em prisões que nos maltratam dia após dia. Somos, nessas prisões, muitas vezes, como simples marionetes. Jesus, o Libertador, está diante de nós para nos livrar. Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará. É preciso que queiramos mudar o que precisa ser mudado em nossas vidas. Não temos desculpas para aceitar que a situação continue como está. E se não temos forças para caminhar com nossas próprias pernas, caso deixemos os ganchos e correntes que nos prendem, ainda bem. Porque poderemos aprender a ser conduzidos pelo Senhor dos Exércitos. Tu, ó Senhor Deus, és tudo o que tenho. O meu futuro está nas Tuas mãos; Tu diriges a minha vida (Sl. 16. 5).
João 8. 32
Duas noites atrás tive um sonho inquietante. Vocês já devem ter visto um instrumento de tortura masoquista no qual a “vítima” de pendura através de ganchos presos à pele. Essa imagem é bastante vívida em mim através do filme A cela, com Angelina Jolie. Naquela noite sonhei que estava preso um instrumento assim.
Pendurado há alguns anos, músculos atrofiados, dor imensa em cada ponto de meu corpo que se prendia por aqueles ferros. Em alguns locais, como pelas minhas costas, passavam correntes interligando vários ganchos. Preso ali, no sonho, fazia anos que não conseguia agir de forma alguma. Apenas sofria com aquela dor cruel que lacerava a alma.
Em um determinado momento em meu sonho, alguém vinha me resgatar. Ao que me parece, era minha família. Começaram a me soltar dos ganchos que me prendiam. Quando fui libertar do último ponto de prisão, a corrente que passava por minhas costas, pedi que me dessem o alicate porque tinha medo da dor que viesse a sentir. Eu mesmo cortei a corrente e a puxei do meu corpo. Seguro por meus resgatadores, a última coisa que me lembro é de, musculatura da perna atrofiada pelos anos de prisão, tinha de ser carregado: não tinha forças para andar. Ao acordar desse sonho angustiante, tive rápida percepção de que ele tinha sentido. Mesmo que naquele momento, meio da madrugada, não pudesse entender. Precisava buscar entendê-lo no dia seguinte.
Ontem à noite conversava com uma amiga de Fortaleza pela Internet. Falávamos sobre tantas coisas que nos fazem sentir presos na vida e eu me lembrei do sonho. E comecei a entendê-lo. Sinto-me preso, como muitos outros com quem tenho partilhado nos últimos tempos. Estamos presos por circunstâncias sociais praticamente intransponíveis. Estamos presos por visões parciais de mundo presente em nossos contextos. Estamos presos, imobilizados, pelos formalismos e estreitamentos de nossas comunidades religiosas.
Duas coisas me chamaram mais atenção no meu sonho. Dois recados que pude compreender distintamente. Primeiro: eu estava preso em um instrumento de masoquismo. Isso significa que eu estava preso – inicialmente, pelo menos – por vontade própria. Eu quis subi ali e sofrer ali. Mesmo que viesse a me arrepender quando nada mais pudesse ser feito. A segunda coisa que para mim se destaca é que estava preso há tanto tempo que já não podia andar mais sozinho. Não tinha forças para a vida em liberdade.
Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará. Quando Jesus fala isso aos judeus, estes não conseguem compreender o que o Mestre diz pelo simples fato de que não conseguem se ver como escravos do que quer que seja: Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como é que você diz que ficaremos livres? (Jo. 8. 33). Este é um de nossos grandes problemas. Estamos presos, imobilizados, por uma série de coisas que nos cercam e fazem de nós como que pequenos marionetes de circunstâncias que julgamos maiores que nós. Mas não somos capazes de nos vermos assim. Estamos satisfeitos com tudo, mesmo que doa muito estar preso por ganchos que nos rasgam a pele. E se estamos satisfeitos, se não vemos a prisão em que estamos, como poderemos ser libertos? Como poderemos desejar ser libertos?
Jesus veio ao mundo para nos libertar de todas as nossas prisões. De todos os poços escuros em que fomos enfiados. De todos os lugares difíceis dos quais queremos sair. E daqueles dos quais não queremos sair. Ele veio nos libertar do império das trevas. Ele veio nos transportar para o Seu Reino de Amor Eterno. Pela graça.
Talvez seja preciso que antes Ele nos abra os olhos. Na seqüência do evangelho de João (9), o evangelista narra a cura de um cego de nascença e todas as conseqüentes confusões provocadas por essa cura. No meio da narrativa, Jesus discute com os fariseus: Eu vim a este mundo para julgar as pessoas, a fim de que os cegos vejam e que fiquem cegos os que vêem. Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e perguntaram: - Será que isso quer dizer que nós também somos cegos? – Se vocês fossem cegos, não teriam culpa! – respondeu Jesus. – Mas, como dizem que podem ver, então continuam tendo culpa (Jo. 9. 39 – 41). Jesus, o Libertador, liberta-nos primeiro de nossa cegueira. Cegueira a respeito de nossa própria situação de escravidão. Os fariseus não se viam como escravos de coisa alguma, muito menos do pecado. Jesus lhes abriu os olhos. Agora não tinham mais desculpas. Se querem permanecer na vida que levavam até então e no sofrimento de sua escravidão, a responsabilidade agora era completamente deles. O Libertador está ali, diante deles, para trazer-lhes nova vida. Basta crer.
Do mesmo modo, conosco. Muitas vezes, nos colocamos em prisões que nos maltratam dia após dia. Somos, nessas prisões, muitas vezes, como simples marionetes. Jesus, o Libertador, está diante de nós para nos livrar. Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará. É preciso que queiramos mudar o que precisa ser mudado em nossas vidas. Não temos desculpas para aceitar que a situação continue como está. E se não temos forças para caminhar com nossas próprias pernas, caso deixemos os ganchos e correntes que nos prendem, ainda bem. Porque poderemos aprender a ser conduzidos pelo Senhor dos Exércitos. Tu, ó Senhor Deus, és tudo o que tenho. O meu futuro está nas Tuas mãos; Tu diriges a minha vida (Sl. 16. 5).
15.11.05
Poder do mal
Ó Deus, salva-me porque estou na água até o pescoço! Estou atolado num lamaçal muito fundo, não tenho onde apoiar os pés. Entrei em águas profundas, e a correnteza quase me afoga.
Salmo 69. 1 – 2.
Algumas vezes a gente se vê tão cercado pelo mal, seja o mal do nosso pecado, ou o mal do mundo que nos envolve, que nos sentimos sufocar. Estamos tão cercados que nossas forças se esvaem e a nossa vida parece por um fio apenas. Não temos idéia de como poderíamos sobreviver. Aliás, não poderíamos. Com as forças debilitadas, resta-nos tentar recuperar, do fundo do coração, uma saudade profunda de Deus e da Sua comunhão, mesmo quando não conseguimos nem mesmo sentir falta disso.
A idéia do que quero dizer está expressa em uma passagem de O Senhor dos Anéis, já bem próximo ao fim da história. Sam e Frodo estão em Mordor. Frodo está extremamente enfraquecido pelo mal do anel. O mal está roubando suas forças e ele já não pensa sozinho. Ele sente como se o próprio Sauron estivesse dentro de sua cabeça. Sem forças e sem raciocínio claro, Sam tenta animá-lo, falando sobre o condado. Sam está com saudade do condado dos hobbits, mas Frodo lhe diz ser incapaz de lembrar de qualquer coisa. Ele não sabe como é o som das aves, os sabores das comidas e das bebidas, nem as paisagens.
É isso que o poder do mal faz conosco quando nos envolve e nos cerca, debilitando as nossas forças. Imaginando que o condado pudesse ser uma imagem de nossa mais plena comunhão com Deus e da Sua presença, podemos contemplar o cerco do mal destruindo nossa alegria de viver, o nosso prazer de estar na presença de Deus, e nossa capacidade de querer estar ou sentir saudades de estar com Deus. O mal suga as nossas forças para que, de alguma maneira, possamos desistir de Deus e, assim, sucumbir à força de morte.
Ó Deus, salva-me porque estou na água até o pescoço! Estou atolado num lamaçal muito fundo, não tenho onde apoiar os pés. Entrei em águas profundas, e a correnteza quase me afoga. É assim que me sinto hoje. Preciso desesperadamente de socorro do Senhor para escapar desse poço de perdição. Preciso de Sua mão para me tirar e devolver ao meu coração a saudade e o prazer de estar em Sua presença. Preciso de um toque renovador do Deus santo para que as palavras do salmista se tornem novamente a oração da minha alma ansiosa e faminta: Como eu amo o teu Templo, ó Senhor Todo-Poderoso! Como eu gostaria de estar ali! Tenho saudades dos pátios do Templo de Deus, o Senhor (Sl. 84. 1 – 2).
Quero amar o Senhor com tudo o que sou. Quero ter o Seu prazer, o gozo de estar na Sua presença, como o único e necessário prazer de minha vida. Quero ter certeza de que o conhecimento do Senhor, Sua companhia e amizade, são tudo o que preciso ter. Quero viver unicamente para o Senhor. Mas, agora, cercado por lama fétida de todos os lados, abatido pelo poder do mal ao redor de mim e do mal do meu pecado, não consigo saber como são os sabores da mesa do Senhor, não lembro como é bela a Sua presença, nem consigo ouvir o som da Sua voz. Quero ter tudo de volta, por isso quero quebrar o coração e me aproximar dEle. Por que sei que só isso é suficiente; isso basta para que se dissipe o mal que me envolve. Isso é jogar o anel no fogo de Mordor, porque Deus não rejeita um coração humilde e arrependido (Sl. 51. 17).
Salmo 69. 1 – 2.
Algumas vezes a gente se vê tão cercado pelo mal, seja o mal do nosso pecado, ou o mal do mundo que nos envolve, que nos sentimos sufocar. Estamos tão cercados que nossas forças se esvaem e a nossa vida parece por um fio apenas. Não temos idéia de como poderíamos sobreviver. Aliás, não poderíamos. Com as forças debilitadas, resta-nos tentar recuperar, do fundo do coração, uma saudade profunda de Deus e da Sua comunhão, mesmo quando não conseguimos nem mesmo sentir falta disso.
A idéia do que quero dizer está expressa em uma passagem de O Senhor dos Anéis, já bem próximo ao fim da história. Sam e Frodo estão em Mordor. Frodo está extremamente enfraquecido pelo mal do anel. O mal está roubando suas forças e ele já não pensa sozinho. Ele sente como se o próprio Sauron estivesse dentro de sua cabeça. Sem forças e sem raciocínio claro, Sam tenta animá-lo, falando sobre o condado. Sam está com saudade do condado dos hobbits, mas Frodo lhe diz ser incapaz de lembrar de qualquer coisa. Ele não sabe como é o som das aves, os sabores das comidas e das bebidas, nem as paisagens.
É isso que o poder do mal faz conosco quando nos envolve e nos cerca, debilitando as nossas forças. Imaginando que o condado pudesse ser uma imagem de nossa mais plena comunhão com Deus e da Sua presença, podemos contemplar o cerco do mal destruindo nossa alegria de viver, o nosso prazer de estar na presença de Deus, e nossa capacidade de querer estar ou sentir saudades de estar com Deus. O mal suga as nossas forças para que, de alguma maneira, possamos desistir de Deus e, assim, sucumbir à força de morte.
Ó Deus, salva-me porque estou na água até o pescoço! Estou atolado num lamaçal muito fundo, não tenho onde apoiar os pés. Entrei em águas profundas, e a correnteza quase me afoga. É assim que me sinto hoje. Preciso desesperadamente de socorro do Senhor para escapar desse poço de perdição. Preciso de Sua mão para me tirar e devolver ao meu coração a saudade e o prazer de estar em Sua presença. Preciso de um toque renovador do Deus santo para que as palavras do salmista se tornem novamente a oração da minha alma ansiosa e faminta: Como eu amo o teu Templo, ó Senhor Todo-Poderoso! Como eu gostaria de estar ali! Tenho saudades dos pátios do Templo de Deus, o Senhor (Sl. 84. 1 – 2).
Quero amar o Senhor com tudo o que sou. Quero ter o Seu prazer, o gozo de estar na Sua presença, como o único e necessário prazer de minha vida. Quero ter certeza de que o conhecimento do Senhor, Sua companhia e amizade, são tudo o que preciso ter. Quero viver unicamente para o Senhor. Mas, agora, cercado por lama fétida de todos os lados, abatido pelo poder do mal ao redor de mim e do mal do meu pecado, não consigo saber como são os sabores da mesa do Senhor, não lembro como é bela a Sua presença, nem consigo ouvir o som da Sua voz. Quero ter tudo de volta, por isso quero quebrar o coração e me aproximar dEle. Por que sei que só isso é suficiente; isso basta para que se dissipe o mal que me envolve. Isso é jogar o anel no fogo de Mordor, porque Deus não rejeita um coração humilde e arrependido (Sl. 51. 17).
14.11.05
Jóias
Mas vocês são a raça escolhida, os sacerdotes do Rei, a nação completamente dedicada a Deus, o povo que pertence a Ele. Vocês foram escolhidos para anunciar os atos poderosos de Deus, que os chamou da escuridão para a Sua maravilhosa luz.
1 Pedro 2. 9
Essa bela jóia, aparentemente uma coroa, pertencia à família real russa, deposta pela Revolução de 1917. Ricamente adornada, com pedras preciosas de diferentes tipos, pérolas, ouro, e tantas coisas que a gente nem conhece nem é capaz de identificar, esta jóia deve valer uma fortuna incalculável. Mas qual é a fonte de sua riqueza? Em outras palavras o que quero perguntar é o que leva as pessoas a gastarem tanto em jóias e porque elas valem tanto?
Uma jóia, como uma rica coroa de rei, só tem uma serventia. A coroa manifesta a glória, o poder e a riqueza do rei. Quando mais poderoso for o monarca, ou quanto mais ele queira parecer poderoso, vai querer adornar ainda mais sua coroa. Cada jóia, cada pedra, cada sinal de riqueza que se põe ali manifestará uma glória um pouco maior para o dono daquela jóia. Quanto mais rica, adornada e cara mais as pessoas identificarão como poderoso o seu proprietário. Por isso os reis sempre se importaram em ter riquíssimas coroas. Não era para usar pesados ornamentos na maior parte do tempo, ou para que ele mesmo contemplasse o tamanho da sua riqueza. Os reis desejam, nessa simbologia, manifestar aos povos vizinhos o tamanho da sua riqueza. Usando suas ornadas coroas nos eventos mais importantes do país era como se dissessem a todos o quanto eram poderosos.
Na história de Davi um episódio se refere a uma coroa de adorno e peso em ouro cuja serventia era manifestar o suposto poder de um deus. Quando o rei judeu conquista a cidade de Rabá, toma uma coroa de ouro do deus Moloque que pesava mais ou menos trinta e quatro quilos (1 Cr. 20. 2).
Estou dizendo isso nessa tarde porque essa é uma das imagens com as quais Pedro se refere ao povo de Deus, reproduzindo o contexto original do Êxodo. Mas vocês são (...) o povo que pertence a Ele. A idéia que o texto quer passar é a de que somos como jóias do Rei do Universo. A glória que porventura possamos ter, a nossa beleza, a nossa riqueza, enfim, o que quer que seja encontrado em nós, só tem uma serventia: manifestar o poder, a glória, a majestade e a riqueza do Deus que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Somos o Seu adorno, a Sua jóia preciosa a resplandecer a Sua luz e glória e mostrar a Sua grandeza a todos quantos não a conhecem ainda. É através de nós que Deus manifesta no universo a grandeza do Seu poder. Somos Sua propriedade peculiar.
A consciência nos traz graves conseqüências, sobre as quais nem sempre temos pensado. Se estamos aqui como jóias da coroa do Senhor para manifestar a Sua glória, não temos outra alternativa a não ser viver de maneira digna a esse papel, sob o risco de sermos arrancados fora do adorno do Senhor. Se não estivermos embelezando, se não resplandecermos de maneira correta a Sua glória, corremos o risco de sermos arrancados da jóia na Sua cabeça. Sermos povo de propriedade exclusiva de Deus, jóias que manifestam a Sua enorme glória e majestade, é um desafio a vivermos uma vida íntegra e santa, ao mesmo tempo em que nos dá a certeza de que a nossa vida está inteiramente em Suas mãos: pertencemos ao Rei. Se não servirmos mais para glorificar o Seu nome, serviremos para quê? Pelo contrário, sejam santos em tudo o que fizerem, assim como Deus, que os chamou, é santo. Porque as Escrituras Sagradas dizem: “Sejam santos porque eu sou santo” (1 Pe. 1. 15 – 16). Pense nisso.
1 Pedro 2. 9
Essa bela jóia, aparentemente uma coroa, pertencia à família real russa, deposta pela Revolução de 1917. Ricamente adornada, com pedras preciosas de diferentes tipos, pérolas, ouro, e tantas coisas que a gente nem conhece nem é capaz de identificar, esta jóia deve valer uma fortuna incalculável. Mas qual é a fonte de sua riqueza? Em outras palavras o que quero perguntar é o que leva as pessoas a gastarem tanto em jóias e porque elas valem tanto?
Uma jóia, como uma rica coroa de rei, só tem uma serventia. A coroa manifesta a glória, o poder e a riqueza do rei. Quando mais poderoso for o monarca, ou quanto mais ele queira parecer poderoso, vai querer adornar ainda mais sua coroa. Cada jóia, cada pedra, cada sinal de riqueza que se põe ali manifestará uma glória um pouco maior para o dono daquela jóia. Quanto mais rica, adornada e cara mais as pessoas identificarão como poderoso o seu proprietário. Por isso os reis sempre se importaram em ter riquíssimas coroas. Não era para usar pesados ornamentos na maior parte do tempo, ou para que ele mesmo contemplasse o tamanho da sua riqueza. Os reis desejam, nessa simbologia, manifestar aos povos vizinhos o tamanho da sua riqueza. Usando suas ornadas coroas nos eventos mais importantes do país era como se dissessem a todos o quanto eram poderosos.
Na história de Davi um episódio se refere a uma coroa de adorno e peso em ouro cuja serventia era manifestar o suposto poder de um deus. Quando o rei judeu conquista a cidade de Rabá, toma uma coroa de ouro do deus Moloque que pesava mais ou menos trinta e quatro quilos (1 Cr. 20. 2).
Estou dizendo isso nessa tarde porque essa é uma das imagens com as quais Pedro se refere ao povo de Deus, reproduzindo o contexto original do Êxodo. Mas vocês são (...) o povo que pertence a Ele. A idéia que o texto quer passar é a de que somos como jóias do Rei do Universo. A glória que porventura possamos ter, a nossa beleza, a nossa riqueza, enfim, o que quer que seja encontrado em nós, só tem uma serventia: manifestar o poder, a glória, a majestade e a riqueza do Deus que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Somos o Seu adorno, a Sua jóia preciosa a resplandecer a Sua luz e glória e mostrar a Sua grandeza a todos quantos não a conhecem ainda. É através de nós que Deus manifesta no universo a grandeza do Seu poder. Somos Sua propriedade peculiar.
A consciência nos traz graves conseqüências, sobre as quais nem sempre temos pensado. Se estamos aqui como jóias da coroa do Senhor para manifestar a Sua glória, não temos outra alternativa a não ser viver de maneira digna a esse papel, sob o risco de sermos arrancados fora do adorno do Senhor. Se não estivermos embelezando, se não resplandecermos de maneira correta a Sua glória, corremos o risco de sermos arrancados da jóia na Sua cabeça. Sermos povo de propriedade exclusiva de Deus, jóias que manifestam a Sua enorme glória e majestade, é um desafio a vivermos uma vida íntegra e santa, ao mesmo tempo em que nos dá a certeza de que a nossa vida está inteiramente em Suas mãos: pertencemos ao Rei. Se não servirmos mais para glorificar o Seu nome, serviremos para quê? Pelo contrário, sejam santos em tudo o que fizerem, assim como Deus, que os chamou, é santo. Porque as Escrituras Sagradas dizem: “Sejam santos porque eu sou santo” (1 Pe. 1. 15 – 16). Pense nisso.
9.11.05
Linguagem
Ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos
Filipenses 2. 7
Linguagem é a chave da comunicação. O que quero dizer com isso é que é preciso que os interlocutores de uma comunicação dominem, conjuntamente, ao menos uma forma de linguagem para que possam interagir. É preciso que haja o mínimo de entendimento entre eles para que se comuniquem. Tenho descoberto isso. Temos um estrangeiro hospedado aqui em casa hoje. Um argelino. É a segunda vez no ano que só forçado até o limite em meu inglês para poder me comunicar com ele. Minha tia fala esperanto, como ele, mas eu não. E no nosso inglês sofrível, tentamos conversar.
Mas não é só a língua que precisamos partilhar para nos comunicar. Quando penso em linguagem, estou falando em algo bem mais amplo que só a língua. Um momento marcou minhas dificuldades gestuais desde a última segunda-feira, quando Hamimi chegou. Quando fomos apresentados um ao outro, não tinha a menor idéia de como nos cumprimentaríamos. Não tinha noção de como era isso na Argélia. Dei a mão para que apertasse; ele me puxou para junto dele e aí eu me embaralhei. Ele queria me fazer quatro cumprimentos de ombros, conforme a tradição no país dele. Não entendi isso e lhe dei o rosto. Também faz parte do processo o toque dos rostos, mas não consegui saudá-lo na base da “ombrada”. Fiquei morrendo de vergonha.
A lição que tenho aprendido com Hamimi se aplica a nossa vida com Deus. Às vezes percebo que meu problema de relacionamento com Deus é que não entendo a linguagem que Ele fala. É como se eu pertencesse a uma cultura estrangeira e não conseguisse compreender a língua ou os gestos do Senhor para manter comunicação comigo. Como se quando entrasse nos territórios do relacionamento com o Pai, não conseguisse manter interação.
Se, em algum momento, podemos ter relacionamento com Deus, é porque Ele desceu o nível da comunicação, entendimento e relação até os nossos limites. Algo semelhante ao que Hamimi precisa fazer conosco e, muito mais, precisamos fazer com ele. O nosso amigo nunca antes na vida sequer ouvira o português ser pronunciado. Para que ele possa entender e possamos ter relação, precisamos “descer” ao nível de conhecimento que ele tem de nossa língua e cultura. Deus fez e continua a fazer isso conosco.
Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus. Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano, ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte – morte de Cruz. Por isso Deus deu a Jesus a mais alta honra e pôs nele o nome que é o mais importante de todos os nomes, para que, em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos, caiam de joelhos e declarem abertamente que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai (Fp. 2. 6 – 11). Esse é o mistério da Encarnação: o Deus Infinito do Universo olha para mim e para você, em nossas limitações e incapacidades de comunicação e relacionamento com Ele, e decide descer até nós, se fazer um de nós, morrer por nós para quebrar o poder da morte e do pecado e abrir o canal de comunicação entre nós e Ele. Pela presença do Seu Espírito em nós, agora sim podemos partilhar com Ele a mesma linguagem e, desse modo, termos comunicação e relacionamento. Porque mesmo quando nos faltam palavras ou linguagem, o Espírito de Deus vem nos ajudar na nossa fraqueza. Pois não sabemos como devemos orar, mas o Espírito de Deus, com gemidos que não podem ser explicados por palavras, pede a Deus em nosso favor (Rm. 8. 26). O Espírito nos faz falar a mesma língua.
P.S.: Alguns irmãos me criticaram ou apenas reclamaram porque classifiquei a opção pelo “Não” no Referendo de 23 de outubro como sendo conduzida por uma mentira do Diabo. Quero reafirmar a minha visão do fato, independente das críticas. Mas reafirmá-la como minha visão pessoal, e também de alguns cristãos sérios cujos textos li ou com quem conversei. No meu caso, a convicção não nasceu do dia para a noite, nem foi gerada apenas pela campanha de outubro. Desde o início, praticamente, tive noção de que estávamos em uma batalha espiritual. Deus me mostrou algumas coisas e outras eu senti na própria pele. Mas ninguém é obrigado a concordar comigo. Só não acho que qualquer um tem o direito de me desqualificar pelo entendimento que, creio, tenho recebido de Deus. Ao menos sem que antes pergunte diretamente a Deus o que Ele pensa dessa história. Postura, aliás, que deveríamos ter em toda e qualquer circunstância.
Filipenses 2. 7
Linguagem é a chave da comunicação. O que quero dizer com isso é que é preciso que os interlocutores de uma comunicação dominem, conjuntamente, ao menos uma forma de linguagem para que possam interagir. É preciso que haja o mínimo de entendimento entre eles para que se comuniquem. Tenho descoberto isso. Temos um estrangeiro hospedado aqui em casa hoje. Um argelino. É a segunda vez no ano que só forçado até o limite em meu inglês para poder me comunicar com ele. Minha tia fala esperanto, como ele, mas eu não. E no nosso inglês sofrível, tentamos conversar.
Mas não é só a língua que precisamos partilhar para nos comunicar. Quando penso em linguagem, estou falando em algo bem mais amplo que só a língua. Um momento marcou minhas dificuldades gestuais desde a última segunda-feira, quando Hamimi chegou. Quando fomos apresentados um ao outro, não tinha a menor idéia de como nos cumprimentaríamos. Não tinha noção de como era isso na Argélia. Dei a mão para que apertasse; ele me puxou para junto dele e aí eu me embaralhei. Ele queria me fazer quatro cumprimentos de ombros, conforme a tradição no país dele. Não entendi isso e lhe dei o rosto. Também faz parte do processo o toque dos rostos, mas não consegui saudá-lo na base da “ombrada”. Fiquei morrendo de vergonha.
A lição que tenho aprendido com Hamimi se aplica a nossa vida com Deus. Às vezes percebo que meu problema de relacionamento com Deus é que não entendo a linguagem que Ele fala. É como se eu pertencesse a uma cultura estrangeira e não conseguisse compreender a língua ou os gestos do Senhor para manter comunicação comigo. Como se quando entrasse nos territórios do relacionamento com o Pai, não conseguisse manter interação.
Se, em algum momento, podemos ter relacionamento com Deus, é porque Ele desceu o nível da comunicação, entendimento e relação até os nossos limites. Algo semelhante ao que Hamimi precisa fazer conosco e, muito mais, precisamos fazer com ele. O nosso amigo nunca antes na vida sequer ouvira o português ser pronunciado. Para que ele possa entender e possamos ter relação, precisamos “descer” ao nível de conhecimento que ele tem de nossa língua e cultura. Deus fez e continua a fazer isso conosco.
Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus. Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano, ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte – morte de Cruz. Por isso Deus deu a Jesus a mais alta honra e pôs nele o nome que é o mais importante de todos os nomes, para que, em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos, caiam de joelhos e declarem abertamente que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai (Fp. 2. 6 – 11). Esse é o mistério da Encarnação: o Deus Infinito do Universo olha para mim e para você, em nossas limitações e incapacidades de comunicação e relacionamento com Ele, e decide descer até nós, se fazer um de nós, morrer por nós para quebrar o poder da morte e do pecado e abrir o canal de comunicação entre nós e Ele. Pela presença do Seu Espírito em nós, agora sim podemos partilhar com Ele a mesma linguagem e, desse modo, termos comunicação e relacionamento. Porque mesmo quando nos faltam palavras ou linguagem, o Espírito de Deus vem nos ajudar na nossa fraqueza. Pois não sabemos como devemos orar, mas o Espírito de Deus, com gemidos que não podem ser explicados por palavras, pede a Deus em nosso favor (Rm. 8. 26). O Espírito nos faz falar a mesma língua.
P.S.: Alguns irmãos me criticaram ou apenas reclamaram porque classifiquei a opção pelo “Não” no Referendo de 23 de outubro como sendo conduzida por uma mentira do Diabo. Quero reafirmar a minha visão do fato, independente das críticas. Mas reafirmá-la como minha visão pessoal, e também de alguns cristãos sérios cujos textos li ou com quem conversei. No meu caso, a convicção não nasceu do dia para a noite, nem foi gerada apenas pela campanha de outubro. Desde o início, praticamente, tive noção de que estávamos em uma batalha espiritual. Deus me mostrou algumas coisas e outras eu senti na própria pele. Mas ninguém é obrigado a concordar comigo. Só não acho que qualquer um tem o direito de me desqualificar pelo entendimento que, creio, tenho recebido de Deus. Ao menos sem que antes pergunte diretamente a Deus o que Ele pensa dessa história. Postura, aliás, que deveríamos ter em toda e qualquer circunstância.
7.11.05
O que liberta
Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos às pessoas que nos ofenderam.
Mateus 6. 12
Precisava, pessoalmente, voltar a ouvir hoje uma Palavra de profundo impacto para a vida do homem. Precisava ouvir que o perdão é a chave de uma das maiores libertações que podemos experimentar. O perdão nos liberta, não só da culpa, mas do sentimento de peso que ela gera – ouvir uma palavra de perdão é ser libertado do remorso e da auto-condenação.
Ouvi de novo essa palavra assistindo mais uma vez O Senhor dos Anéis – O retorno no rei. Após vencer a batalha contra os exércitos de Sauron, Aragorn liberta os espíritos do povo das montanhas, escravos da maldição do remorso e auto-condenação por séculos. Ao declarar que eles haviam cumprido sua promessa, o rei humano lhes permite deixar de lado os sentimentos de culpa e remorso. Sabendo que o herdeiro de Godor lhes perdoou a sua falta antiga, o povo das montanhas pode sorrir aliviado. E livre. Ouvir uma palavra de perdão liberta o coração escravizado na angústia da culpa e do remorso.
Eu experimentei algo assim alguns anos atrás. Agi muito mal contra uma pessoa de extrema proximidade comigo. Após passar a raiva, percebi o tamanho do meu pecado. Arrependido, pedi perdão a Deus. E por mais que tivesse recebido esse perdão, não conseguia andar livre por aí. Um peso me prendia. Eu era arrastado pelo remorso e, mesmo perdoado pelo Pai do Céu, continuava auto-condenado e escravo em meu coração. As cadeias que me prendiam foram rompidas uma noite. Naquela noite, após vários meses de sofrimento terrível, a vítima de meu pecado me chamou do lado para conversar. Fazia muito tempo que não nos falávamos. Naquela noite, ela me relatou o que Deus havia feito na vida dela e como ela podia agora me liberar perdão. Ela havia me perdoado, disse. E o peso do mundo deixou as minhas costas. As cadeias que me prendiam viraram pó. Fui liberto de mim mesmo e do meu remorso. Deus começou o processo de me curar.
Essa experiência me fez aprender o valor de ser libertado pelo perdão. Não existem palavras mágicas quando dizemos que perdoamos alguém. Não há forças de transformação naqueles sons, mas o seu significado é profundo. A nossa escravidão não acontece por não sermos perdoados pelo outro nem porque Deus não tenha o poder de nos perdoar. O que nos escraviza é a nossa incapacidade de nos perdoar a nós mesmos enquanto não ouvirmos do outro que ele já nos perdoou. Quando alguém a quem ferimos chega até nós e nos diz que fomos perdoados as cadeias caem porque, agora, crentes no perdão que veio da parte do outro, somos capazes e temos poder de nos perdoar a nós mesmos. É esse perdão que nos liberta e tira o peso de nosso peito. Você consegue compreender o que eu digo?
Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos às pessoas que nos ofenderam. É por isso que o perdão é algo tão rico e de tantas facetas. Nós pecamos contra Deus, e Ele nos perdoa em Cristo. Já nos perdoou por todas as faltas que sequer somos capazes de imaginar que vamos cometer ou temos cometido. Nós pecamos contra o próximo e carecemos de seu perdão. E o nosso pecado pesa em nós mesmos. Enquanto o perdão de Deus e o perdão do próximo são, de certa forma, coisas externas a nós, o perdão que precisamos ministrar a nós mesmos acontece em nosso coração. E só pode ser detonado a partir de palavras de perdão da parte do Pai e do próximo. Sabendo que somos perdoados, temos força para nos perdoar.
Isso deve servir para que jamais nos permitamos reter o perdão de quem quer que seja. Reter o perdão é manter escravo e sob tortura o próximo. Se alguém nos feriu, devemos tratá-lo da mesma forma que gostaríamos de ser tratados. Perdão é uma atitude antes de ser um sentimento. Precisamos abrir o coração para perdoar a fim de possibilitarmos a abertura das portas das prisões dos irmãos que nos feriram. Se não, nós mesmos vamos com eles partilhar a dor e o sofrimento dessa escravidão.
Mateus 6. 12
Precisava, pessoalmente, voltar a ouvir hoje uma Palavra de profundo impacto para a vida do homem. Precisava ouvir que o perdão é a chave de uma das maiores libertações que podemos experimentar. O perdão nos liberta, não só da culpa, mas do sentimento de peso que ela gera – ouvir uma palavra de perdão é ser libertado do remorso e da auto-condenação.
Ouvi de novo essa palavra assistindo mais uma vez O Senhor dos Anéis – O retorno no rei. Após vencer a batalha contra os exércitos de Sauron, Aragorn liberta os espíritos do povo das montanhas, escravos da maldição do remorso e auto-condenação por séculos. Ao declarar que eles haviam cumprido sua promessa, o rei humano lhes permite deixar de lado os sentimentos de culpa e remorso. Sabendo que o herdeiro de Godor lhes perdoou a sua falta antiga, o povo das montanhas pode sorrir aliviado. E livre. Ouvir uma palavra de perdão liberta o coração escravizado na angústia da culpa e do remorso.
Eu experimentei algo assim alguns anos atrás. Agi muito mal contra uma pessoa de extrema proximidade comigo. Após passar a raiva, percebi o tamanho do meu pecado. Arrependido, pedi perdão a Deus. E por mais que tivesse recebido esse perdão, não conseguia andar livre por aí. Um peso me prendia. Eu era arrastado pelo remorso e, mesmo perdoado pelo Pai do Céu, continuava auto-condenado e escravo em meu coração. As cadeias que me prendiam foram rompidas uma noite. Naquela noite, após vários meses de sofrimento terrível, a vítima de meu pecado me chamou do lado para conversar. Fazia muito tempo que não nos falávamos. Naquela noite, ela me relatou o que Deus havia feito na vida dela e como ela podia agora me liberar perdão. Ela havia me perdoado, disse. E o peso do mundo deixou as minhas costas. As cadeias que me prendiam viraram pó. Fui liberto de mim mesmo e do meu remorso. Deus começou o processo de me curar.
Essa experiência me fez aprender o valor de ser libertado pelo perdão. Não existem palavras mágicas quando dizemos que perdoamos alguém. Não há forças de transformação naqueles sons, mas o seu significado é profundo. A nossa escravidão não acontece por não sermos perdoados pelo outro nem porque Deus não tenha o poder de nos perdoar. O que nos escraviza é a nossa incapacidade de nos perdoar a nós mesmos enquanto não ouvirmos do outro que ele já nos perdoou. Quando alguém a quem ferimos chega até nós e nos diz que fomos perdoados as cadeias caem porque, agora, crentes no perdão que veio da parte do outro, somos capazes e temos poder de nos perdoar a nós mesmos. É esse perdão que nos liberta e tira o peso de nosso peito. Você consegue compreender o que eu digo?
Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos às pessoas que nos ofenderam. É por isso que o perdão é algo tão rico e de tantas facetas. Nós pecamos contra Deus, e Ele nos perdoa em Cristo. Já nos perdoou por todas as faltas que sequer somos capazes de imaginar que vamos cometer ou temos cometido. Nós pecamos contra o próximo e carecemos de seu perdão. E o nosso pecado pesa em nós mesmos. Enquanto o perdão de Deus e o perdão do próximo são, de certa forma, coisas externas a nós, o perdão que precisamos ministrar a nós mesmos acontece em nosso coração. E só pode ser detonado a partir de palavras de perdão da parte do Pai e do próximo. Sabendo que somos perdoados, temos força para nos perdoar.
Isso deve servir para que jamais nos permitamos reter o perdão de quem quer que seja. Reter o perdão é manter escravo e sob tortura o próximo. Se alguém nos feriu, devemos tratá-lo da mesma forma que gostaríamos de ser tratados. Perdão é uma atitude antes de ser um sentimento. Precisamos abrir o coração para perdoar a fim de possibilitarmos a abertura das portas das prisões dos irmãos que nos feriram. Se não, nós mesmos vamos com eles partilhar a dor e o sofrimento dessa escravidão.
6.11.05
Silêncio paterno
Mas Jesus não respondeu nada.
Mateus 15. 23
Na manhã deste domingo discutimos na igreja acerca de como se manifesta o cuidado de Deus por nossas vidas. Essa discussão se fundamentou na comparação entre o amor e o cuidado dos pais com os filhos e a relação que o Pai celeste tem conosco.
Para mim, tenho percebido, o cuidado de Deus não tem uma fôrma única, um padrão a partir do qual possamos dizer que o Senhor agirá somente desta ou daquela maneira – de modo absoluto. O que quero dizer é que não temos elementos para jamais termos certeza da forma como Deus vai lidar conosco – só podemos ter certeza que Ele fará o que é melhor para a realização do Seu projeto em nossas vidas.
Vez por outra Deus nos trata do mesmo modo como o pai ou a mãe que, tendo o filho acordado de madrugada, assustado com um pesadelo, permite que ele passe o resto da noite na cama. O filho assustado precisa ter certeza da proteção e do cuidado que o amor do pai tem sobre ele. Às vezes, como filhos assustados, precisamos sentir o toque do cuidado amoroso do Pai em nossas vidas. É isso que Ele vai fazer, enquanto tal coisa manifestar o melhor do que Deus tem para nós. Deus nos toma, então, em Seus braços, trazendo-nos guardados para junto de Si. Ele o cobrirá com as suas asas e debaixo delas você estará seguro. A fidelidade de Deus o protegerá como um escudo (Sl. 91. 4).
Mas às vezes, quando estamos mais maduros certamente, Deus nos tratará de uma maneira completamente diversa. A imagem disso, a meu ver, se assemelha a uma cena marcante da cinebiografia de Ray Charles – Ray. Em uma determinada passagem, quando o Ray menino está ficando cego, ele cai em casa e começa a gritar, chorando, pela mãe. A primeira reação da mãe é fazer menção de ajudar o filho assustado, mas depois ela recua. E por mais que ele grite e chore, ela fica silenciosamente distante. Até que ele se convence que não receberá ajuda e se levanta. Guiado pelos sons da casa, ele encontra a chama de um fogo a lenha, um grilo que salta pela sala da casa pobre, anda por todos os cantos. Depois de pegar o grilo com a mão, Ray vira-se para a mãe e diz que sabe onde ela está porque a ouviu desde o instante em que chegou em casa. Não foi maldade ou crueldade que manteve a mãe de Ray distante e calada. Pelo contrário, foi amor.
É desse modo que o Pai lida conosco algumas vezes. Ele se mantém silenciosamente distante. Não por maldade ou por ser cruel, mas como manifestação de Seu eterno e infinito amor. Mesmo que acreditemos que, no momento, o que precisamos é de colo e cuidado expresso e direto, em algumas horas o Pai sabe que o que realmente precisamos é aprender a confiar no amor de Deus independentemente das circunstâncias. E não há forma melhor de aprendermos isso do que o silêncio de Deus. Mas Jesus não respondeu nada.
Mateus 15. 23
Na manhã deste domingo discutimos na igreja acerca de como se manifesta o cuidado de Deus por nossas vidas. Essa discussão se fundamentou na comparação entre o amor e o cuidado dos pais com os filhos e a relação que o Pai celeste tem conosco.
Para mim, tenho percebido, o cuidado de Deus não tem uma fôrma única, um padrão a partir do qual possamos dizer que o Senhor agirá somente desta ou daquela maneira – de modo absoluto. O que quero dizer é que não temos elementos para jamais termos certeza da forma como Deus vai lidar conosco – só podemos ter certeza que Ele fará o que é melhor para a realização do Seu projeto em nossas vidas.
Vez por outra Deus nos trata do mesmo modo como o pai ou a mãe que, tendo o filho acordado de madrugada, assustado com um pesadelo, permite que ele passe o resto da noite na cama. O filho assustado precisa ter certeza da proteção e do cuidado que o amor do pai tem sobre ele. Às vezes, como filhos assustados, precisamos sentir o toque do cuidado amoroso do Pai em nossas vidas. É isso que Ele vai fazer, enquanto tal coisa manifestar o melhor do que Deus tem para nós. Deus nos toma, então, em Seus braços, trazendo-nos guardados para junto de Si. Ele o cobrirá com as suas asas e debaixo delas você estará seguro. A fidelidade de Deus o protegerá como um escudo (Sl. 91. 4).
Mas às vezes, quando estamos mais maduros certamente, Deus nos tratará de uma maneira completamente diversa. A imagem disso, a meu ver, se assemelha a uma cena marcante da cinebiografia de Ray Charles – Ray. Em uma determinada passagem, quando o Ray menino está ficando cego, ele cai em casa e começa a gritar, chorando, pela mãe. A primeira reação da mãe é fazer menção de ajudar o filho assustado, mas depois ela recua. E por mais que ele grite e chore, ela fica silenciosamente distante. Até que ele se convence que não receberá ajuda e se levanta. Guiado pelos sons da casa, ele encontra a chama de um fogo a lenha, um grilo que salta pela sala da casa pobre, anda por todos os cantos. Depois de pegar o grilo com a mão, Ray vira-se para a mãe e diz que sabe onde ela está porque a ouviu desde o instante em que chegou em casa. Não foi maldade ou crueldade que manteve a mãe de Ray distante e calada. Pelo contrário, foi amor.
É desse modo que o Pai lida conosco algumas vezes. Ele se mantém silenciosamente distante. Não por maldade ou por ser cruel, mas como manifestação de Seu eterno e infinito amor. Mesmo que acreditemos que, no momento, o que precisamos é de colo e cuidado expresso e direto, em algumas horas o Pai sabe que o que realmente precisamos é aprender a confiar no amor de Deus independentemente das circunstâncias. E não há forma melhor de aprendermos isso do que o silêncio de Deus. Mas Jesus não respondeu nada.
5.11.05
Igreja?
Você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e nem a morte poderá vencê-la.
Mateus 16. 18
Quero fazer uma confissão: ando muito decepcionado, magoado e desanimado com a igreja. Se podemos fazer um corte didático, separando entre a Igreja e as igrejas, quero esclarecer que minha decepção é com a última – aquela que escrevemos com o “i” minúsculo. Estou decepcionado e desanimado com as nossas instituições eclesiásticas. E isso tem perturbado toda a minha vida. A igreja, que deveria ser a comunhão dos santos, fonte de restauração para o cansaço da nossa vida, se tornou, pelo menos no meu caso, um lugar de desestímulo. Desde que ouvi – como já partilhei nesse espaço – que uma liderança de minha igreja disse que não se importava se eu iria me tornar “co-pastor” em uma outra igreja – eu não iria mais pregar ou ensinar ali. Ele, em outras palavras, me convidou para deixar a igreja. Isso, percebi esta semana, me magoou. Não tenho ânimo para freqüentar os encontros de minha igreja – que para mim deixou de ser comunhão dos santos. Mas tenho ido porque essa tem sido a vontade expressa de Deus para a minha vida.
Tenho me decepcionado com o mundanismo que tomou posse da igreja. As pessoas procuram mundanismo nas músicas que são ouvidas, nas palavras que são ditas, nas roupas que são vestidas, em usos e costumes que são endossados ou abolidos. Para mim, o maior indício de mundanismo presente em nossas igrejas se dá no nível das relações de poder. A Bíblia não tem sido mais – será que foi um dia? – o padrão para as relações entre lideranças e liderados em nossas instituições. A política que temos vivido reproduz as formas de governo e mando do mundo lá fora. As palavras que são pregadas, as teses que são defendidas, as decisões que são tomadas, estão eivadas da ideologia dos governos mundanos. A maior prova de mundanismo para mim é usar os padrões de relações do mundo. E os padrões aparecem com mais nitidez quando, para defender a manutenção da ordem e da autoridade dos líderes, suas decisões prezam mais pela imagem do que pela justiça. Em nome de coerências, cassam-se vozes. E a primeira voz cassada é a de Jesus: Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles e mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva aos outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente (Mc. 10. 42 – 45). A crise da igreja é a crise de surdos que não sabem mais ouvir as palavras de Jesus sobre como deve ser a relação entre líderes e liderados.
Ter constatado ao longo dos anos que a instituição tem muito de igreja e pouco da Igreja sugou minhas forças. Dois anos atrás, passei experiência semelhante, mas minha fidelidade ao Senhor da Igreja me sustentou. Mesmo que tenha ido muito perto da porta de saída da Igreja. Dessa vez, eu fui perto da porta de saída da igreja. Na Igreja, pela graça do Senhor, eu sei que estou firmemente seguro pelas mãos do Mestre. Na igreja, eu só estou porque Ele é quem manda. Até da parte da liderança já fui instigado a sair.
Enquanto as igrejas podem ir mal, a Igreja do Senhor jamais vai. Você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e nem a morte poderá vencê-la. Firmada sobre a certeza do Senhorio de Cristo e sob o Seu poder, nem a morte, nem o inferno, nem qualquer principado ou potestade pode roubar um pingo que seja de sua vitalidade. Podemos ver igrejas indo mal, mas jamais ouviremos falar da Igreja sem vida, porque a sua vida é o Senhor.
Essa Igreja é a comunhão dos santos, é o Corpo das testemunhas fiéis, dos mártires, dos bem-aventurados que têm fome e sede de justiça, que pertencem a Deus. É essa Igreja que se ajuda mutuamente e cresce junto, perfeitamente ajustada, até a maturidade de Cristo Jesus. É esta Igreja que se espalha pelos quatro cantos da terra, levada pelo Vento do Espírito, tornando conhecida em toda a glória do Senhor que se revela em Jesus. Esta Igreja vai bem e permanecerá para sempre. As igrejas têm um ciclo de nascimento e morte. Elas passaram. São abaladas pelas crises. Podem até morrer, sem que isso seja prejuízo para o Reino ou para a Igreja.
Estou desanimado com as igrejas – com a minha igreja. Jamais com a Igreja. O culto da Igreja, a vida da Igreja, a comunhão da Igreja, o testemunho da Igreja, a pregação da Igreja e a ação da Igreja continuam vivos, continuam firmes, continuam impactando vidas. A Igreja continua sendo agência do Reino, plena do Espírito. Quando quero encontrá-la, vou a igrejas, abro meu coração diante do Pai, e O louvo e sirvo com amor. Apesar de mim e das igrejas.
Mateus 16. 18
Quero fazer uma confissão: ando muito decepcionado, magoado e desanimado com a igreja. Se podemos fazer um corte didático, separando entre a Igreja e as igrejas, quero esclarecer que minha decepção é com a última – aquela que escrevemos com o “i” minúsculo. Estou decepcionado e desanimado com as nossas instituições eclesiásticas. E isso tem perturbado toda a minha vida. A igreja, que deveria ser a comunhão dos santos, fonte de restauração para o cansaço da nossa vida, se tornou, pelo menos no meu caso, um lugar de desestímulo. Desde que ouvi – como já partilhei nesse espaço – que uma liderança de minha igreja disse que não se importava se eu iria me tornar “co-pastor” em uma outra igreja – eu não iria mais pregar ou ensinar ali. Ele, em outras palavras, me convidou para deixar a igreja. Isso, percebi esta semana, me magoou. Não tenho ânimo para freqüentar os encontros de minha igreja – que para mim deixou de ser comunhão dos santos. Mas tenho ido porque essa tem sido a vontade expressa de Deus para a minha vida.
Tenho me decepcionado com o mundanismo que tomou posse da igreja. As pessoas procuram mundanismo nas músicas que são ouvidas, nas palavras que são ditas, nas roupas que são vestidas, em usos e costumes que são endossados ou abolidos. Para mim, o maior indício de mundanismo presente em nossas igrejas se dá no nível das relações de poder. A Bíblia não tem sido mais – será que foi um dia? – o padrão para as relações entre lideranças e liderados em nossas instituições. A política que temos vivido reproduz as formas de governo e mando do mundo lá fora. As palavras que são pregadas, as teses que são defendidas, as decisões que são tomadas, estão eivadas da ideologia dos governos mundanos. A maior prova de mundanismo para mim é usar os padrões de relações do mundo. E os padrões aparecem com mais nitidez quando, para defender a manutenção da ordem e da autoridade dos líderes, suas decisões prezam mais pela imagem do que pela justiça. Em nome de coerências, cassam-se vozes. E a primeira voz cassada é a de Jesus: Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles e mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva aos outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente (Mc. 10. 42 – 45). A crise da igreja é a crise de surdos que não sabem mais ouvir as palavras de Jesus sobre como deve ser a relação entre líderes e liderados.
Ter constatado ao longo dos anos que a instituição tem muito de igreja e pouco da Igreja sugou minhas forças. Dois anos atrás, passei experiência semelhante, mas minha fidelidade ao Senhor da Igreja me sustentou. Mesmo que tenha ido muito perto da porta de saída da Igreja. Dessa vez, eu fui perto da porta de saída da igreja. Na Igreja, pela graça do Senhor, eu sei que estou firmemente seguro pelas mãos do Mestre. Na igreja, eu só estou porque Ele é quem manda. Até da parte da liderança já fui instigado a sair.
Enquanto as igrejas podem ir mal, a Igreja do Senhor jamais vai. Você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e nem a morte poderá vencê-la. Firmada sobre a certeza do Senhorio de Cristo e sob o Seu poder, nem a morte, nem o inferno, nem qualquer principado ou potestade pode roubar um pingo que seja de sua vitalidade. Podemos ver igrejas indo mal, mas jamais ouviremos falar da Igreja sem vida, porque a sua vida é o Senhor.
Essa Igreja é a comunhão dos santos, é o Corpo das testemunhas fiéis, dos mártires, dos bem-aventurados que têm fome e sede de justiça, que pertencem a Deus. É essa Igreja que se ajuda mutuamente e cresce junto, perfeitamente ajustada, até a maturidade de Cristo Jesus. É esta Igreja que se espalha pelos quatro cantos da terra, levada pelo Vento do Espírito, tornando conhecida em toda a glória do Senhor que se revela em Jesus. Esta Igreja vai bem e permanecerá para sempre. As igrejas têm um ciclo de nascimento e morte. Elas passaram. São abaladas pelas crises. Podem até morrer, sem que isso seja prejuízo para o Reino ou para a Igreja.
Estou desanimado com as igrejas – com a minha igreja. Jamais com a Igreja. O culto da Igreja, a vida da Igreja, a comunhão da Igreja, o testemunho da Igreja, a pregação da Igreja e a ação da Igreja continuam vivos, continuam firmes, continuam impactando vidas. A Igreja continua sendo agência do Reino, plena do Espírito. Quando quero encontrá-la, vou a igrejas, abro meu coração diante do Pai, e O louvo e sirvo com amor. Apesar de mim e das igrejas.
4.11.05
Ortodoxia?
Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés. Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam.
Mateus 23. 2 – 3
Terminei minha devocional hoje me sentindo profundamente apaixonado. Queria gritar, porque meu coração parecia que ia explodir dentro do meu peito. Era uma mistura de prazer, de fome, de sede, de alegria, de entusiasmo, de quase êxtase. Fazia tempo que não me sentia assim e já sentia falta. Fazia tempo que tentava reencontrar essa experiência, esse sentimento, quase perdido. Achei que não mais o acharia. Pensei que estava condenado a uma religião intelectual pelo resto de meus dias. Mas o Senhor me mostrou que não.
Tudo o que não precisamos é de uma experiência religiosa restrita a aspectos intelectuais, racionais, tão somente. Vida religiosa com ortodoxia e perfeitamente cabível dentro de um sistema intelectual era aquela que viviam os fariseus. E que fez com que eles fossem condenados pelas palavras do Senhor Jesus. Porque vida restrita ao intelecto não muda a vida, não é de verdade vida. Para que uma verdade transforme a nossa existência ela precisa ser plenamente experimentada por nossos sentimentos e emoções. Vida com Jesus é uma experiência de fé e relacionamento, não uma confissão teológica.
Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés. Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam. Os que têm uma vida religiosa ortodoxa dessa maneira são aqueles que podem ser reconhecidos pelo preciosismo e correção de sua teologia e ensino, mas o vazio de sua espiritual. A confissão mais correta dos lábios não corresponde a uma vida profunda com o Senhor.
Uma parte da crise da Igreja atual é essa. Se de um lado da crise temos um contingente de fiéis que privilegiam a experiência e esquecem de fundamentá-la em termos bíblicos – assim dando espaço para que surjam absurdos os mais diversos –, do outro aparecem as melhores teologias vazias de conteúdo. Latas vazias que podem fazer muita zoada, mas trazer pouca mensagem. Tanto de um lado, quanto do outro.
O que não precisamos é de uma religião que, institucionalizada, se importa mais com a preservação de regras e teologias corretas e coerente do que com a vivência de uma fé plena do poder derivado da comunhão íntima com o Pai. Uma parcela de culpa dessa crise que vivemos é nossa, protestantes históricos, que temos privilegiado tão somente a fé intelectualizada e o princípio de correção de valores, em detrimento de uma fé realmente viva que possa trazer transformação. Teologias corretas são conservativas. A transformação do mundo, missão da igreja e dos discípulos de Cristo, só pode acontecer se for conduzida por uma legião de corações apaixonados que experimentam a vida com o Senhor todos os dias, todos os instantes.
Não precisamos de mais intelectuais. Não precisamos de mais dogmática. Precisamos de corações dispostos a se entregar, por inteiro e apaixonadamente, ao Senhor Jesus, alimentando dia a dia um relacionamento íntimo e pessoal – pela fome, pela sede, pelo prazer, pela alegria, pelo êxtase de se ver na presença do Deus vivo.
Mateus 23. 2 – 3
Terminei minha devocional hoje me sentindo profundamente apaixonado. Queria gritar, porque meu coração parecia que ia explodir dentro do meu peito. Era uma mistura de prazer, de fome, de sede, de alegria, de entusiasmo, de quase êxtase. Fazia tempo que não me sentia assim e já sentia falta. Fazia tempo que tentava reencontrar essa experiência, esse sentimento, quase perdido. Achei que não mais o acharia. Pensei que estava condenado a uma religião intelectual pelo resto de meus dias. Mas o Senhor me mostrou que não.
Tudo o que não precisamos é de uma experiência religiosa restrita a aspectos intelectuais, racionais, tão somente. Vida religiosa com ortodoxia e perfeitamente cabível dentro de um sistema intelectual era aquela que viviam os fariseus. E que fez com que eles fossem condenados pelas palavras do Senhor Jesus. Porque vida restrita ao intelecto não muda a vida, não é de verdade vida. Para que uma verdade transforme a nossa existência ela precisa ser plenamente experimentada por nossos sentimentos e emoções. Vida com Jesus é uma experiência de fé e relacionamento, não uma confissão teológica.
Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés. Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam. Os que têm uma vida religiosa ortodoxa dessa maneira são aqueles que podem ser reconhecidos pelo preciosismo e correção de sua teologia e ensino, mas o vazio de sua espiritual. A confissão mais correta dos lábios não corresponde a uma vida profunda com o Senhor.
Uma parte da crise da Igreja atual é essa. Se de um lado da crise temos um contingente de fiéis que privilegiam a experiência e esquecem de fundamentá-la em termos bíblicos – assim dando espaço para que surjam absurdos os mais diversos –, do outro aparecem as melhores teologias vazias de conteúdo. Latas vazias que podem fazer muita zoada, mas trazer pouca mensagem. Tanto de um lado, quanto do outro.
O que não precisamos é de uma religião que, institucionalizada, se importa mais com a preservação de regras e teologias corretas e coerente do que com a vivência de uma fé plena do poder derivado da comunhão íntima com o Pai. Uma parcela de culpa dessa crise que vivemos é nossa, protestantes históricos, que temos privilegiado tão somente a fé intelectualizada e o princípio de correção de valores, em detrimento de uma fé realmente viva que possa trazer transformação. Teologias corretas são conservativas. A transformação do mundo, missão da igreja e dos discípulos de Cristo, só pode acontecer se for conduzida por uma legião de corações apaixonados que experimentam a vida com o Senhor todos os dias, todos os instantes.
Não precisamos de mais intelectuais. Não precisamos de mais dogmática. Precisamos de corações dispostos a se entregar, por inteiro e apaixonadamente, ao Senhor Jesus, alimentando dia a dia um relacionamento íntimo e pessoal – pela fome, pela sede, pelo prazer, pela alegria, pelo êxtase de se ver na presença do Deus vivo.
Temos propósito?
O que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam. Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo.
1 Coríntios 2. 9 – 10
Andava pela praça de alimentação de um shopping e comecei a pensar nas pessoas à minha volta. Na verdade, uma pergunta me veio à mente: será que cada uma dessas pessoas – que eu nunca vi antes e, provavelmente, não verei depois – tem alguma noção do propósito de sua existência? Em outras palavras, eu me perguntava se temos vivido as nossas vidas motivados por algum propósito em particular ou se vivemos de qualquer maneira. Será que temos propósito em viver? Seremos conscientes dele?
Muita gente busca razões para viver. Alguns cativam sonhos românticos e põem neles os motivos para existirem e se manterem existindo. Alguns transformam sua existência no desejo de terem sucesso ou fazerem dinheiro. Outros, de maneira mais nobre, dedicam suas vidas em assistir os mais necessitados; fazem da caridade sua razão de viver. Mas tenho a impressão que a maior parte de nós vivemos sem refletir, um pouco que seja, na razão de nossa existência. Somos levados a roldão pelos acontecimentos da vida. Nem temos controle, nem temos compreensão, nem temos sequer vontade de fazermos e agirmos de forma diferente.
Mais tarde, refletindo sobre isso e pensando no texto bíblico, enquanto dava aula no Centro de Treinamento Missionário, me lembrei que só há uma coisa que pode nos dar e nos fazer entender o propósito fundamental de nossa vida, o único propósito, que é viver para o Senhor. A gente só pode vir a descobrir isso se for por meio de uma experiência de conhecimento pessoal com Deus, na Pessoa de Cristo. Para alguns, Deus é um conceito e o conhecimento de Deus se resume a uma questão intelectual, resumida na capacidade de falar umas palavras e ler um livro. Mas os que realmente experimentam o conhecimento de Jesus e Seu reino entendem fácil que – ainda que aquelas coisas façam parte do bolo – andar com o Pai e conhecê-Lo é muito mais uma experiência mística e pessoal. Vida com Jesus é relacionamento muito mais que intelectualidade, porque o conhecimento intelectual sem o relacionamento pessoal não significa nada, não traz significado nem propósito para a vida.
O que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam. Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo. Na aula, falávamos sobre a realidade do Reino de Deus manifesto em Cristo e cabível de ser experimentado pelo ser humano. Esse Reino traz em si a contradição do já-presente mais ainda-não-consumado. O Reino já está presente, ainda que não se manifeste em plenitude. Mas ele já é experimentado por aquele que entra em relacionamento com o Senhor, porque o Espírito vem a esse crente, habita em seu coração para estabelecer esse relacionamento. E esse relacionamento que traz o Reino para o nível do já-presente em nossas vidas. Já-presente, ele nos conduz a experimentar as riquezas das bênçãos do Senhor, a conhecer a grandeza daquilo que já recebemos nas regiões celestes. O prazer que temos de andar na presença do Senhor é algo de extremamente inefável para o homem. Só podemos, exultantes de alegria – incapazes de palavras –, celebrar a bênção e a riqueza do Reino em nós.
É disso que fala o texto de Coríntios. O Reino já está presente, ainda que ainda-não em plenitude. Mas podemos experimentar o que já temos e ainda vamos ter por meio do Espírito que habita em nós e enche a nossa vida. O que ninguém jamais viu ou compreendeu e é reservado para aqueles que conhecem a Deus – e essa parte a gente nunca presta atenção – não é um segredo inalcançável para nós. Pelo contrário: já começamos a experimentar no nosso dia a dia com o Pai e o Espírito já nos revelou esse segredo: Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo.
Esse segredo é o que faz diferença entre uma vida que tem propósito e é consciente dele de uma vida que é levada a roldão. Isso significa que mesmo aqueles que correm em busca de um propósito, por mais nobre que ele seja, não tem qualquer propósito real na vida nem faz qualquer coisa de relevante enquanto não descobrir que a vida de verdade é vivida na dimensão do Reino. Reino que já veio em Jesus, que ainda se consumará depois desse tempo, mas que já pode ser experimentado – o que muda a nossa vida – no dia a dia de quem investe em conhecer e a andar na dimensão do Espírito que habita em nós e se relaciona conosco.
1 Coríntios 2. 9 – 10
Andava pela praça de alimentação de um shopping e comecei a pensar nas pessoas à minha volta. Na verdade, uma pergunta me veio à mente: será que cada uma dessas pessoas – que eu nunca vi antes e, provavelmente, não verei depois – tem alguma noção do propósito de sua existência? Em outras palavras, eu me perguntava se temos vivido as nossas vidas motivados por algum propósito em particular ou se vivemos de qualquer maneira. Será que temos propósito em viver? Seremos conscientes dele?
Muita gente busca razões para viver. Alguns cativam sonhos românticos e põem neles os motivos para existirem e se manterem existindo. Alguns transformam sua existência no desejo de terem sucesso ou fazerem dinheiro. Outros, de maneira mais nobre, dedicam suas vidas em assistir os mais necessitados; fazem da caridade sua razão de viver. Mas tenho a impressão que a maior parte de nós vivemos sem refletir, um pouco que seja, na razão de nossa existência. Somos levados a roldão pelos acontecimentos da vida. Nem temos controle, nem temos compreensão, nem temos sequer vontade de fazermos e agirmos de forma diferente.
Mais tarde, refletindo sobre isso e pensando no texto bíblico, enquanto dava aula no Centro de Treinamento Missionário, me lembrei que só há uma coisa que pode nos dar e nos fazer entender o propósito fundamental de nossa vida, o único propósito, que é viver para o Senhor. A gente só pode vir a descobrir isso se for por meio de uma experiência de conhecimento pessoal com Deus, na Pessoa de Cristo. Para alguns, Deus é um conceito e o conhecimento de Deus se resume a uma questão intelectual, resumida na capacidade de falar umas palavras e ler um livro. Mas os que realmente experimentam o conhecimento de Jesus e Seu reino entendem fácil que – ainda que aquelas coisas façam parte do bolo – andar com o Pai e conhecê-Lo é muito mais uma experiência mística e pessoal. Vida com Jesus é relacionamento muito mais que intelectualidade, porque o conhecimento intelectual sem o relacionamento pessoal não significa nada, não traz significado nem propósito para a vida.
O que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam. Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo. Na aula, falávamos sobre a realidade do Reino de Deus manifesto em Cristo e cabível de ser experimentado pelo ser humano. Esse Reino traz em si a contradição do já-presente mais ainda-não-consumado. O Reino já está presente, ainda que não se manifeste em plenitude. Mas ele já é experimentado por aquele que entra em relacionamento com o Senhor, porque o Espírito vem a esse crente, habita em seu coração para estabelecer esse relacionamento. E esse relacionamento que traz o Reino para o nível do já-presente em nossas vidas. Já-presente, ele nos conduz a experimentar as riquezas das bênçãos do Senhor, a conhecer a grandeza daquilo que já recebemos nas regiões celestes. O prazer que temos de andar na presença do Senhor é algo de extremamente inefável para o homem. Só podemos, exultantes de alegria – incapazes de palavras –, celebrar a bênção e a riqueza do Reino em nós.
É disso que fala o texto de Coríntios. O Reino já está presente, ainda que ainda-não em plenitude. Mas podemos experimentar o que já temos e ainda vamos ter por meio do Espírito que habita em nós e enche a nossa vida. O que ninguém jamais viu ou compreendeu e é reservado para aqueles que conhecem a Deus – e essa parte a gente nunca presta atenção – não é um segredo inalcançável para nós. Pelo contrário: já começamos a experimentar no nosso dia a dia com o Pai e o Espírito já nos revelou esse segredo: Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo.
Esse segredo é o que faz diferença entre uma vida que tem propósito e é consciente dele de uma vida que é levada a roldão. Isso significa que mesmo aqueles que correm em busca de um propósito, por mais nobre que ele seja, não tem qualquer propósito real na vida nem faz qualquer coisa de relevante enquanto não descobrir que a vida de verdade é vivida na dimensão do Reino. Reino que já veio em Jesus, que ainda se consumará depois desse tempo, mas que já pode ser experimentado – o que muda a nossa vida – no dia a dia de quem investe em conhecer e a andar na dimensão do Espírito que habita em nós e se relaciona conosco.
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